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é que o Bill trabalhara num caso em que ela não estava envolvida? Depois lembrou-se. Ela tinha estado hospitalizada em Junho devido às mazelas deixadas pelo cativeiro de Peterson. Mesmo assim, o Bill tinha-a visitado com frequência no hospital e nunca tinha feito qualquer referência àquele caso.

      Voltou-se para Bill.

      “Porque é que não me falaste nisto?” Perguntou.

      O rosto de Bill estava sombrio.

      “Não era o melhor momento,” Disse ele. “Tinhas os teus próprios problemas.”

      “Quem foi o teu parceiro?” Questionou Riley.

      “O Agente Remsen.”

      Riley reconheceu o nome. Bruce Remsen tinha sido transferido para outro local antes dela ter regressado ao trabalho.

      Então, depois de uma breve pausa, Bill acrescentou, “Não consegui resolver o caso.”

      Riley compreendeu a sua expressão e tom. Após tantos anos de amizade e trabalho conjunto, ela conhecia Bill melhor do que ninguém. E percebeu o quão profundamente desapontado estava consigo próprio.

      Flores exibiu as fotos tiradas pelo médico-legista das costas nuas das raparigas. Os cadáveres estavam de tal forma degradados que mal pareciam reais. As costas tinham cicatrizes antigas e vergões recentes.

      Riley sentiu um desconforto agudo. E fora apanhada de surpresa por essa sensação. Desde quando é que ficava perturbada com fotos de cadáveres?

      Flores prosseguiu, “Antes dos pescoços serem partidos, estavam praticamente mortas de fome. Também foram espancadas e o mais certo é que o tenham sido durante muito tempo. Os corpos foram levados para os locais onde foram encontrados post mortem. Não sabemos onde terão sido mortas.”

      Tentando vencer o seu crescente desconforto, Rilley refletiu nas semelhanças com os casos que ela e Bill tinham resolvido nos últimos meses. O “assassino das bonecas” deixava os corpos nus das vítimas em lugares onde pudessem ser facilmente encontradas e em posições grotescas. O “assassino das correntes” pendurava os corpos das vítimas envoltas em correntes pesadas.

      Agora Flores mostrava a foto de outra jovem mulher – uma ruiva de aspeto risonho. Ao lado da foto encontrava-se a imagem de um velho Toyota.

      “Este carro pertencia a uma imigrante Irlandesa de vinte e quatro anos chamada Meara Keagan,” Declarou Flores. “O seu desaparecimento foi participado ontem de manhã. O seu carro foi encontrado abandonado junto a um prédio em Westree, Delaware. Trabalhava lá para uma família como criada e ama.”

      Agora era a vez do Agente Especial Brent Meredith falar. Meredith era um Afro-Americano altivo, grande, com traços angulares e uma atitude racional.

      “Saiu do turno às 23:00 na noite de anteontem,” Disse Meredith. “O carro foi encontrado cedo na manhã seguinte.”

      O Agente Especial Responsável Carl Walder debruçou-se para a frente. Era o chefe de Brent Meredith – um homem sardento com rosto de menino e cabelo acobreado encaracolado. Riley não gostava dele. Não o considerava particularmente competente. E é claro que também não ajudava a este juízo o facto de ele já a ter despedido.

      “Porque é que estamos a partir do princípio que este desaparecimento está relacionado com aqueles crimes?” Perguntou Walder. “A Meara Keagan é mais velha do que as outras vítimas.”

      Chegara a vez de Lucy Vargas intervir. Lucy era uma novata jovem e inteligente com cabelo e olhos negros, e um tom de pele bronzeado.

      “A resposta está no mapa. Keagan desapareceu na mesma área onde os dois corpos foram encontrados. Pode ser uma coincidência, mas parece-me altamente improvável. Não tratando-se de um período de cinco meses, todos tão próximos.”

      Apesar do seu crescente desconforto, Riley gostou de ver Walder estremecer ligeiramente. Sem qualquer intenção, Lucy tinha-o remetido à sua insignificância. Riley só esperava que ele não encontrasse uma forma de se vingar de Lucy mais tarde. Walder podia ser mesquinho a esse ponto.

      “Exatamente, Agente Vargas,” Disse Meredith. “Pensamos que as raparigas mais novas foram raptadas quando pediam boleia, provavelmente na autoestrada que atravessa esta área.” E apontou para uma linha específica no mapa.

      Lucy perguntou, “Não é proibido pedir boleia no Delaware?” E acrescentou, “É claro que é uma situação difícil de aplicar.”

      “Sem dúvida,” Disse Meredith. “E esta nem sequer é uma interestadual ou a maior autoestrada do estado, por isso o mais certo é usarem-na para esse fim. E parece que os assassinos também. Um corpo foi encontrado junto a esta estrada e os outros dois a menos de 16 quilómetros dela. Keagan foi levada a cerca de 96 quilómetros a norte dessa mesma estrada. Mas com ela o raptor usou um estratagema diferente. Se ele seguir o seu padrão habitual, vai mantê-la viva até estar perto de morrer à fome. Depois, parte-lhe o pescoço e livra-se do corpo da mesma forma.”

      “Não vamos permitir que isso aconteça,” Disse Bill num tom de voz rígido.

      Meredith disse, “Agentes Paige e Jeffreys, quero que comecem já a trabalhar nisto.” Empurrou uma pasta repleta de fotos e relatórios na direção de Riley. “Agente Paige, aqui tem toda a informação de que precisa para ficar a par de tudo.”

      Riley fez um movimento para pegar na pasta, mas a mão retraiu-se num espasmo de horrível ansiedade.

      O que é que se passa comigo?

      A sua cabeça andava à roda e imagens desfocadas começaram a assumir forma no seu cérebro. Seria isto o SPT do caso Peterson? Não, era algo diferente, algo completamente diferente.

      Riley levantou-se e saiu da sala de reuniões. Ao percorrer o corredor na direção do seu gabinete, as imagens na sua cabeça tornaram-se mais nítidas.

      Havia rostos – rostos de mulheres e raparigas.

      Riley viu Mitzi, Koreen e Tantra – jovens acompanhantes cujo vestuário respeitável escondia a sua degradação até delas próprias.

      Viu Justine, uma prostituta envelhecida debruçada sobre uma bebida num bar, cansada e amarga, completamente preparada para morrer de uma morte horrível.

      Viu Chrissy, virtualmente prisioneira do seu marido violento e proxeneta num bordel.

      E pior que tudo, viu Trinda, uma menina de quinze anos que já tinha vivido um pesadelo de exploração sexual e que não se conseguia imaginar a ter outra vida.

      Riley chegou ao seu gabinete e rapidamente se atirou para uma cadeira. Agora compreendia o seu ataque de repugnância. As imagens que acabara de ver haviam desencadeado aquelas memórias dolorosas. Tinham trazido à superfície as suas mais sombrias dúvidas sobre o caso de Phoenix. É verdade que tinha apanhado um assassino brutal, mas sentia que não fizera justiça às mulheres e raparigas que conhecera. Todo um mundo de exploração permanecia inalterado, impune. Riley não tinha sequer conseguido arranhar a superfície dos males que aquelas mulheres tinham que suportar.

      E agora vivia assombrada e perturbada de uma forma que nunca antes lhe sucedera. E parecia-lhe algo bem pior que o SPT. No final de contas, ela podia libertar a sua raiva e horror num ginásio de pugilismo, mas não tinha forma de se livrar daqueles novos sentimentos.

      E conseguiria ela trabalhar noutro caso como o de Phoenix?

      Ouviu a voz de Bill à porta.

      “Riley.”

      Ergueu o olhar e viu o seu parceiro a observá-la com uma expressão triste. Segurava na pasta que Meredith lhe tentara dar.

      “Preciso de ti neste caso,” Disse Bill. “É pessoal para mim. Não o ter conseguido resolver deixa-me louco. E não consigo deixar de pensar se terei falhado porque o meu casamento estava a desmoronar. Conheci a família da Valerie Bruner. São boas pessoas. Mas não mantive o contacto porque… Bem, porque os desiludi. Tenho que os compensar de alguma

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