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identifica excrementos ao longo das ruas e fica enojada com o cheio, mesmo à distância. As eventuais vacas passeando pelas ruas também não ajudam. Se ela tivesse pensado em voltar no tempo para recuperar o romantismo, esse lugar certamente não seria o melhor destino.

      Além disso, ela não tinha visto pessoas passeando bem vestidas, carregando sombrinhas e exibindo as últimas tendências da moda, como tinha sido em Veneza e Paris. Ao invés disso, elas se vestem com simplicidade e com roupas ultrapassadas; os homens vestem roupas da fazenda, que parecem trapos, e alguns vestem calças brancas e túnicas curtas que parecem saias. As mulheres, por sua vez, ainda estão tão cobertas que têm dificuldades para andar pelas ruas segurando as barras das saias o mais alto que conseguem – não apenas para mantê-las longe da lama e dos excrementos, mas também dos ratos, que Caitlin se surpreende ao ver correndo pelas ruas abertamente.

      Ainda assim, apesar de tudo, o modo de vida da época é certamente único – e, pelo menos, bastante descontraído. Ela tem a impressão de que está em uma grande vila rural, bem diferente do ritmo frenético do século XXI. Não há carros nas ruas; nenhum som de construções, ou buzinas, ônibus, caminhões e máquinas. Até mesmo o som dos cavalos parece abafado, com suas patas se afundando na lama. De fato, o único som que pode ser ouvido além dos gritos dos vendedores, é o som dos sinos de igrejas, como um coral de bombas, soando por toda a cidade. Londres é obviamente dominada pelas igrejas.

      As únicas coisas sinalizando o futuro que está por vir, por incrível que pareça, são as igrejas – erguendo-se acima da arquitetura simples e dominando a paisagem da cidade com suas torres incrivelmente altas. Na verdade, o prédio de onde acabam de sair, a Abadia de Westminster, se ergue acima de todos os outros prédios a vista. Ela pressente que seu campanário é a referência para que toda a cidade se oriente.

      Ela olha para Caleb, e vê que ele está avaliando a cena, igualmente assombrado. Ela estica o braço e fica feliz quando ele segura em sua mão. É agradável sentir seu toque novamente.

      Ele se vira para ela e Caitlin pode ver o amor nos olhos dele.

      "Bem," ele diz, limpando a garganta, "isso não é nada parecido com a Paris do século XVIII."

      Ela sorri para ela. "Não, de forma alguma.”

      "Mas estamos juntos, e é isso que importa," completa ele.

      Ela sente o amor de Caleb, quando ele olha dentro dos olhos dela e, por um momento, ela se esquece de sua missão.

      "Sinto muito por tudo que aconteceu na França," ele diz. "Com Sera. Eu nunca tive a intenção de magoar você, espero que saiba disso."

      Ao olhar para ele, Caitlin sabe que ele está sendo sincero. E para sua surpresa, ela sente que pode perdoá-lo facilmente. A antiga Caitlin teria guardado rancor, mas ela se sente mais forte do que nunca, e realmente acha que pode esquecer tudo. Especialmente porque ele havia voltado para ela, e especialmente porque está claro que ele não tem mais qualquer sentimento por Sera.

      E acima de tudo, ela agora, pela primeira vez, reconhece seus próprios erros do passado, sua tendência a julgar rápido demais, a não confiar nele, e não lhe dar o devido espaço.

      “Eu também sinto muito,” ela diz. "Esta é uma nova vida, e estamos juntos agora. Nada mais importa.”

      Ele aperta a mão dela, e quando faz isso, Caitlin é tomada pela emoção.

      Ele se inclina e a beija. Ela fica surpresa, e excitada ao mesmo tempo. Ela sente a eletricidade atravessando seu corpo, e retribui o beijo.

      Ruth começa a gemer aos pés deles.

      Eles se afastam, olham para baixo e caem na risada.

      "Ela está com fome," Caleb diz.

      "Eu também.”

      "Vamos conhecer Londres?" ele convida com um sorriso. "Podemos voar," ele completa, “isso é, se você estiver preparada.”

      Ela alonga os ombros e sente a presença de suas asas, e tem certeza de que está de fato pronta. Caitlin já se sente recuperada da última viagem no tempo, e pensa que talvez esteja, afinal, se acostumando com o procedimento.

      "Estou," ela diz, "mas prefiro ir andando. Gostaria de conhecer a cidade, pela primeira vez, como as outras pessoas o fazem.”

      E também porque é bem mais romântico, ela pensa, mas não diz nada.

      Mas ele olha para ela e sorri, e ela se pergunta se ele teria lido seus pensamentos.

      Ele estende o braço, sorrindo, ela segura na mão dele e os dois começam a descer as escadas.

*

      Ao saírem da igreja, Caitlin localiza um rio a distância, e uma rua larga a uns cinquenta metros dele, com uma placa esculpida grosseiramente com os dizeres “Estrada do Rei.” Eles teriam que escolher entre virar à direita ou à esquerda. A cidade parece mais desenvolvida à esquerda.

      Eles viram para a esquerda, na direção norte, seguindo a Estrada do Rei paralela ao rio. Enquanto andam, Caitlin fica encantada com a paisagem e os sons, absorvendo tudo que vê pela frente. A direita deles há uma série de grandiosas casas de madeira ao estilo Tudor, com os exteriores em estuque branco e bordas marrons que terminam em telhados de palha. A esquerda, ela fica surpresa ao ver pequenas fazendas com eventuais casas simples e algumas vacas e ovelhas pontuando a paisagem. A cidade de Londres em 1599 a fascina. Um lado da rua é cosmopolita e abastado, enquanto o outro ainda é povoado por fazendeiros.

      A rua em si já é motivo de espanto. Seus pés se prendem à lama enquanto eles andam, a terra está ainda mais fofa e macia devido ao trânsito de pedestres e cavalos. Isso seria aceitável, mas em meio à lama há excrementos das matilhas de cães selvagens que vagam pelas ruas, ou fezes humanas arremessadas pelas janelas. Na verdade, enquanto avançam, algumas janelas se abrem ocasionalmente, e baldes aparecem, com mulheres idosas despejando os excrementos das casas pelas janelas. O cheiro no ar é bem pior do que o que ela tinha sentido em Veneza, Florença ou Paris. Ela quase passal mal em diversas ocasiões, e gostaria de ter uma daquelas bolsinhas perfumadas para levar ao nariz. Por sorte, ela ainda está calçando os sapatos de treinamento que Aiden tinha lhe dados em Versalhes. Ela não quer nem pensar em como seria ter que andar naquelas ruas com saltos.

      Mesmo assim, em meio à estranha mistura de áreas rurais com grandes propriedades, ocasionalmente eles encontram alguns feitos arquitetônicos. Caitlin se encanta ao perceber, espalhados pelo caminho, algumas construções que ela reconhece de fotos do século XXI, igrejas belíssimas e ocasionalmente alguns palacetes.

      A estrada chega abruptamente ao fim em diante de um grande portão, com vários guardas uniformizados parados em frente dele, empunhando lanças. Mas o portão está aberto, e eles simplesmente passam por ele.

      Uma placa presa na coluna de pedra diz “Palácio Whitehall,” e eles continuam caminhando por um pátio comprido e estreito, passando por outro portão e chegarem ao outro lado, de volta à estrada. Eles logo chegam a uma pequena rotatória onde há outra placa com os dizeres “Charing Cross,” e um grande monumento vertical no meio. A rua se divide para a direita e para a esquerda.

      "Para que lado?" ela pergunta.

      Caleb parece tão confuso quanto ela. Finalmente, ele diz, “Meus instintos dizem que devemos permanecer próximos ao rio, e seguirmos pela direita.”

      Ela fecha os olhos e tenta se concentrar também. "Eu concordo," ela diz, e completa, "Você faz alguma ideia do que é que estamos procurando, exatamente?"

      Ele balança a cabeça negativamente. "Seu palpite é tão bom quanto o meu.”

      Ela olha para o anel e lê a charada mais uma vez.

Across the Bridge, Beyond the Bear,With the Winds or the sun, we bypass London

      A charada não a ajuda, e parece não surtir qualquer efeito sob Caleb também.

      "Bem, ela menciona Londres," diz ela, "então acredito que estamos no caminho certo. Meu instinto me diz que devemos continuar avançando, entrar na cidade, e que saberemos quando encontrarmos.”

      Ele concorda, e Caitlin

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