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Não havia como saber. Ele perdera muito sangue com o tiro—tendo tecnicamente morrido por quarenta e dois segundos com a parada do coração—e as notícias não eram as melhores.

      Tudo isso havia se juntado a outra notícia terrível que ela recebera apenas vinte minutos depois de falar com o médico.

      A notícia de que Howard Randall havia, de alguma maneira, escapado da prisão. E agora, duas semanas depois, ele ainda não fora encontrado. E se ela precisasse de uma lembrança desse fato terrível (e ela não precisava, mesmo), poderia ver na televisão, em qualquer canal. Estava sentada como um zumbi, no quarto de Ramirez, vendo o noticiário. Mesmo que a fuga de Howard não fosse a notícia principal, ela estava lá, nas letras pequenas na parte de baixo da tela.

      Howard Randall ainda procurado. Autoridades não têm respostas.

      Toda a cidade de Boston estava nervosa. Era como estar à beira de uma guerra com outro país qualquer, apenas esperando para que as bombas começassem a explodir. Finley tentara ligar muitas vezes e O’Malley aparecera no quarto em duas ocasiões. Até Connelly parecia preocupado com o bem-estar dela, expressando esse sentimento em uma simples mensagem que ainda assim parecera uma preocupação silenciosa.

      Tire quanto tempo precisar. Ligue se necessitar de algo.

      Eles estavam respeitando seu sofrimento. Ela sabia disso e se sentia estúpida, vendo que Ramirez ainda não havia morrido. Mas foi esse tempo também que a permitiu processar o trauma que havia ocorrido com ela no último caso. Avery ainda se arrepiava pensando nisso, relembrando o sentimento de quase ter sido congelada até a morte em duas ocasiões—dentro de um freezer industrial e caindo em águas frígidas.

      Mas, além de tudo isso, havia o fato de que Howard Randall estava à solta. Ele escapara de alguma maneira, tornando sua imagem ainda mais enigmática. Ela havia visto no noticiário alguns caras com reputação terrível venerando Howard nas redes sociais por suas habilidades de ter escapado da prisão sem deixar rastros.

      Avery pensou sobre tudo aquilo enquanto seguia sentada em uma poltrona reclinável que uma enfermeira havia trazido a ela na última semana, quando percebera que ela não iria sair dali tão cedo. Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho em seu telefone. Era o único som que ela atendia nos últimos dias, um sinal de que Rose estava tentando contato.

      Avery pegou seu telefone e viu que a filha havia deixado uma mensagem. Apenas para saber como você está, dizia o texto. Ainda plantada no hospital? Pare com isso. Saia e venha tomar algo com sua filha.

      Sem pensar muito, Avery respondeu. Você é menor de idade.

      A resposta chegou em seguida, dizendo: Ah, mãe, que bonito. Tem muita coisa que você não sabe sobre mim. E você poderia saber alguns desses segredos se saísse comigo. Só uma noite. Ele vai ficar bem sem você aí...

      Avery colocou o telefone de lado. Ela sabia que Rose estava certa, mesmo que não conseguisse aceitar a possibilidade de Ramirez finalmente acordar enquanto ela estivesse fora. E ninguém estaria ali para dar-lhe as boas-vindas, para pegar em sua mão e contar a ele o que acontecera.

      Ela saiu da poltrona e caminhou até ele. Já havia se acostumado com o fato dele parecer fraco, atrelado à máquina e com um tubo pela garganta. Quando lembrava do porquê ele estava ali—ele havia levado um tiro que vinha na direção dela—ele parecia mais forte do que nunca. Avery colocou as mãos no cabelo dele e beijou sua testa.

      Depois, segurou a mão dele e sentou na beirada da cama. Ela nunca contaria a ninguém, mas havia conversado com ele muitas vezes, esperando que ele pudesse escuta-la. Ela falou com Ramirez novamente naquele momento, sentindo-se um pouco tola, como sempre, mas seguindo o hábito naturalmente.

      - Então, é o seguinte – ela disse a ele. – Eu não saio do hospital há três dias. Preciso de um banho. Preciso comer algo decente e de uma xícara de café. Vou sair um pouco, ok?

      Avery apertou a mão de Ramirez, com seu coração despedaçado ao perceber que estava esperando que ele apertasse de volta. Ela o olhou, suspirou e depois pegou o telefone. Antes de sair do quarto, olhou para a TV. Pegou o controle remoto para desliga-la, mas acabou vendo o rosto que estava tentando tanto tirar de sua mente pelas últimas duas semanas.

      Howard Randall a olhava, com seu retrato sendo mostrado em metade da tela, enquanto o âncora do jornal, com uma expressão séria, lia algo no teleprompter. Avery desligou a TV com desgosto e saiu do quarto rapidamente, como se aquela imagem de Howard fosse um fantasma atrás dela.

      ***

      Saber que Ramirez deveria estar morando com ela (e que, de acordo com o anel que fora descoberto no bolso dele depois de ser atingido, ele a pediria em casamento) tornou a volta ao apartamento uma experiência melancólica. Quando entrou no local, olhou em volta distraidamente. O lugar parecia morto. Como se ninguém tivesse morado ali por eras, um lugar esperando para ser reformado, repintado e alugado para outra pessoa.

      Ela pensou em ligar para Rose. Elas poderiam sair para comer uma pizza. Mas sabia que Rose iria querer falar sobre o que estava acontecendo e Avery não estava pronta para isso ainda. Ela geralmente processava tudo rapidamente, mas agora era diferente. Ramirez correndo tanto risco e Howard Randall à solta... era demais.

      Além disso... mesmo que aquele lugar já não parecesse sua casa, ela precisava deitar naquele sofá. E sua cama chamava seu nome.

      Claro que aqui ainda é sua casa, Avery pensou. Só porque Ramirez pode acabar não vindo para cá com você, não quer dizer que não é sua casa. Não seja tão dramática.

      E ali estava, claro como o dia. Ela havia forçado seus pensamentos contra a realidade, mas agora que tudo havia tomado forma em pensamento, parecia um pouco mais assombroso.

      Com os ombros caídos, Avery seguiu para o banheiro. Tirou a roupa, entrou no banho, fechou a cortina e ligou a água quente. Ficou por lá vários minutos antes de se preocupar com sabonete ou xampu, deixando a água relaxar seus músculos. Quando acabou de se limpar, desligou o chuveiro, fechou a banheiro e a encheu de água quente. Ela se abaixou quando a banheira encheu, deixando-se relaxar.

      Quando a água chegou à borda, quase transbordando, desligou-a com os dedos. Fechou os olhos e mergulhou.

      O único som no apartamento era o da água em excesso e sua própria respiração.

      Logo depois, um terceiro som: o choro de Avery.

      Ela havia se segurado na maior parte do tempo, não querendo mostrar aquele seu lado no hospital e sem querer que Ramirez a escutasse chorando, como se ele pudesse ouvir qualquer coisa. Havia ido até o banheiro do quarto dele algumas vezes e chorado, porque não aceitava ter deixado tudo aquilo acontecer.

      Avery chorou na banheira e, com o pensamento de que Ramirez poderia não sobreviver vindo a sua mente, o choro foi um pouco mais forte do que ela imaginara.

      Ela continuou chorando e não saiu da banheira até que a água ficasse morna e suas mãos e pés enrugassem. Quando finalmente saiu, cheirando como um humano normal novamente e no meio de tanto vapor, se sentiu muito melhor.

      Depois de se vestir, Avery tirou um tempo para se maquiar um pouco e fazer seu cabelo ficar pelo menos apresentável. Depois, foi até a cozinha, serviu a si mesma uma tigela de ceral como almoço tardio, e checou o telefone, que havia deixado no balcão da cozinha.

      Aparentemente, seu nome estivera muito popular enquanto ela estava no banheiro.

      Havia três mensagens de voz e oito mensagens de texto. Todas elas de números conhecidos. Dois eram de linhas fixas do trabalho. Os outros eram de Finley e O’Malley. Uma das mensagens era de Connelly. Era a última recebida—sete minutos antes—e não era nada vaga. O texto dizia: Avery, é melhor você atender a porra do telefone se você gosta do seu trabalho!

      Ela sabia que aquilo era um blefe, mas o fato de Connelly ter enviado uma mensagem significava algo. Connelly quase nunca enviava mensagens. Algo sério havia acontecido.

      Ela não se preocupou em olhar

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