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correr dinheiro dos cofres publicos para os particulares.

      ALEGRIA– Premio na loteria da vida.

      ALEXANDRINO– Verso: o elephante da poesia.

      – Homem: o pigmeu dos Alexandres.

      ALGIBEIRA (CHEIA) – Alma nova.

      – (VAZIA) Veia sem pinga de sangue.

      ALGODÃO– Materia prima da belleza plastica. Tranquillisae-vos, senhoras; todos fazemos de conta que não percebemos.

      ALIMENTICIOS (GENEROS) – Misturada infernal, em que todos os artigos teem drogas suspeitas. Ha de vir um tempo em que o consumidor, para se livrar de ser roubado e envenenado, com assentimento da auctoridade publica, terá de ir procurar a subsistencia nas origens de todos os generos. Mais claro: Para comer sem repugnancia e sem perigo, terá que imitar os quadrupedes, e, posto ao lado d'elles, pastar nos campos o trigo infantil e virgem de toda a combinação toxica. Concorrerá com os cães ás vinhas, e ahi se regalará com os puros cachos ideaes (estylo da idéa nova), isentos do mistiforio horrendo que mais tarde lhes mistura no sumo o taberneiro boçal, ou qualquer outro ladrão e assassino da mesma laia. Cortará o seu bife do boi vivo (á moda dos bemaventurados do paraizo scandinavo, que os comem de um javali sempre inteiro), e mamará com os vitellos seus collaços a manteiga e o queijo na fonte original da têta incorrupta (salvo o caso de ter bexiga, o que desde logo nos evitará a vaccina). Emfim, senhores tendeiros, merceeiros, commercieiros, taberneiros, leiteiros, açougueiros, peixeiros e mais varões da magna caterva dos envenenadores publicos (excepções honradas á parte, se ainda as ha), em chegando esse tempo, que os vossos abusos attrahem fatalmente, levar-vos-hão todos os diabos e ás vossas caranguejolas de chimica assassina, o que será de grande allivio para o resto da humanidade e de jubilo para este que vos admira como fluidos, e vos detesta como patifes, se acaso o sois, o que não é licito duvidar. Para esse tempo espero em Deus que a vossa raiva impotente vos faça rebentar como morteiros em arraial saloio. Amen.

      ALLOPATHIA– Antiga companhia de pompas funebres, furiosa por lhe terem creado concorrentes ao seu monopolio.

      ALMANACH– Pasteleiro sem môlho.

      ALVEITAR– Pobres bestas! Não poderem, ao menos como nós, dizer onde lhes doe, para que as matem em regra!..

      ALVEITARIA– Arte de estoirar brutos.

      ALVIELLA (RIO QUE HA DE TRAZER AGUA A LISBOA) – Um mytho.

      AMA– Caricatura da maternidade.

      AMABILIDADE– Virtude dos ministros que promettem sem tenção de cumprir.

      – Chave de abrir corações.

      AMADORES (DE TOURADAS) – Membros das sociedades protectoras dos animaes.

      – (DE BELLAS ARTES) Entes inoffensivos, que os artistas fingem tomar a serio para que lhes comprem as obras.

      – (DE ANTIGUIDADES) Victimas felizes da industria moderna.

      – (DA BELLEZA FEMININA) Idealistas.

      – (DE THEATRO) Estomagos de bronze, que digerem desde a lama do lupanar e o opio até o chavelho e o ferro velho.

      – (DE BOA MESA) São as pessoas mais rasoaveis, e assim mesmo se lhes impinge a miude gato por lebre.

      AMAR– Soffrer, desde a dor de cotovello até á colica do medo.

      – Preludio de bebedeira.

      AMARGURA– Rua que vae da cadeia ao tribunal.

      AMBIÇÃO– A nossa, é sempre nobre. A dos outros, baixa e vil.

      AMIGO– Inimigo domesticado.

      AMIGOS– Sujeitos de que é bom desconfiar para se não ser logrado.

      AMISADE– Pedra philosophal do janota.

      – Chapéu de chuva que se volta do avesso logo que ha mau tempo.

      AMOLAR– Passar a lingua sobre as manchas da reputação alheia, para as lavar, á maneira do gato.

      AMOR– Pedra preciosa, que se dava de graça, e por isso desappareceu ha muito tempo.

      – Jovens incautas, desconfiae das paixões a vintem a linha nos annuncios dos jornaes. Se os pretendentes serios falham tantas vezes, que esperaes dos que se vos apresentam a declamar prosa pifia e sem grammatica, entre o bacalhau frescal dos srs. Martins, e os chapéus da sr.ª D. Cecilia?

      ANALPHABETO– O mais feliz dos entes. Perdôem os partidistas da instrucção a todo o transe. Antes de se pensar na escola seria util dar pão aos que se pretendem obrigar a frequental-a. Crear-lhes, em vez disso, necessidades que traz a educação, sem lhes proporcionar os meios de as satisfazer, não é beneficial-os, é pervertel-os. Desculpem ss. ex.as a este pobre diabo, que apalpa com frequencia o positivismo da vida por falta de tempo e de pachorra para subir aos mundos ideaes. Peço-lhes, porém, que, antes de legislar, estudem um pouco o homem. As suas illustres pessoas são as que lhes ficam mais á mão. Consultem-se a si proprios, e digam se, conscios como devem ser dos seus merecimentos, os julgam convenientemente reconhecidos e remunerados pela sociedade. No caso de se acharem bem retribuidos, plenamente satisfeitos com a sua sorte, e convencidos de que não teem direito para aspirar a melhor estado, decretem a instrucção obrigatoria; e não só a primaria e secundaria, senão tambem a superior. Se, porém, julgam que a sua intelligencia, os seus talentos e estudos merecem mais alta consideração, os que pretendem educar virão tambem dentro em pouco a ter de si proprios igual opinião. E não tendo ss. ex.as meio de se melhorarem a si, como poderão satisfazer as necessidades que terão creado aos povos, a uma nação inteira? Não citem a Allemanha a proposito de tudo, porque já parece desproposito. A Allemanha, sobretudo a Prussia, onde todos sabem ler, não tem talvez um unico habitante contente com a sua sorte. Despeja-os aos milhares nos Estados Unidos, e como este paiz já rejeita emigrantes, procura no Brazil um ponto, onde caibam 500:000 de uma assentada!

      Este magno assumpto não é para aqui. Mas, repito, que será bom dar primeiro o pão aos que o não teem, e depois muito embora lhes dêem o ensino. Meus senhores, muito boa noite. Estou a caír com somno, e faço a vv. ex.as a justiça de acreditar que não terão menos do que eu, depois de lerem este artigo.

      ANARCHIA– Isso é com os sabios modernos.

      ANATOMIA– Arte de aprender a trinchar sem garfo.

      ANTECAMARA– Logar onde os que são mais lacaios não usam libré.

      ANTHROPOPHAGO– Agiota que faz muito negocio.

      ANZOL– Rapariga bonita.

      – Velha endinheirada.

      APAGADOR (PARLAMENTAR) – Coveiro da eloquencia.

      APITO– Grillo, que em vez de estar engaiolado, na maioria dos casos, leva outros para a gaiola.

      APOIO– Perguntem aos pobres ministros quanto lhes custa o de certas firmas…

      – Muletas de oiro.

      APOLLO– Improvisador do fado.

      APOLOGO– O alfaiate da verdade.

      APOPLEXIA (FULMINANTE) – Premio grande na loteria dos infelizes.

      – (PARCIAL) Primeiro aviso para o pagamento da contribuição… á morte.

      – Mandado de despejo sem aviso previo.

      APOSTASIA– Jogo da cabra cega.

      APPARENCIAS– O pudor da sociedade.

      – A primeira cousa que se deve salvar em todos

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