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ele perguntou.

      “Eu sou uma especialista em perfis criminais no Departamento da Polícia de Los Angeles.”

      Ela gostou de dizer isso em voz alta, especialmente quando ela viu os olhos dele se arregalarem em choque.

      “Como aquele programa de TV, Mindhunter?”

      “Sim, tipo isso. Eu ajudo a polícia a entrar na cabeça dos criminosos para que eles tenham mais chances de pegá-los.”

      “Uau. Então você caça assassinos em série e essas coisas?”

      “Já há algum tempo”, disse ela, deixando de mencionar que sua busca era por um assassino em série em particular e que não tinha nada a ver com o trabalho.

      “Fantástico. Que trabalho legal.”

      “Obrigado”, disse Jessie, sentindo que ele finalmente havia construído a coragem para perguntar o que já estava em sua mente há algum tempo.

      “Então qual é o seu negócio? Você é solteira?”

      “Divorciada, na verdade.”

      “Mesmo?”, ele perguntou. “Você parece muito jovem para ser divorciada.”

      “Eu sei, certo? Circunstâncias incomuns. Não deu certo.”

      “Eu não quero ser rude, mas posso perguntar - o que era tão incomum? Quero dizer, você parece um ótimo partido. Você é uma psicopata ou algo assim?”

      Jessie sabia que ele não estava perguntando por mal. Ele estava genuinamente interessado tanto na resposta quanto nela, mas ele simplesmente tinha acabado horrivelmente com todas as chances. Ela sentiu todo o seu interesse restante em Doyle escorrer para longe dela naquele momento. No mesmo instante, o peso do dia e o desconforto de seus saltos altos se fizeram presentes. Ela decidiu encerrar a noite repentinamente.

      “Eu não me chamaria de psicopata, Doyle. Estou definitivamente danificada, ao ponto de acordar gritando na maioria das noites. Mas psicopata? Eu não diria isso. Basicamente nos divorciamos porque meu marido era um sociopata que assassinou uma mulher com quem ele estava dormindo, tentou incriminar-me e, finalmente, tentou matar a mim e a dois dos nossos vizinhos. Ele realmente abraçou a coisa de 'até que a morte nos separe'.”

      Doyle olhou para ela, sua boca tão aberta que poderia ter pego moscas. Ela esperou que ele se recuperasse, curiosa para ver o quão suavemente ele se retiraria dali. Não muito suavemente, como se viu logo.

      “Oh, isso realmente é uma droga. Gostaria de perguntar mais sobre isso, mas acabei de me lembrar que tenho um depoimento bem cedo amanhã. Eu provavelmente deveria chegar em casa. Espero ver você por aí alguma outra vez.”

      Ele já estava fora do banquinho e a meio caminho da porta antes que ela pudesse dizer um “Tchau, Doyle”.

      *

      Jessica Thurman puxou o cobertor para cobrir seu pequeno corpo meio gelado. Ela estava sozinha na cabana com a mãe morta há três dias. Ela estava tão delirante por falta de água, calor e interação humana que às vezes pensava que sua mãe estava falando com ela, mesmo enquanto o seu cadáver permanecia caído, imóvel, com os braços no ar presos por algemas às vigas do telhado de madeira.

      De repente, houve pancadas na porta. Alguém estava do lado de fora da cabana. Não poderia ser o pai dela. Ele não tinha razão para bater. Ele entraria em qualquer lugar que quisesse quando quisesse.

      O barulho veio de novo, só que desta vez parecia diferente. Havia um som de sineta misturado. Mas isso não fazia sentido. A cabana não tinha uma campainha. A sineta veio de novo, desta vez sem nenhuma pancada.

      De repente, os olhos de Jessie se abriram. Ela estava lá deitada na cama, permitindo que seu cérebro processasse por um segundo que o toque de sineta que ouvira tinha vindo de seu celular. Ela se inclinou para pagá-lo, notando que apesar de seu coração estar acelerado e sua respiração ser curta e rápida no peito, ela não estava tão suada como de costume após um pesadelo.

      Era o detetive Ryan Hernandez. Quando atendeu a chamada, ela olhou para a hora: 2:13 da madrugada.

      “Olá”, disse ela, quase sem embaralhos em sua voz.

      “Jessie. É Ryan Hernandez. Desculpe ligar, mas recebi uma ligação para investigar uma morte suspeita em Hancock Park. Garland Moses não faz mais as chamadas noturnas e todos os outros já estão ocupados. Você está interessada?”

      “Claro”, respondeu Jessie.

      “Se eu lhe enviar o endereço, você consegue estar aqui em trinta minutos?”, ele perguntou.

      “Consigo estar aí em quinze.”

      CAPÍTULO SETE

      Quando Jessie parou em frente à mansão em Lucerne Blvd. às 2h29 da madrugada, já havia vários carros da polícia, uma ambulância e um veículo de um médico legista na frente. Ela saiu e caminhou em direção à porta da frente, tentando parecer o mais profissional possível, dadas as circunstâncias.

      Os vizinhos estavam na calçada, muitos envoltos em roupões para se proteger do frio da noite. Esse tipo de coisa não era típico de um bairro rico como Hancock Park. Aninhado entre Hollywood ao norte e o distrito de Mid-Wilshire ao sul, era um enclave tradicionalmente rico de Los Angeles; ou pelo menos tão tradicional como qualquer coisa em uma cidade tão despreocupada com a tradição histórica poderia ser.

      As pessoas que moravam aqui não eram as estrelas de cinema ou os magnatas de Hollywood que se poderiam encontrar em Beverly Hills ou Malibu. Essas eram as casas dos herdeiros ricos, que poderiam ou não ter um emprego. Se o tivessem, muitas vezes era apenas para evitar o tédio. Mas eles não precisavam se preocupar em ficar entediados esta noite. Afinal, um deles estava morto e todos estavam curiosos para saber quem.

      Jessie sentiu um pouco de emoção ao subir as escadas até a porta da frente, que estava marcada com fita amarela da polícia. Esta era a primeira vez que ela chegava a uma cena de crime desacompanhada por um detetive. E isso significava que era a primeira vez que ela teria que mostrar suas credenciais para acessar uma área restrita.

      Ela se lembrava de ter ficado super animada quando tinha recebido as credenciais. Ela até treinou exibi-las para Lacy algumas vezes no apartamento. Mas agora, enquanto procurava atrapalhada as credenciais no bolso do casaco, tentando encontrá-las, ela se sentia surpreendentemente nervosa.

      Ela não precisava daquele nervosismo, afinal. O oficial no topo da escada mal olhou para as credenciais quando puxou a fita da polícia e a deixou passar.

      Jessie encontrou Hernandez e outro detetive dentro do hall de entrada da casa. O homem mais jovem parecia que estava ali somente por obrigação. A antiguidade do detetive Reid deve ter permitido que ele recusasse esse chamado. Jessie se perguntou por que Hernandez também não havia usado sua patente para se livrar daquilo. Ele a viu e acenou para ela entrar.

      “Jessie Hunt, não sei se você já conhece o detetive Alan Trembley. Ele era o detetive de plantão esta noite e ele estará trabalhando no caso comigo.”

      Enquanto Jessie apertava a mão dele, ela não pôde deixar de notar que, com seu desgrenhado e encaracolado cabelo loiro e os óculos pela metade do nariz, ele parecia tão disperso quanto ela.

      “Nossa vítima está na casa da piscina”, disse Hernandez enquanto começava a andar, liderando o caminho. “O nome dela é Victoria Missinger. Trinta e quatro anos de idade. Casada. Sem filhos. Ela está em um canto pequeno e oculto da sala principal, o que pode ajudar a explicar por que demorou tanto para encontrá-la. Seu marido ligou esta tarde, dizendo que ele não tinha sido capaz de contatá-la por horas. Havia alguma preocupação de que poderia ter sido uma situação de sequestro, então uma busca dentro da casa não foi feita até algumas horas atrás. Seu corpo foi encontrado por um cão farejador de cadáveres.”

      “Jesus”, Trembley

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