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a carcaça do barco, despedaçando madeira. Rose e Bree gritam.

      “Abaixem-se!” eu berro.

      Eu me lanço sobre Bree e Rose, as agarro e as jogo no chão. Logan, impressionantemente, sequer se encolhe, continua pilotando o barco. Ele desvia um pouco, mas não perde o controle. Ele se agacha enquanto pilota, tentando evitar as balas e também os pedaços de gelo que começam a surgir no rio.

      Ajoelho-me na parte de trás do barco, levantando minha cabeça apenas o necessário, miro, ao estilo militar, com minha pistola. Quero atingir o piloto, disparo várias vezes.

      Nenhum o atinge, mas, pelo menos, eles mudam de direção.

      “Fique com o timão!” Logan grita para Ben.

      Ben, para seu crédito, não hesita. Ele corre para a frente e fica co o timão, o barco vira um pouco ao fazê-lo.

      Logan então corre para o meu lado, se ajoelhando.

      Ele dispara e suas balas falham, atingindo o barco. Ele disparam contra nós e uma bala não me atinge por centímetros. Eles estão se aproximando rapidamente.

      Outra bala arranca um grande pedaço de madeira da traseira do nosso barco.

      “Eles estão disparando no nosso tanque de combustível!” Logan berra. “Mire no deles!”

      “Onde fica?” eu grito mais alto que o ronco do motor e o som dos disparos no ar.

      “Na parte de trás do barco, do lado esquerdo!” ele responde aos gritos.

      “Eu não consigo visualizá-lo bem,” eu falo. “Não enquanto estiverem de frente para nós.”

      De repente, tenho uma ideia.

      “Ben!” eu chamo. “Você precisa fazer com que eles virem. Precisamos ter uma boa visão do tanque de combustível deles!”

      Ben não hesita; eu mal termino de falar e ele já está girando o timão com tanta força que eu acabo caindo de lado no barco.

      Os comerciantes de escravos viram também, tentando nos seguir. E isso expõe a lateral de seu barco.

      Eu me ajoelho, assim como Logan e então disparamos vários tiros.

      A princípio, nossas balam erram.

      Vamos. Vamos!

      Penso em papai. Mantenho meu pulso firme, respiro profundamente e atiro mais uma vez.

      Para minha surpresa, faço um disparo certeiro.

      O barco dos comerciantes de escravos explode. Meia dúzia de comerciantes de escravos presentes pega fogo e gritam enquanto o barco acelera fora de controle. Segundos depois, ele bate contra a costa.

      Outra enorme explosão. O barco deles afunda rapidamente e, se alguém ainda estava vivo, agora deve estar se afogando no Hudson.

      Ben nos direciona rio acima, nos mantém em linha reta; lentamente, dou um suspiro. Mal posso acreditar. Nós os matamos.

      “Belo tiro,” Logan elogia.

      Mas não temos tempo para descansar com a nossa vitória. Ao longe, cada vez mais perto, há outro barco. Duvido que tenham a mesma chance duas vezes.

      “Estou sem munição,” eu falo.

      “Também estou quase sem,” Logan diz.

      “Não conseguiremos confrontar o próximo barco,” eu falo. “E não somos rápidos o suficiente para deixá-los para trás.”

      “O que você sugere?” ele pergunta.

      “Temos que nos esconder.”

      Olho para Ben.

      “Encontre um abrigo. Faça isso agora. Temos que esconder este barco. URGENTE!”

      Ben acelera e eu vou para a frente do barco, fico ao seu lado, analisando o rio à procura de qualquer esconderijo. Talvez, se tivermos sorte, eles passarão por nós sem nos perceber.

      Ou talvez não.

      Q U A T R O

      Todos nós examinamos o horizonte desesperadamente e, finalmente, à direita, vemos uma pequena abertura. Ela leva a um antigo porto de barcos, todo enferrujado.

      “Ali, à direita!” eu falo para Ben.

      “E se eles nos virem?” ele pergunta “Não teremos como sair. Estaremos presos. Eles irão nos matar.”

      “É um risco que precisamos correr” eu respondo.

      Ben pega mais velocidade e faz uma acentuada curva direcionando para a pequena abertura.  Nós passamos pelos portões enferrujados, a entrada estreita é a abertura de um armazém. Quando atravessamos o portão, ele desliga o motor e então vira à esquerda, nos escondendo por trás da margem, enquanto balançamos à deriva. Olho para a movimentação que deixamos, sob a luz da lua, e rezo para que ela suavize o bastante para que os comerciantes de escravos não vejam nossos rastros.

      Todos nós sentamos ansiosamente em silêncio, balançando na água, observando, esperando. O ronco do motor dos comerciantes de escravos vai ficando mais nítido e então eu seguro minha respiração.

      Por favor, meu Deus. Deixe que eles passem por nós.

      Os segundos parecem durar horas.

      Finalmente, o barco deles desliza diante de nós, não desacelerando nem por um segundo.

      Seguro minha respiração por mais dez segundos até o barulho do motor deles ficar débil, rezando que eles não voltem.

      E eles não fazem. Funcionou.

*

      Quase uma hora se passou desde que chegamos aqui, estamos todos amontoados juntos,  exaustos, em nosso barco. Não nos movemos com medo de sermos detectados. Mas eu não ouço nenhum barulho desde então e não detectei nenhuma atividade desde que o barco deles passara por nós. Pergunto-me para onde eles foram. Será que ainda estão subindo o Hudson, em direção ao norte, na escuridão, ainda achando que estamos atrás da curva? Ou eles perceberam e estariam voltando, observando as margens dos rios, procurando por nós? Não deixo de pensar que é só uma questão de tempo para que eles voltem por este caminho.

      Quando me estico no barco, penso que estamos começando a nos sentir mais relaxados, menos cautelosos. Estamos todos escondidos aqui, dentro desta estrutura enferrujada e, mesmo que eles retornem, não sei como eles poderiam nos encontrariam.

      Minhas pernas e pés estão com câimbras de tanto ficar sentada, ficou muito mais frio e estou congelando. Posso ver pelo bater dos dentes de Bree e Rose que elas também estão. Eu gostaria que tivéssemos cobertor ou roupas para dar a elas, ou qualquer coisa que aquecesse. Gostaria que pudéssemos acender uma fogueira – não apenas para nos aquecer, mas também para que pudéssemos nos ver, nos confortar com uns rostos um dos outros. Mas sei que isso está fora de questão. Seria arriscado demais.

      Vejo Ben sentado ali, encolhido, tremendo, e me lembro das calças que eu peguei. Levanto-me,  o barco balança com força quando o faço, dou alguns passos em direção ao saco e tiro as calças de dentro. Eu as jogo para Ben.

      Elas aterrissam em seu peito e ele olha para mim, confuso.

      “Elas devem servir,” eu digo. “Experimente.”

      Ele está usando jeans surrados, cheios de buracos, finos, e molhados com água. Aos poucos, ele se inclina e tira suas botas, então desliza as calças de couro por cima de seus jeans. Elas ficam engraçadas neles, as calças militares do comerciante de escravos – mas, como eu suspeitava, servem perfeitamente. Ele puxa o zíper, calado, enquanto se inclina para trás, e posso ver gratidão em seus olhos.

      Sinto Logan olhando para mim e que ele está com ciúmes de minha amizade com Ben. Ele está assim desde que viu Ben me dar um beijo lá na Estação Penn. É esquisito, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Eu gosto dos dois, de diferentes jeitos. Nunca havia conhecido duas pessoas opostas – e, mesmo assim, de algum jeito, eles me lembram um ao outro.

      Eu vou em direção a Bree,

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