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a ranger sob a força da criatura. Ela sentiu as suas garras a arranharem-lhe as costas e as pernas, numa lancinante agonia.

      A pele da criatura era muito grossa. Ceres atacava-a sem parar, mas ela sentia que a ponta da lança mal penetrava a sua carne. A criatura estava a dilacerá-la, com as suas garras a rasgarem toda a pele que ela tivesse exposta.

      Ceres fechou os olhos. Com tudo o que tinha, ela foi buscar todo o poder dentro de si, mesmo sem saber se funcionaria.

      Ela sentiu a surgir em si uma bola de poder. Então, ela colocou toda a sua força na sua lança, empurrando-a para cima na direção do espaço onde ela esperava que o coração da criatura estivesse.

      O animal gritou, recuando para longe dela.

      A multidão vibrava.

      Ceres, sofrendo com a dor dos seus arranhões, saiu, cambaleando, de baixo da criatura, levantando-se em fraqueza. Ela olhou para baixo enquanto a besta, com a lança alojada no seu coração, rolava e gemia, fazendo um som que parecia pequeno demais para algo tão grande.

      Em seguida, a criatura ficou rija e morreu.

      "Ceres! Ceres! Ceres!"

      O Stade aclamava novamente. Para onde quer que Ceres olhasse, havia pessoas a chamar pelo nome dela. Nobres e pessoas comuns pareciam estar, igualmente, a juntarem-se aos cânticos, perdendo-se a si mesmos naquele momento da vitória dela.

      "Ceres! Ceres! Ceres!"

      Ela deu por si a sorver o acontecimento. Era impossível não ser apanhada pelo sentimento de adulação. Todo o seu corpo parecia pulsar em sincronia com o cantar que a rodeava. Ela estendeu as mãos como se para acolher tudo aquilo. Ela virou-se lentamente em círculo, observando os rostos daqueles que no dia anterior nem sequer tinham ouvido falar dela, mas que agora estavam a tratá-la como se ela fosse a única pessoa no mundo que importasse.

      Ceres estava tão entregue àquele momento que quase já não sentia a dor das feridas. Ela levou a mão ao ombro, que agora lhe doía. A mão saiu molhada, embora o sangue ainda estivesse vermelho brilhante à luz do sol.

      Ceres olhou para aquela mancha por alguns segundos. A multidão ainda estava a entoar o seu nome, mas o pulsar do seu coração nos seus ouvidos, de repente, parecia muito mais alto. Ela olhou para a multidão, demorando um momento para perceber que estava de joelhos. Ela não se conseguia lembrar de ter caído de joelhos.

      Do canto do olho, Ceres podia ver Paulo correndo para a frente, mas tal parecia muito distante, como se não tivesse nada a ver com ela. O sangue escorria dos seus dedos para a areia, escurecendo-a onde tocava. Ela nunca se tinha sentido tão tonta, tão estonteada.

      De repente, ela deu por si a cair de cara no chão da arena, sentindo-se incapaz de alguma vez se voltar a mover novamente.

      CAPÍTULO DOIS

      Thanos abriu os olhos lentamente, confuso ao sentir as ondas a baterem-lhe nos tornozelos e pulsos. Por baixo dele, ele sentia a areia branca arenosa das praias de Haylon. Ocasionalmente, o sal que era pulverizado enchia-lhe a boca, tornando-se difícil respirar.

      Thanos olhou para os lados ao longo da praia, incapaz de fazer mais do que isso. Mesmo aquilo era uma luta, já que ele entrava e saía do seu estado de consciência. Ele pensava estar a ver chamas ao longe e a distinguir sons de violência. Ele ouvia gritos, juntamente com o som de aço a embater em aço.

      A ilha, ele lembrava-se. Haylon. O ataque deles tinha começado.

      Então, porque estava ele deitado na areia?

      Levou um momento até que a dor no seu ombro lhe respondeu a essa pergunta. Lembrou-se, e estremeceu com a lembrança. Lembrou-se do momento em que a espada tinha mergulhado em si, lancetando-o na sua parte superior das costas. Lembrou-se do choque com isso uma vez que Typhoon o havia traído.

      A dor percorria o corpo de Thanos, expandindo-se como uma flor a partir do ferimento nas costas. Cada respiração doía-lhe. Ele tentou levantar a cabeça - mas apenas conseguiu desmaiar.

      Quando voltou a acordar, Thanos estava novamente virado para baixo na areia, e ele apenas conseguia dizer que o tempo tinha passado, porque a maré tinha subido um pouco, com a água a bater-lhe agora na cintura ao invés de nos tornozelos. Ele conseguiu, finalmente, levantar a cabeça o suficiente para ver que havia outros corpos na praia. Os mortos pareciam cobrir o mundo, estendidos sobre as praias de areia branca, tanto quanto ele conseguia ver. Viu homens com a armadura do Império, esparramados onde tinham caído, misturados com os defensores que tinham morrido a proteger as suas casas.

      O fedor da morte enchia as narinas de Thanos, e era tudo o que ele conseguia fazer para não vomitar. Ninguém tinha ainda separado os mortos em amigos e inimigos. Tais subtilezas podiam esperar pelo fim da batalha. Talvez o Império deixasse isso nas mãos da maré; um olhar para trás mostrou sangue na água, e Thanos conseguiu ver as barbatanas a rebentar as ondas. Porém, não eram tubarões grandes, necrófagos em vez de caçadores - mas precisariam eles de ser muito grandes para o devorar quando a maré subisse?

      Thanos sentiu uma onda de pânico. Ele tentou arrastar-se até a praia, puxando com os braços como se estivesse a tentar escalar pela areia. Ele gritava de dor ao tentar puxar-se para a frente, talvez a metade do comprimento do seu corpo.

      A escuridão apoderou-se da sua visão novamente.

      Quando voltou a si, Thanos estava de lado, a olhar para as figuras que estavam agachadas sobre si, perto o suficiente para lhes conseguir tocar, se tivesse forças para fazê-lo. Eles não se pareciam com soldados do Império. Na verdade, não se pareciam sequer com soldados. Thanos tinha passado tempo suficiente rodeado de guerreiros para saber a diferença. Aqueles, um homem mais jovem e um mais velho, pareciam-se mais com agricultores, homens comuns, que provavelmente tinham fugido das suas casas para evitar a violência. Isso não queria dizer que eles fossem menos perigosos, apesar de tudo. Ambos possuíam facas, e Thanos deu por si a perguntar-se se eles podiam ser tão necrófagos como os tubarões. Ele sabia que havia sempre aqueles que procuravam roubar os mortos após as batalhas.

      "Este ainda está a respirar", disse o primeiro deles.

      "Eu a ver. Corta-lhe simplesmente a garganta e acaba já com isto".

      Thanos ficou tenso, com o seu corpo a preparar-se para lutar, mesmo não havendo nada que pudesse fazer naquele momento.

      "Olha para ele", insistiu o homem mais jovem. "Alguém o esfaqueou nas costas."

      Thanos viu o homem mais velho a franzir ligeiramente as sobrancelhas para aquilo. Deslocou-se à volta, para trás de Thanos, fora da sua linha de visão. Thanos conseguiu evitar gritar novamente quando o homem tocou no local onde o sangue ainda saía da ferida. Ele era um príncipe do Império. Ele não ia mostrar fraqueza.

      "Parece que estás certo. Ajuda-me a levá-lo até onde os tubarões não o apanhem. Os outros vão querer ver isto."

      Thanos viu o homem mais jovem acenar, e, juntos, eles conseguiram levantá-lo, com a armadura e tudo. Desta vez, Thanos gritou, incapaz de parar a dor à medida que eles o puxavam pela praia acima.

      Deixaram-no como um tronco flutuante, para além do ponto onde a maré tinha deixado para trás as algas, abandonando-o na areia seca. Eles afastaram-se num ápice, mas Thanos estava com demasiadas dores para os ver a irem-se embora.

      Não havia nenhuma maneira de ele saber quanto tempo tinha passado. Ele ainda conseguia ouvir ao fundo a batalha, com os seus gritos de violência e raiva, os seus gritos de guerra e as suas cornetas de aviso. Uma batalha podia durar minutos ou horas, apesar de tudo. Podia terminar na primeira leva, ou continuar até que nenhum dos lados tivesse força para fazer mais do cambalear. Thanos não tinha nenhuma maneira de saber qual das situações aquela era.

      Por fim, um grupo de homens aproximou-se. Pareciam-se efetivamente com soldados, com uma maior agressividade que só os homens que tinham lutado durante toda a sua vida tinham. Era fácil ver qual deles era o líder. O homem alto, de cabelos

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