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da boca de Rose... especialmente só o sobrenome, como se ela também o conhecesse do trabalho.

      - Não é isso – Avery disse. – Eu só não queria tornar essa noite um encontro onde você tivesse que ficar consolando sua mãe.

      - Em uma situação assim, é normal se sentir desse jeito. Eu só não sei se é a melhor coisa do mundo para você ficar trancada naquele quarto de hospital. Digo... não é meio depressivo?

      - Às vezes – Avery admitiu. – Mas eu gostaria de saber que tivesse sempre alguém do meu lado se eu estivesse lutando pela minha vida.

      - Sim, eu acho que ele faria o mesmo por você. E eu também, claro. Mas ao mesmo tempo, você sabe que ele reclamaria se soubesse que você estava fazendo isso.

      - Provavelmente.

      - Você... – Rose começou a perguntar, mas parou como se tivesse percebido que era melhor não falar o que quer que fosse que estava saindo de sua boca.

      - Tudo bem – Avery disse. – Você pode me perguntar qualquer coisa.

      - Você tem alguma intuição? Tipo... seus instintos estão te dizendo de alguma maneira se ele vai conseguir se salvar?

      Era uma pergunta difícil de responder. Ela não tinha um sentimento forte nem para o bem nem para o mal. E talvez por isso aquela situação estava a afetando tanto. Não havia certeza. Nenhum instinto dizendo a ela se ele iria se salvar ou não.

      - Não, ainda não.

      - Mais uma pergunta – Rose disse. – Você ama ele?

      A pergunta era tão inesperada que, por um momento, Avery não tinha certeza do que responder. Era uma pergunta que ela havia feito a si mesma muitas vezes antes—uma pergunta que tinha ganhado uma resposta definitiva nas últimas duas semanas.

      - Sim, eu amo.

      Rose pareceu ficar radiante com a resposta, escondendo o sorriso atrás da taça de vinho.

      - Você acha que ele sabe?

      - Acho que sim. Mas não é algo que nós—

      Ela foi interrompida pelo som de vidros quebrando e um barulho áspero. Foi tão repentino e inesperado que Avery levou dois segundos para levantar e entender a situação. Quando conseguiu, Rose soltou um pequeno grito. Ela havia levantado do sofá e estava voltando para a cozinha.

      A janela na parede à esquerda do sofá estava quebrada. Um vento frio invadiu o apartamento. O instrumento usado para quebrar a janela estava caído no chão e não fez sentido imediato.

      Era um tijolo velho, no chão, mas Avery só o viu depois de ter visto um gato morto. O gato parecia ser magro, desnutrido e de rua. Ele fora amarrado ao tijolo com algum tipo de borracha, como as usadas para amarrar tendas ou toldos. Havia fragmentos de vidro quebrados ao lado do animal.

      - Mãe? – Rose disse.

      - Está tudo bem – Avery disse quando foi em direção à janela quebrada. Seu apartamento ficava no segundo andar, então mesmo que aquilo tivesse exigido alguma força, era totalmente possível alguém ter arremessado o tijolo.

      Ela não viu ninguém lá embaixo, na rua. Pensou em descer as escadas e sair, mas quem quer que tivesse arremessado o tijolo e o gato estaria pelo menos um minuto a sua frente. E com o trânsito de Boston e os pedestres na rua àquela hora da noite – apenas nove e meia, ela viu no relógio – seria impossível encontra-lo.

      Ela caminhou em direção ao gato, tomando cuidado para não pisar no vidro com seus pés descalços.

      Havia um pequeno pedaço de papel esmagado entre a parte de baixo do gato e a borracha preta. Ela abaixou-se para pegar o bilhete, arrepiando-se um pouco quando sentiu o gato gelado.

      - Mãe, o que é isso? – Rose perguntou.

      - Tem um bilhete.

      - Quem faria algo assim?

      - Não sei – ela respondeu, quando desenrolou e abriu o bilhete. Havia sido escrito em metade de uma folha de caderno. Era muito simples, mas ainda assim fez o corpo de Avery se arrepiar.

      Estou LIVRE! E não posso ESPERAR para ver você de novo!

      Merda, ela pensou. Howard. Tem que ser ele.

      Foi o primeiro pensamento em sua cabeça, e ela logo tentou evita-lo. Assim como a brutalidade do assassinato com a pistola de pregos, enviar um gato morto por uma janela de apartamento com um bilhete ameaçador não parecia algo que Howard Randall faria.

      - O que diz aí? – Rose perguntou, chegando perto. Ela parecia estar quase chorando.

      - Só uma ameaça tola.

      - De quem?

      Ao invés de responder, Avery pegou seu telefone do sofá e ligou para O’Malley.

      De quem? Rose perguntara.

      E quando o telefone começou a tocar no ouvido de Avery, por mais que ela tentasse lutar contra, parecia haver apenas uma resposta plausível.

      Howard Randall.

      CAPÍTULO CINCO

      Muita coisa aconteceu nos doze minutos que O’Malley levou para aparecer. Para começar, a viatura do A1 não foi o primeiro veículo a chegar. Uma van da mídia chegou derrapando em frente ao prédio de Avery. Ela viu pela janela três pessoas saindo: um repórter, um cinegrafista e um técnico, puxando os cabos para fora da van.

      - Merda – Avery disse.

      O pessoal da mídia estava quase pronto para sair quando O’Malley apareceu. Outro carro veio colado atrás dele, e quase bateu na van da imprensa. Ela não ficou surpresa ao ver Finley saindo dele. Connelly estava aparentemente preparando Finley para uma promoção—talvez até para substituir Ramirez.

      Avery franziu a testa para a van da imprensa e viu Finley falando com o repórter. Houve uma pequena discussão antes que Finley e O’Malley caminhassem até sairem de sua vista, em direção às escadas que os levariam a seu apartamento.

      Quando eles bateram na porta, Avery abriu e não lhes deu chance de dizer nada antes que ela própria expusesse suas preocupações e frustrações.

      - O’Malley, que porra é essa? Eu te liguei diretamente ao invés de ligar para o departamento para evitar a mídia. Qual é a deles?

      - Eles estão salivando em cima da fuga de Howard Randall. E eles sabem que você é um rosto familiar nessa história. Então eles estão te vigiando. Eu acho que essa equipe aí tem um rastreador.

      - De chamadas de celular? – Avery perguntou.

      - Não. Olhe, eu tive que passar a informação para o departamento. É algo muito importante. Eles devem ter escutado em algum sinal de rádio.

      Avery queria estar furiosa, mas sabia quão difícil era se comunicar secretamente quando havia uma mídia louca por descobrir uma história. Ela olhou para baixo, para a equipe de imprensa, e os viu filmando algo—que só Deus saberia dizer o que. Enquanto olhava, outro veículo de imprensa chegou, um pequeno SUV.

      O’Malley e Finley olharam o tijolo, o gato e o vidro quebrado. Avery deixara o bilhete no chão, não querendo que um papel que estivera no pelo de gato ficasse no seu balcão da cozinha ou na mesa de café.

      - Tenho que dizer – Finley tomou a palavra – mas parece muito “acadêmico”. Digo... Estou livre. Quem mais poderia ser, Avery?

      - Não sei. Mas... Eu sei que pode parecer difícil acreditar nisso, mas não parece algo que Howard faria.

      - O velho Howard Randall, talvez – O’Malley disse. – Mas quem sabe o quanto ele mudou na prisão?

      - Esperem – Rose disse, - não entendi. A mãe livrou esse cara quando representou ele como advogada. Por que ele viria atrás dela? Acho que ele deveria estar agradecido.

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