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e ao fazerem a curva, eles jogam as lanças contra alvos distantes: escudos pendurados em galhos. Quando acertam, o barulho distinto de metais ressoa pelo local

      Kyra sabe que arremessar lanças de cima de um cavalo é mais difícil do que parece, e vários homens erram o alvo, especialmente à medida que passam a apontar para os escudos ainda menores. Daqueles que atingem o alvo, poucos acertam o centro, com exceção de Anvin, Vidar, Arthfael e alguns outros. Maltren, ela nota, erra várias vezes, xingando baixinho e olhando para ela, como se ela fosse a culpada.

      Para continuar aquecida, Kyra pega seu cajado e começa a girá-lo em suas mãos, por cima da cabeça e ao redor de seu corpo, torcendo e girando o cajado como se ele fosse uma coisa viva. Ela desfere golpes em inimigos e bloqueia ataques imaginários, alternando as mãos, ao longo de seu pescoço, em volta da cintura, usando o cajado de madeira gasta após anos de uso como um terceiro braço.

      Enquanto os homens circulam os campos, Kyra corre para seu próprio campo, uma pequena área dos campos de treinamento negligenciada pelos homens, mas que ela usa para si mesma. Pequenos pedaços de armadura pendem de cordas em um bosque de árvores, espalhados em diferentes alturas. Kyra passa por cada uma delas, fingindo que cada alvo é um adversário, batendo nos alvos com seu cajado. O ar é tomado pelo som de seu cajado enquanto ela corre pelo bosque, cortando, costurando e esquivando-se à medida que eles oscilam de volta para ela. Em sua mente, ela ataca e defende gloriosamente, conquistando um exército de inimigos imaginários.

      "Já conseguiu matar alguém?" diz uma voz zombeteira.

      Kyra vê Maltren montado em seu cavalo, rindo ironicamente dela antes de se afastar. Ela se irrita, desejando que alguém o colocasse em seu lugar.

      Kyra faz uma pausa quando ela vê alguns homens, empunhando suas lanças, desmontarem e formarem um círculo ao redor da clareira. Seus escudeiros correm para lhes entregar espadas de treinamento de madeira feitas de carvalho grosso, que pesam quase tanto quanto o aço. Kyra fica na periferia, com seu coração acelerado, enquanto observa aqueles homens se enfrentando, querendo mais do que qualquer outra coisa se juntar a eles.

      Antes que eles comecem, Anvin entra no meio e encara todos os presentes.

      "Neste feriado, duelamos por uma recompensa especial," ele anuncia. "O vencedor terá direito as melhores porções do banquete!"

      Um grito de excitação se segue e os homens atacam uns aos outros, com o barulho de suas espadas de madeira enchendo o ar, enquanto se alternam entre recuar e atacar.

      A disputa é marcada pelo som de uma buzina, soando cada vez que um lutador é atingido por um golpe, sendo enviado para a lateral da clareira.  A buzina soa com frequência, e logo as fileiras começam a diminuir à medida que a maioria dos homens agora está em pé assistindo.

      Kyra fica ao lado com eles, morrendo de vontade de participar, embora ela não tenha permissão. No entanto, é seu aniversário, ela completa quinze anos hoje e se sente preparada. Ela sente que é hora de insistir um pouco.

      "Deixe-me juntar a eles!" Ela implora para Anvin, que está perto, observando.

      Anvin balança a cabeça, sem tirar os olhos da ação.

      "Hoje é meu décimo quinto aniversário!" Ela insiste. "Permita que eu participe!"

      Ele olha para ela com ceticismo.

      "Este é um campo de treinamento para homens," opina Maltren, em pé próximo a eles, depois ter sido eliminado. "Não é um lugar para garotas. Você pode sentar e assistir com os outros escudeiros, e nos trazer água se nós pedirmos."

      Kyra fica corada.

      "Você está com medo que uma menina possa derrotá-lo?" Ela responde, mantendo-se firme, sentindo uma onda de raiva dentro dela. Ela é filha de seu pai, afinal, e ninguém pode falar com ela dessa forma.

      Alguns dos homens dão risadas e, desta vez, Maltren enrubesce.

      "Ela tem razão," Vidar entra na conversa. "Talvez devêssemos deixá-la participar. O que temos a perder?"

      "E ela vai usar o quê?" Maltren rebate.

      "Meu cajado!" Kyra grita. "Contra suas espadas de madeira."

      Maltren ri.

      "Isso é algo que eu pagaria para ver," ele retruca.

      Todos os olhos se voltam para Anvin, que fica parado, considerando o assunto.

      "Se você se machucar, seu pai vai me matar," ele fala.

      "Eu não vou me machucar," afirma ela.

      Ele fica parado mais uns instantes, – uma eternidade para Kyra, até que, finalmente, ele suspira.

      "Não vejo nenhum mal nisso, então," ele declara. "No mínimo, isso a manterá calada. Caso nenhum destes homens tenha alguma objeção," ele acrescenta, voltando-se para os soldados.

      "Claro!" Grita uma dúzia dos homens de seu pai, em uníssono, todos entusiasmados e torcendo por ela. Kyra se sente agradecida por isso, mais do que ela poderia dizer. Ela vê a admiração que eles sentem por ela, o mesmo amor que reservam para seu pai. Ela não tem muitos amigos, e aqueles homens significam o mundo para ela.

      Maltren zomba.

      "Então deixem a menina fazer uma tola de si mesma," ele fala. "Pode ser que isso lhe ensine uma lição de uma vez por todas."

      A buzina soa, e quando um dos homens sai do círculo, Kyra corre para o centro.

      Kyra sente todos os olhos nela quando os homens a observam, claramente não esperando por aquilo. Ela se vê diante de seu adversário, um homem alto, de compleição robusta, com aproximadamente trinta anos, – um poderoso guerreiro que ela conhecia desde os tempos de seu pai na corte. Tendo observado ele antes, ela sabe que ele é um bom lutador, mas também excessivamente confiante – atacando logo no início de cada luta, um pouco imprudente.

      Ele se vira para Anvin, franzindo a testa.

      "Que insulto é esse?" ele pergunta. "Não vou lutar contra uma menina."

      "Você se insulta por medo de lutar comigo," Kyra responde indignada. "Eu tenho duas mãos e duas pernas, assim como você. Se você não vai lutar comigo, então admita sua derrota!"

      Ele pisca, em choque, depois faz uma careta para ela.

      "Muito bem, então," ele fala. "Não vá correndo para o seu pai depois que você perder."

      Ele ataca a toda a velocidade, como ela sabia que ele faria, erguendo a espada de madeira, e dando um golpe direto, apontando para o ombro dela. É um movimento que ela já tinha antecipado, tendo observado ele realizar o golpe muitas vezes – um movimento que ele inconscientemente sinaliza pelo movimento de seus braços. Sua espada de madeira é poderosa, mas também é pesada e desajeitada em comparação ao cajado de Kyra.

      Kyra observa atentamente, esperando até o último momento, e então desvia, fazendo com que o poderoso golpe passe ao lado de seu corpo. No mesmo movimento, ela gira seu cajado e acerta um golpe na lateral do ombro de seu adversário.

      Ele geme ao cair para o lado. Ele fica parado, atordoado, irritado por ter que admitir a derrota.

      "Mais alguém?" Pergunta Kyra, sorrindo abertamente, virando-se de frente para o círculo de homens.

      A maioria deles está sorrindo, claramente orgulhosos dela, orgulhosos de vê-la crescer e chegar a este ponto. Exceto, é claro, Maltren, que franze a testa como se estivesse prestes a desafiá-la, quando de repente outro soldado aparece, encarando Kyra com uma expressão séria. Este homem é mais baixo e mais largo, com uma barba vermelha desgrenhada e olhos ferozes. Ela percebe pelo jeito que ele empunha sua espada que ele é mais cauteloso do que seu adversário anterior. Ela toma isso como um elogio: finalmente, eles estão começando a levá-la a sério.

      Ele ataca, e Kyra não sabe por que, mas por alguma razão, saber o que fazer é fácil para ela. É como se seus instintos assumissem o controle e decidissem por ela. Ela percebe que é muito mais leve e mais ágil do que aqueles homens com suas armaduras e espadas de madeira pesadas. Todos

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