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um plano banal, mas ao menos era algo. Sim, Connelly não a queria no caso, mas o que os olhos não veem, o coração não sente.

      Avery olhou seu telefone e viu que, de algum modo, já passava da meia noite. Com um suspiro profundo, ela juntou os arquivos em uma pilha e colocou-os na mesa de Ramirez. Quando tirou a roupa para ir para a cama, o fez devagar, relembrando a última vez em que estivera naquela cama tirando a roupa.

      Quando deitou, decidiu deixar a luz acesa. Ela não acreditava em atividade paranormal, mas sentiu... algo. Por um breve momento, pensou que podia sentir Ramirez no quarto, com ela, a olhando enquanto flutuava, em algum lugar, entre a vida e a morte.

      E mesmo sabendo que aquilo não era possível, Avery não quis encarar a escuridão. A luz, então, ficou acesa, e ela tratou de pegar no sono rapidamente.

      CAPÍTULO SETE

      Sem nenhum recurso da polícia, Avery tinha que contar apenas com as ferramentas básicas de qualquer um no planeta. Então, depois de uma xícara de café e algumas torradas que encontrara na dispensa de Ramirez, abriu o Google e começou a trabalhar. Por conta dos arquivos dos casos que havia trazido consigo, Avery já sabia o nome de três professores que haviam trabalhado próximos a Howard durante seu tempo em Harvard. Um deles havia morrido no ano anterior, deixando-a com apenas duas fontes em potencial. Ela digitou os nomes no Google, procurou as páginas de Departamento e Equipe, e salvou os números em se telefone.

      Enquanto trabalhava, Rose foi até a cozinha. Ela fez ruídos exagerados enquanto caminhava na direção da cafeteira.

      - Café. Bom.

      - Dormiu bem? – Avery perguntou.

      - Muito mal. E cara... são sete da manhã e você não está oficialmente trabalhando. Então o que você está fazendo acordada?

      Avery encolheu os ombros.

      - Não oficialmente trabalhando, eu acho.

      - Não vai arranjar problema com seu chefe?

      - Não se ele não descobrir. Falando nisso... Vou sair um pouco hoje. Posso te deixar em algum lugar?

      - No meu apartamento – Rose disse. – Se eu vou ficar trancada com você mais alguns dias na casa de outra pessoa, eu gostaria de pegar algumas roupas e uma escova de dentes.

      Avery considerou o pedido por um momento. Ela sabia que Sawyer e Dennison ainda estavam lá fora, e logo seriam substituídos por outra dupla. Eles provavelmente estavam trabalhando em turnos de doze horas. Eles a seguiriam em qualquer lugar, para ter certeza de que as duas seguiam seguras. E isso poderia atrapalhar tudo. Mas Avery já tinha um plano na cabeça.

      - Ei, Rose, onde seu carro está estacionado?

      - A uma quadra do seu apartamento.

      Como ela imaginava. Sawyer e Dennison automaticamente avisariam O’Malley ou Connelly se ela voltasse para seu apartamento. Mas, talvez, se ela misturasse as coisas e fosse para outro lugar, seria mais fácil.

      - Ok – Avery disse. – Vamos voltar para o seu apartamento. Tenho que fazer uma ligação muito rápida e depois vou ver se Sawyer e Dennison podem nos levar até a sua casa.

      - Ok – Rose disse, obviamente sem confiar no plano—como se já tivesse percebido que havia algo de desonesto nele.

      Antes de ligar para Sawyer e Dennison, pedindo uma carona como se estivesse obedecendo as ordens e ficando segura, Avery ligou para uma companhia de táxi e pediu que o motorista a buscasse nos fundos do prédio de Rose em meia hora.

      ***

      Tudo fora muito fácil. E não porque Sawyer e Dennison não eram bons policiais. Eles simplesmente não imaginavam que Avery iria querer ser desobediente. Do jeito que armou seu plano, ela havia matado dois coelhos com uma cajadada. Fugindo pelos fundos do prédio de Rose sem ser vista, ela teria algumas horas de liberdade para fazer o que quisesse sem medo do que Connelly pensaria, enquanto Rose ainda estaria sob vigilância da polícia. Eram duas vitórias. O fato de ela ter pedido que eles as levassem para o apartamento de Rose fora a cereja do bolo.

      O táxi a deixou do lado de fora do campus de Harvard logo depois das nove. No banco de trás, Avery havia ligado para os dois professores, Henry Osborne e Diana Carver. Osborne não havia atendido, mas ela havia conseguido falar com Carver, que conseguira um tempo às dez para conversar com ela. Pesquisando mais um pouco no site de Harvard, Black conseguira o endereço e as horas livres do escritório de Osborne. Ela decidiu tentar encontra-lo na hora que ainda tinha livre antes de se encontrar com Carver.

      Enquanto caminhava pelo campus, ocasionalmente olhando o mapa do mesmo no celular, Avery tirou alguns momentos para apreciar a arquitetura. A maioria das pessoas em Boston era muito acostumada à universidade, e por isso acabava esquecendo de toda a história do lugar. Avery podia vê-la na maioria dos prédios, bem como na atmosfera histórica do lugar—o gramado perfeito, os tijolos, árvores e marcos antigos.

      Ela focou em tudo isso quando chegou ao prédio de Estudos Filosóficos. Henry Osborne era instrutor na escola de filosofia, especializado em Ética Aplicada e Filosofia da Linguagem. Quando entrou no prédio, Avery viu alguns estudantes apressados, aparentemente atrasados para as aulas das nove.

      De acordo com a programação de Osborne, ele não teria aula até as 9:45 e deveria estar disponível em seu escritório até lá. Ela encontrou o escritório no final do segundo corredor de onde veio. A porta estava entreaberta e, quando olhou dentro, Avery viu um homem idoso sentado à frente de uma mesa, mexendo em alguns papeis.

      Ela bateu levemente na porta e deu um passo adentro.

      - Professor Osborne?

      Ele olhou com um sorriso incerto. Quando percebeu que a mulher parada em sua porta provavelmente não era uma aluna, levantou-se e disse:

      - Sim? Posso ajudar?

      - Eu tentei ligar mais cedo, mas ninguém atendeu – Avery explicou.

      - Sim, acho que eu estava com um aluno quando meu telefone tocou mais cedo. Mas então... O que eu posso fazer por você?

      Avery colocou a mão no bolso do casaco e puxou seu distintivo.

      - Sou a Detetive Avery Black, da polícia de Boston. Esperava que você pudesse ter alguns minutos para falar comigo sobre seus encontros com Howard Randall quando ele era professor aqui.

      Osborne respirou exageradamente fundo, se afastando de sua mesa, frustrado.

      - De jeito nenhum – ele disse. – Não tenho mais nada para dizer sobre aquele homem. Eu disse tudo o que precisava quando ele estava sendo julgado.

      Avery tentou se lembrar do rosto de Osborne, imaginando se ele estivera em algum momento no primeiro julgamento de Howard... quando ela o libertara. Não conseguiu se lembrar, ainda que algo no rosto dele fosse familiar.

      - Eu entendo – ela disse. – Mas como você sabe, ele escapou da prisão. E nós do A1 acreditamos que podem ter acontecido algumas coisas que podem significar que ele estaria pensando em fazer algo de novo.

      - Isso é triste – Osborne disse. – Mas eu não vou oferecer mais nenhum minuto do meu tempo para esses horrores.

      - Mas Professor Osborne—

      - Não sei se tem outro jeito de dizer isso – Osborne irritou-se. – Você não vai ter nenhum segundo do meu tempo para falar sobre ele!

      Avery quase respondeu com: Talvez você vai querer falar mais quando mais alguma garota aparecer morta. Mas ela se manteve quieta, aceitando. Se ele não queria falar, era direito dele.

      - Obrigada – ela disse ao sair pela porta em direção ao corredor.

      Ela quase se esquecera de quanto o caso de Howard Randall havia mexido com as pessoas em volta dele—colegas de trabalho, sua família distante e até alguns dos jurados na corte quando ele admitira os

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