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aquilo não importaria um átimo. Era provável que William nunca a notaria, e era mais provável ainda que eles nunca se encontrassem, para início de conversa.

      – Acredito que seja verdade – concordou ele. – A guerra é uma desgraça. É uma pena que os altos-escalões não encontrem uma maneira melhor de resolver nossas diferenças. Mas aqui estamos nós… – Ele deu um sorriso tranquilo. – Não posso deixar de ficar feliz por ao menos uma coisa.

      – E o que seria? – perguntou, quase que com medo da resposta dele.

      – Ela me levou à senhorita.

      Ele era furtivo. Victoria lhe concederia isso. Devolveu o sorriso dele.

      – Acho que não posso argumentar contra a sua lógica. – Ela se recostou no assento e relaxou. – Então não desperdicemos essa oportunidade. Nunca teremos a oportunidade de nos conhecermos mais. Está disposto a se abrir para mim?

      – Se a senhorita demonstrar tal coragem, então quem sou eu para me acovardar. – Ele sorriu. – Faça o seu pior, querida.

      Eles conversaram por toda a viagem, como se se conhecessem a vida toda. William foi o primeiro homem que conheceu que a deixava confortável. Ficou triste ao pensar que, depois que chegassem à estação, eles seguiriam outros caminhos e nunca mais se veriam. Ansiava por algo mais que a vida banal que levava. Conhecer William tinha alterado sua perspectiva sobre muitas coisas. Animação e contentamento pareciam possíveis onde não havia nada mais que fantasias. Talvez estivesse sendo um pouco absurda, mas sentia como se pudesse ter algo mais agora. Talvez não com William, mas com outra pessoa… Embora, em seu coração, esperava que William ficasse em sua vida para sempre. Havia algo especial nele, algo ao qual queria se agarrar.

      Um mês depois…

      Uma carta foi entregue a Victoria, e ela mal conseguiu segurar a ânsia de abri-la. William tinha dito que escreveria quando pudesse, mas não tinha acreditado que ele fosse escrever. Agora que a carta chegou, estava com medo de lê-la. E se o homem de quem se lembrava não fosse o mesmo que se expressava na carta? E se ele não quisesse nada com ela e só tivesse escrito por pena?

      E se ele fosse tudo do que ela se lembrava?

      Victoria segurou a carta junto ao peito e foi até a tenda das enfermeiras. Ela se sentou lentamente e olhou o envelope. A mão tremia um pouco enquanto passava os dedos sobre o nome dela rabiscado no envelope.

      –  tem um namorado? – o forte sotaque irlandês de Aisling Walsh ecoou em volta de Victoria. Ela era uma jovem enfermeira com um brilhante cabelo vermelho e olhos verde-oliva. – O que que segurando você? Abre.

      Victoria não se deu ao trabalho de se aproximar das outras enfermeiras, mas Aisling pensava diferente. Ela se recusava a permitir que Victoria permanecesse distante e estava sempre falando com ela. Victoria nunca admitiria em voz alta, mas estava grata por Aisling. Estaria sozinha se não fosse por ela. Victoria passou os dedos pelo selo.

      – Eu não sei.

      – Não sabemos quantos dias ainda temos. Os dias são para serem vividos, para podermos achar qualquer tantinho de felicidade com que formos abençoadas. – Ela ergueu a mão e a colocou sobre a de Victoria. – Não a desperdice ignorando um presente, não importa o quanto ele seja pequeno. Leia o que o rapaz mandou para você.

      Respirando fundo, ela abriu o envelope e tirou a carta lá de dentro. Abriu as páginas dobradas e começou a ler.

      Victoria,

      Espero que esta carta a encontre gozando de boa saúde. Qualquer outro resultado é inaceitável. A guerra deixa cicatrizes na alma de um homem, na minha alma, e ter alguém como você na minha vida é um alento para a pior das minhas feridas. Faz apenas um mês, e é como se o tempo e a distância que nos separam fosse tremendo. Preciso vê-la de novo. Por favor, diga que concorda e encontrarei um jeito de chegar até você.

      Minha vida mudou irrevogavelmente desde o dia em que a conheci. Não sei como explicar de outra forma a não ser que não poderia esquecê-la mesmo se quisesse. Por favor, diga que sente o mesmo. Esperarei por você se for necessário, mas rezo para que não seja.

      Peço desculpas pela carta curta… se eu tivesse mais tempo, escreveria mais, mas, infelizmente, o perigo não permite tempo para a prosa poética. As notícias que vêm do front não nos dão muita esperança, então me absterei de compartilhar qualquer miséria. Saiba que você estará para sempre em meus pensamentos.

      Respeitosamente,

      William

      Victoria fechou os olhos e engoliu o nó que se formava em sua garganta. Queria vê-lo novamente. Deveria ceder e dizer a ele o quanto desejava aquilo?

      – Pelo sorriso em seu rosto, acho que essa foi uma carta boa – disse Aislinn.

      Ela levou a mão ao rosto. Victoria não percebeu que tinha cedido e sorrido. A felicidade era algo novo para ela. Não respondeu Aisling, mas foi até o baú e tirou todos os seus artigos de escrita. Depois de escrever algumas palavras apressadas, foi postar a carta. Esperava que William estivesse baseado no mesmo lugar. Às vezes os homens eram mudados de base durante a guerra, e levava semanas para que qualquer carta os encontrasse. Não pensaria demais no assunto. William queria vê-la mais uma vez. Era tudo o que importava naquele momento.

      CAPÍTULO DOIS

      Primavera de 1915

      A chuva torrencial caiu por horas a fio. A terra abaixo dos pés de Victoria Grant tinha virado lama. A cada passo seus pés afundavam no lodaçal e suas botas eram cobertas por imundície e sujeira. Estava farta de ficar com os pés molhados. A essa altura, podia muito bem estar em situação parecidas com a dos soldados com pé de trincheira. Ela se arrastava, tendo que dar passos largos para cruzar o terreno o mais rápido possível. Quando chegou à tenda onde ficava o hospital de campanha, ela puxou as abas e entrou.

      – Enfermeira Grant, venha aqui imediatamente. – Um médico fez sinal para ela. – Temos uma nova leva de pacientes, e eles não estão nada bem.

      Queria dizer ao homem que estava ciente da situação. Aquela era a única razão para ela ir para o hospital em vez de fazer o que precisava muito: dormir. Cada dia trazia novos desafios. Em breve o hospital estaria superlotado e eles não teriam onde colocar os pacientes.

      – Agora mesmo, doutor.

      Victoria amarrou um avental em volta do vestido. Era provável que aquilo fosse virar uma bagunça, e gostava de pelo menos tentar proteger suas roupas. Tinha muito pouco consigo, e não havia lojas ou costureiras por perto para poder repor qualquer peça. O médico estava com um homem na mesa de cirurgia e o pobrezinho tinha perdido a consciência. Talvez tenha sido para a melhor. Foi até o médico para poder auxiliá-lo.

      O homem tinha o cabelo castanho dourado tingido de sangue. Um lençol cobria grande parte do corpo dele. Não que fosse ter muitas indicações ao ver o corpo nu, mas algo nele a deixou curiosa. Ergueu o olhar e focou no rosto dele. Puxou o ar com força ao reconhecê-lo. William.

      Pensei que nunca o veria novamente, e com certeza esperava que não fosse vê-lo assim. Ele usava um uniforme francês. Aquilo era estranho. Trabalhou fervorosamente ao lado do médico para estacar a hemorragia. Depois de mais de uma hora de trabalho, finalmente terminaram, e o médico suturou o ferimento.

      William foi levado para uma cama. Felizmente, ainda tinham algumas disponíveis. Victoria tirou uns minutos para se lavar e voltar para o lado dele. O sono não viria enquanto estivesse aflita pela segurança dele. Teria William recebido a sua carta? Tinha estado angustiada desde que a enviara e, então, esperou uma eternidade pela resposta dele. Agora ali estava ele, ferido. Victoria se recusava a acreditar que a história deles terminaria assim. Ele veio a significar tanto para ela em tão pouco tempo… meros meses. O coração estava pesado dentro do peito enquanto segurava as lágrimas. Aquilo não ajudaria a nenhum dos dois, e recusava-se a se entregar a algo tão inútil.

      – Você

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