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baixinho.

      “Eu também,” Rose ecoa.

      Penélope geme baixinho,  e posso falar que ela também está com fome. É a cachorra mais inteligente que já conheci. E corajosa, apesar de seu tamanho. Mal consigo acreditar que ela mordeu Rupert quanto ela o fizera; se não fosse por ela, talvez nós não estivéssemos aqui. Eu me inclino e acaricio sua cabeça, ela me lambe de volta de satisfação.

      Agora que elas falaram de comida, percebo que é uma boa ideia. Eu tenho tentado ignorar as reclamações de meu estômago há tempo demais.

      “Vocês estão certas,” eu digo. “Vamos comer.”

      As duas olham para mim com os olhos arregalados de expectativa e ansiedade. Eu fico em pé, cruzo o barco e vou até um dos sacos. Tiro dois potes grande de geleia de framboesa e entrego um a Bree, tirando a tampa antes.

      “Vocês dividem este vidro,” eu digo a elas. “E nós três iremos dividir o outro.”

      Eu abro o outro pote e o entrego para Logan, que mete um dedo na geleia, pega uma boa quantia e a leva para sua boca. Ele suspira de satisfação – ele devia estar morrendo de fome

      Entrego o pode para Ben, que faz o mesmo e então, eu mesma coloco meus dedos no pote, tiro um pouco de geleia e a experimento. Sinto o açúcar na minha circulação quando sinto o gosto de framboesas na boca. É, possivelmente, a melhor coisa que eu já comi. Sei que não é uma refeição, mas se parece com uma.

      Parece que eu sou a guardiã da comida, então eu me dirijo ao baú e pego o que sobrou dos cookies, então dou um para cada um, inclusive para mim. Eu olho para o lado e vejo Bree e Rose comendo alegremente a geleia; a cada punhado que elas pegam, oferecem um pouco a Penélope. Ela lambe seus dedos como louca, choramingando. A coitadinha deveria estar com tanta fome quanto nós.

      “Ele vão voltar, você sabe,” ouço uma voz sinistra ao meu lado.

      Eu me viro e vejo Logan sentado, limpando sua pistola, olhando para mim.

      “Você sabe disso, certo?” ele pressiona. “Somos presas fáceis aqui.”

      “O que você sugere?” eu pergunto.

      Ele dá de ombros e desvia o olhar, desapontado.

      “Nós nunca deveríamos ter parado. Deveríamos ter seguido em frente, como eu havia dito.”

      “Bom, é tarde demais agora,” eu retruco, irritada. “Pare de reclamar.”

      Estou ficando farta de seu pessimismo o tempo inteiro, cansada de nossa disputa pela liderança. Eu não gosto de tê-lo por perto, tanto quanto eu gosto de sua companhia, ao mesmo tempo.

      “Nenhuma de nossas opções é boa,” ele começa. “Se seguirmos rio acima esta noite, podemos nos encontrar com eles. Podemos arruinar o barco também. Colidir contra um pedaço de gelo flutuante ou algo assim, eles provavelmente nos pegariam. Se partirmos ao amanhecer, eles poderão nos ver à luz do dia. Poderíamos navegar, mas eles também podem esperar por nós.”

      “Então vamos partir de manhã,” eu concluo. “Ao amanhecer. Vamos parar o norte e vamos rezar para que eles tenham dado a volta e estejam indo para o sul.”

      “E se eles não estiverem?” ele questiona.

      “Você tem alguma ideia melhor? Nós temos que nos afastar das cidades, não ir perto delas. Além disso, o Canadá fica ao norte, não é?”

      Ele se vira, olha para outro lado e suspira.

      “Poderíamos ficar por aqui,” ele fala. “Esperar alguns dias. Assegurar-nos que eles passem primeiro por nós.”

      “Com este tempo? Se não arranjarmos abrigo, iremos morrer de frio. E até lá, estaremos sem comida. Não podemos ficar aqui. Precisamos continuar andando.”

      “Ah, agora você quer continuar em frente,” ele cutuca.

      Eu  o encaro – ele está realmente começando a me irritar.

      “Tudo bem,” ele fala. “Vamos partir ao amanhecer. Até lá, se iremos passar a noite aqui, teremos que ficar de guarda. Em turnos. Eu começo, e depois vai você e depois Ben. Vocês dormem agora. Nenhum de nós dormiu ainda e todos nós precisamos. Fechado?” ele pergunta, olhando de Ben para mim e de mim para Ben.

      “Fechado,” eu respondo. Ele esta certo.

      Ben não se manifesta. Ele continua olhando para o nada, perdido em seus próprios pensamentos.

      “Ei,” Logan fala secamente, se abaixando e lhe chutando o pé, “estou falando com você Fechado?”

      Ben lentamente se vira e olha para ele, ainda parece desnorteado, então concorda. Mas não sei dizer se ele realmente o escutara. Eu me sinto tão mal por Ben; é como se ele não estivesse realmente aqui. Obviamente, ele está dominado pela tristeza e culpa por seu irmão. Não consigo nem imaginar pelo que ele está passando.

      “Ótimo” Logan fala. Ele verifica sua munição, apronta sua arma e salta do barco para as docas ao nosso lado. O barco balança, mas não se afasta muito. Logan fica em pé nas pedras secas, examinando os arredores. Ele se senta em um pedaço de madeira e olha para a escuridão, sua arma apoiada em seu colo.

      Eu fico junto com Bree, coloco meu braço ao seu redor. Rose também se aproxima e eu a abraço.

      “Vocês tem que descansar pouco. Teremos um longo dia amanhã,” eu digo, secretamente pensando se esta será nossa última noite na terra. Pergunto-me até se haverá um amanhã.

      “Não até eu tomar conta de Sasha,” Bree falas.

      Sasha. Eu havia quase me esquecido.

      Olho para o lado e vejo o corpo congelado de nossa cachorra do outro lado do barco. Mal consigo acreditar que nós a trouxemos para cá. Bree é uma dona muito leal.

      Bree se levanta e, silenciosamente, cruza o barco e fica junto a Sasha. Ela se ajoelha e lhe acaricia a cabeça. Seus olhos brilham com a luz da lua.

      Ando até elas e me abaixo ao seu lado. Também acaricio Sasha, eternamente grata por ela ter nos protegido.

      “Posso ajudá-la a enterrá-la?” eu pergunto.

      Bree diz que sim com a cabeça, ainda olhando para baixo, derramando uma lágrima.

      Juntas, nós pegamos Sasha e a levamos até a lateral do barco. Nós a seguramos ali, nenhuma de nós quer soltá-la. Olho para a água gelada do Hudson abaixo de nós, há ondas se formando.

      “Você quer dizer alguma coisa?” eu pergunto, “antes de soltá-la?”

      Bree olha para baixo, tentando afastar as lágrimas, seu rosto é iluminado pela luz do luar. Ela parece um anjo.

      “Ela era uma cachorra maravilhosa. Salvou minha vida. Eu espero que ela esteja em um lugar melhor agora. E espero que eu a veja de novo um dia,” ela diz, sua voz fraquejando.

      Nós nos esticamos o máximo que conseguimos e, gentilmente colocamos Sasha na água. Com um pouco de água espirrando, seu corpo encontra a água. E flutua por um segundo ou dois, e então começa a afundar. As ondas do Hudson são fortes e, rapidamente, a levam, rumo ao mar aberto. Nós a observamos, meio submersa, sob a luz da lua, indo cada vez mais longe. Sinto meu coração apertar. Lembro-me de como estive perto de perder Bree de verdade, de ser arrastada pelo Hudson, assim como Sasha.

*

      Eu não sei quantas horas passaram. Agora deve ser tarde da noite e estou deitada no barco, encolhida junto com Bree e Rose, pensando, sem conseguir dormir. Nenhuma de nós disse uma palavra sequer desde que colocamos Sasha na água. Ficamos apenas sentadas, caladas, enquanto o barco levemente se mexe. A alguns metros de nós, está Ben, também perdido em seus próprios pensamentos. Ele parece mais morto do que vivo; às vezes, quando olho para ele, sinto que estou vendo um fantasma. É esquisito: estamos todos juntos, aqui, mas, ao mesmo tempo, estamos em mundos completamente diferentes.

      Logan está a uns dez metros, de guarda, vigiando o píer, segurando sua arma, enquanto ele examina os arredores. Eu consigo imaginá-lo

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