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vai cair em peccado,

      Fica todo aforçurado

      E como que inspirado,

      Vai buscar muito apressado

      D'agua benta seis canadas

      E nos demos imponente

      Ferra boas hysopadas.

      Estoira que nem castanhas

      Toda aquella diabada,

      Cada demo dá um tiro

      Que nem uma peça raiada;

      E fugindo a bom fugir

      Tudo vai em debandada,

      Santo Antonio de contente

      Dá tamanha gargalhada

      Que até no traseiro sente

      A fralda toda cagada.

      «Se não vou buscar

      Logo tão depressa

      A tal agua benta,

      De certo me tenta

      Aquella travêssa…

      Olhem que é ladina,

      Mesmo de tentar,

      A tal Prosepina!

      Mal empregado pexão

      Para o dente do Plutão!»

      Lamenta tão pesaroso

      A má sorte da pequena

      O famoso Santo Antonio,

      Que parece já ter pena

      De se mostrar tão teimoso

      Em resistir ao demonio…

      O MARIDO E O COMETA

      DIALOGO CONJUGAL

      Era uma vez um marido, anno da graça 1861, mas um marido verdadeiro modelo de todos os maridos. Chamava-se o sr. Carneiro; seu hymeneu fôra devidamente legalisado e recebera as bençãos da egreja. Era pois esposo, tanto quanto se póde ser, legal, social, religiosa, e christãmente, da amavel, bonita e joven Amelia, a quem se ligára com o intuito de perpetuar a raça dos Carneiros, fim este que infelizmente ainda não alcançára, apesar da lua de mel ter já o seu anno e meio, e este gasto nas fadigas e diligencias de que um marido póde dispôr para multiplicar a sua raça. O sr. Carneiro emagrecia a olhos vistos, e estafava-se em vão. O nosso homem era um modelo de bondade e simplicidade; era bom e affavel e manso, não como Carneiro que era, mas como um borrego; nunca fizera mal a pessoa alguma, e ninguem tambem no mundo podia dizer a mais pequena coisa em seu desabono. Com taes e quejandos titulos á estima de seus concidadãos, o sr. Carneiro tinha conseguido tornar-se um dos maridos mais felizes do seu bairro, que era o Alto.

      Mas o homem nunca está satisfeito sobre a face da terra: o sr. Carneiro era homem, e por conseguinte tinha aspirações. O seu ideal era a vida bucolica, amava a chicoria e o feno, adorava os rabanetes, e sonhava pastoras e zagallos; não podia viver na capital. Suspirava constantemente pelo chocalho campestre, pelas felicidades ruraes, e a sua paixão pelo campo não podia achar lenitivo nos esgalhos do Rocio, nas ervas do Passeio Publico, nas couves da praça da Figueira.

      Por fim os seus sonhos tiveram uma realidade, comprou uma quinta na aldea de Pae Pires, e transferiu para alli os seus penates. Alli, n'uma habitação modesta, no declive de um serro, vendo ao longe o Tejo e as suas faluas, passava o sr. Carneiro uma vida santa, junto de madama Carneira, como elle lhe chamava, cultivando as suas cebollas, regando a sua horta, capando o seu meloal.

      Ali fazia admirar á sua cara metade a grossura dos seus pepinos ou a côr rubicunda dos seus tomates.

      –-Vês, menina, lhe dizia, como está lindo este meu pepino; olha para esta perfeição, parece que d'hontem para hoje cresceu meio palmo. Repara-me para a belleza d'estes tomates! que côr e que tamanho…

      –-É verdade, cada dia estão mais vermelhos…

      –-E este melão?

      –-Cresce a olhos vistos, como já está redondinho!

      –-Ah! filha! não é como tu, segue a lei da naturesa; tudo cresce e se arredonda cá n'este mundo… só tu, meu anjinho… apesar das minhas diligencias, persistes em não arredondar essa…

      –-Que bonitas estão as batatas.

      –-Eu sempre as tive boas.

      –-E que bellos grãos de bico!

      –-Os grãos são o meu forte…

      –-Como a vinha vae arrebentando…

      –-Tudo arrebenta e produz… só tu não me produzes nada… (dá um profundo suspiro).

      –-Que animal é aquelle que está bebendo além, no rio?

      –-Julgo que é um burro, queridinha.

      –-Engana-se, é boi, senhor Carneiro.

      –-Boi, boi! será… mas não lhe vejo as armas…

      –-Jesus! que bicho tão feio que eu ia pisando! Mate-me este bicho, sr. Carneiro… que nojo!

      –-Ah! ah! ah! Ora não ha uma tolinha assim! um caracol, pois mette-te medo um caracol?

      –-Olhe, só os paus que elle tem; t'arrenego! não se veem senão animaes bicorneos por estes sitios… eu que sempre embirrei com estes bichos!

      –-Não te zanques commigo, menina… isto é o animal mais innocente que eu conheço…

      –-Que quer? não está mais na minha mão; diga lá o que disser, n'este ponto não posso vencer a minha repugnancia…

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