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      Fúria contra toda a gente e as suas mentiras e os seus segredos e a sua maldade.

      Como fazia com frequência, imaginou-se a sobrevoar o mundo com as suas asas negras, a provocar a morte e a destruição aos maldosos.

      E todos eram maldosos.

      Toda a gente merecia morrer.

      Até Cody Woods fora mau e merecia morrer.

      Que tipo de homem fora ele na verdade para deixar este mundo sem que ninguém o amasse?

      Com certeza um homem horrível.

      Horrível e detestável.

      “É bem feito,” Rosnou.

      Depois saiu do seu estado de fúria. Sentiu-se envergonhada por ter dito tantas coisas em voz alta. Na verdade, não fora com intenção. Lembrou a si própria que não sentia nada mais do que amor e boa vontade em relação a todo o mundo.

      Para além disso, era quase hora de ir trabalhar. Hoje chamava-se Judy Brubaker.

      Olhando-se ao espelho, assegurou-se de que a peruca castanho-avermelhado estava devidamente colocada e de que a franja se espalhava de forma natural na sua testa. Era uma peruca cara e nunca ninguém tinha reparado que não era o seu cabelo natural. Por baixo da peruca, o cabelo curto e louro de Hallie Stillians tinha sido pintado de castanho-escuro e cortado num estilo diferente.

      Não restava sinal de Hallie, nem no vestuário, nem na forma de se comportar.

      Pegou nuns óculos de leitura modernos e pendurou-os num cordão brilhante à volta do pescoço.

      Sorriu satisfeita. Era acertado investir nos acessórios apropriados e Judy Brubaker merecia os melhores.

      Todos gostavam de Judy Brubaker.

      E todos gostavam da canção que Judy Brubaker cantava frequentemente – uma canção que cantava alto quando se vestia para ir trabalhar…

      Não chores,

      Sonha até mais não poderes.

      Deixa-te vencer pelo sono.

      Não há mais suspiros,

      Fecha os olhos

      E estarás em casa pelo sono.

      Ela transbordava paz, paz suficiente para partilhar com todo o mundo. Ela dera paz a Cody Woods.

      E em breve daria paz a mais alguém que dela precisasse.

      CAPÍTULO QUATRO

      O coração de Riley bateu descompassadamente e os seus pulmões queimavam de respirar rápida e dificultosamente. Uma música familiar não lhe saía da cabeça.

      “Segue a estrada de tijolo amarelo…”

      Por muito cansada e sem fôlego que estivesse, Riley não conseguia evitar sentir-se divertida. Era manhã cedo e estava frio enquanto ela corria os dez quilómetros na pista de obstáculos de Quantico. A pista era vulgarmente apelidada de Estrada de Tijolo Amarelo.

      Os Marines que a tinham construído é que lhe tinham dado esse nome por terem colocado tijolos amarelos na marcação de cada quilómetro. Os formandos do FBI que sobreviviam à pista recebiam um tijolo amarelo como recompensa.

      Riley já recebera o seu tijolo amarelo há muitos anos, mas de vez em quando, voltava à pista, só para se assegurar de que ainda era capaz. Depois do stress emocional dos últimos dias, Riley precisava de algum esforço físico para limpar a mente.

      Até ao momento, já tinha ultrapassado uma série de desafiantes obstáculos e tinha passado três tijolos amarelos. Tinha trepado paredes improvisadas, ultrapassado obstáculos e saltado por janelas simuladas. Há apenas alguns momentos, tinha-se içado por uma corda e agora já descia.

      Quando chegou ao chão, olhou para cima e viu Lucy Vargas, a brilhante e jovem agente com quem gostava de trabalhar a treinar. Lucy estava a gostar de ser a companheira de treino de Riley naquela manhã. Estava no topo da face da rocha a olhar para baixo para Riley.

      Riley chamou-a, “Não consegues acompanhar uma velhota como eu?”

      Lucy riu-se. “Estou a ir nas calmas. Não quero exagerar – não com alguém da tua idade.”

      “Ei, não te atrases por minha causa,” Gritou Riley. “Dá tudo o que tens.”

      Riley tinha quarenta anos, mas nunca tinha descurada o seu treino físico. Ser capaz de se movimentar com rapidez e responder em força podiam revelar-se cruciais na luta contra monstros humanos. A simples força física tinha salvado vidas, incluindo a sua, mais do que uma vez.

      Ainda assim, não ficava feliz por olhar para a sua frente e ver o próximo obstáculo – uma piscina de águas baixas, frias e lamacentas ia deixá-la encharcada e gelada.

      Aqui vai disto, Pensou.

      Atirou-se na direção da lama. O seu corpo foi trespassado pelo choque tremendo da água gelada. Ainda assim, esforçou-se por rastejar e espalmou-se quando sentiu o arame farpado a raspar ligeiramente nas suas costas.

      Um entorpecimento corrosivo começou a apoderar-se dela, acionando uma memória indesejável.

      Riley estava num espaço escuro debaixo da casa. Acabara de fugir de uma jaula onde estivera presa e fora torturada por um psicopata com um maçarico de gás propano. Na escuridão, perdera a noção do tempo que passara desde que fora capturada.

      Mas conseguira forçar a porta da jaula e agora rastejava às cegas em busca de uma saída. Chovera há pouco tempo e a lama por baixo de si era pegajosa, fria e funda.

      À medida que o seu corpo se entorpecia mais por causa do frio, um enorme desespero apoderou-se dela. Estava fraca das noites acordada e da fome.

      Não consigo, Pensou.

      Ela tinha que libertar a sua mente dessas ideias. Ela tinha que continuar a rastejar e a procurar a saída. Se ela não saísse, ele acabaria por matá-la – tal como o tinha feito com as outras vítimas.

      “Estás bem, Riley?”

      A voz de Lucy despertou Riley da memória de um dos seus mais assombrosos casos. Era uma situação que jamais esqueceria, sobretudo porque a sua filha fora mais tarde capturada por esse mesmo psicopata. Interrogava-se se alguma vez se libertaria daquelas recordações.

      E April alguma vez se veria livre de memórias tão devastadoras?

      Riley regressara ao presente e apercebeu-se de que se detivera debaixo do arame farpado. Lucy estava logo atrás dela, à espera que ela terminasse o obstáculo.

      “Estou bem,” Disse Riley. “Desculpa atrasar-te.”

      Esforçou-se por voltar a rastejar. À beira da água, ergueu-se e reuniu forças e energia. Depois desceu o trilho de madeira, certa de que Lucy não estava muito longe dela. Ela sabia que a sua próxima tarefa seria trepar uma rede. Depois disso, ainda tinha quase três quilómetros até terminar e mais alguns obstáculos duros para ultrapassar.

      *

      No fim da pista de dez quilómetros, Riley e Lucy tropeçavam juntas, ofegantes e rindo e dando os parabéns uma à outra pelo seu triunfo. Riley ficou surpreendida por ver o seu parceiro de longa data à sua espera onde o trilho terminava. Bill Jeffreys era um homem forte e robusto da idade de Riley.

      “Bill!” Disse Riley, ainda sem fôlego. “O que é que estás aqui a fazer?”

      “Vim à tua procura,” Disse ele. “Disseram-me que te encontraria aqui. Mal podia acreditar que quisesses fazer isto – e no pico do inverno! És alguma espécie de masoquista ou quê?”

      Riley e Lucy riram-se.

      Lucy disse, “Talvez a masoquista seja eu. Espero

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