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Você me entende? Deixe a minha presença e nunca mais volte aqui. Vou relegar você a uma posição muito longe daqui. E se alguma vez pisar dentro das muralhas do castelo de novo, tenha a certeza de que eu vou mandar arrestá-lo.”

      “AGORA VÁ EMBORA!” Gareth gritou com fúria.

      Firth virou-se e fugiu do quarto com os olhos cheios de lágrimas, seus passos ecoaram por muito tempo depois que ele desceu pelo corredor.

      Os pensamentos de Gareth se voltaram para a espada, para sua tentativa fracassada. Ele não podia evitar sentir que tinha posto em marcha uma grande calamidade contra si mesmo. Ele sentia como se tivesse acabado de se jogar por um penhasco e que daquele momento em diante, ele só estaria enfrentando sua caída.

      Ele ficou ali, grudado ao chão de pedra no silêncio do quarto de seu pai, tremendo. Ele se perguntava que classe de situação ele tinha criado. Ele nunca tinha se sentido tão só, tão inseguro.

      Era isso o que significava governar?

*

      Gareth se apressou pela escada de pedra em forma de espiral, percorrendo andar após andar, para chegar até o seu caminho no parapeito das muralhas mais altas do castelo. Ele precisava de ar fresco. Ele precisava de tempo e espaço para pensar. Ele precisava de uma vista apreciável do seu reino, de uma chance de ver a sua corte, o seu povo e de lembrar que tudo aquilo era seu. Ele precisava lembrar que apesar do pesadelo que tinham sido os eventos do dia, depois de tudo, ele ainda era rei.

      Gareth tinha dispensado seus assistentes e corria sozinho, lance após lance respirando com dificuldade. Ele parou em um dos andares, inclinou-se e prendeu a respiração. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele continuava vendo o rosto de seu pai, repreendendo-o em cada volta.

      “Eu odeio você!” Ele gritou para o vazio.

      Ele podia jurar que ele tinha ouvido um riso zombeteiro de volta. O riso de seu pai.

      Gareth precisava ir embora dali. Ele virou-se e continuou correndo, correndo, até que finalmente chegou ao topo. Ele entrou pela porta e o ar fresco do verão golpeou seu rosto.

      Ele respirou fundo recuperando o fôlego, deleitando-se com a luz do sol, com a brisa quente. Ele tirou o manto, o manto de seu pai e jogou-o no chão. Estava quente demais e ele já não queria mais usá-lo.

      Ele correu para a beira do parapeito e agarrou-se ao muro de pedra, respirando com dificuldade, olhando para baixo para sua corte. Ele podia ver a multidão interminável deixando o castelo. Eles estavam saindo da cerimônia. Sua cerimônia. Ele quase podia sentir sua decepção dali onde estava. Eles pareciam tão pequenos. Ele se maravilhou com o fato de que todos eles estavam sob seu controle.

      Mas por quanto tempo?

      “Reinados são coisas curiosas.” Disse uma voz antiga.

      Gareth virou-se e viu, para sua surpresa, Argon ali a metros de distância usando um manto branco com capuz e segurando seu bastão. Argon olhava para ele com um sorriso no canto dos lábios, mas seus olhos não estavam sorrindo. Eles estavam brilhando, olhando através dele e eles deixavam Gareth nervoso. Eles viam demais.

      Havia tantas coisas que Gareth tinha desejado dizer a Argon, que tinha desejado perguntar-lhe. Mas agora que ele já havia falhado em empunhar a espada, ele não conseguia se lembrar de uma única delas.

      “Por que você não me contou?” Gareth suplicou com desespero em sua voz. “Você poderia ter me dito que eu não estava destinado a erguê-la. Você poderia ter me poupado dessa vergonha.”

      “E por que eu faria isso?” Argon perguntou.

      Gareth fez uma careta.

      “Você não é um verdadeiro conselheiro do Rei.” Disse ele. “Você teria aconselhado meu pai lealmente. Mas não me aconselhou.”

      “Talvez ele fosse merecedor de um conselheiro leal.” Argon replicou.

      A fúria de Gareth aprofundou-se. Ele odiava aquele homem. E o culpava de tudo.

      “Eu não quero você perto de mim. “Disse Gareth. “Não sei por que meu pai nomeou você, mas não quero você na corte do rei.”

      Argon riu, era uma risada oca, apavorante.

      “Seu pai não me nomeou, rapaz tolo.” Ele disse. “Nem o pai dele. Eu estava destinado a estar aqui. Na verdade, você pode dizer que eu os nomeei.”

      Argon de repente deu um passo à frente e parecia que ele estava olhando para alma de Gareth.

      “Será que eu poderia dizer o mesmo de você?” Argon perguntou. “Será que você está destinado a estar aqui?”

      Suas palavras tocaram um nervo em Gareth, ele sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Era o que Gareth tinha estado perguntando a si mesmo. Gareth se perguntava se elas eram uma ameaça.

      “Aquele que reinar por sangue vai governar com sangue.” Argon proclamou e com essas palavras, ele rapidamente virou as costas e começou a se afastar.

      “Espere!” Gareth gritou, não querendo mais que ele fosse embora, ele precisava de respostas. “O que quer dizer com isso?”

      Gareth não podia evitar sentir que Argon estava dando-lhe uma mensagem: que ele não iria governar por muito tempo. Ele precisava saber se era isso que ele queria dizer.

      Gareth correu atrás dele, mas quando ele se aproximou, Argon desapareceu bem diante de seus olhos.

      Gareth virou-se, olhou ao seu redor, mas não viu nada. Ele ouviu apenas um riso oco, em algum lugar no ar.

      “Argon!” Gareth gritava.

      Ele virou-se novamente, em seguida, olhou para os céus, apoiou-se em um joelho, jogou a cabeça para trás e deu um grito estridente:

      “ARGON!”

      CAPÍTULO SETE

      Erec marchava ao lado do Duque, de Brandt e de dezenas de homens da comitiva do Duque, pelas ruas sinuosas de Savária. À medida que eles prosseguiam a multidão crescia. Eles iam em direção à casa da jovem serva. Erec havia insistido em encontrá-la sem demora e o duque queria mostrar-lhe o caminho pessoalmente. E por onde o Duque passava, todos o seguiam. Erec olhava para a enorme e crescente comitiva e estava envergonhado, ele percebeu que chegaria à casa da moça com dezenas de pessoas a reboque.

      Desde a primeira vez que ele a viu, Erec não foi capaz de pensar em mais nada. Ele se perguntava: quem era aquela garota que parecia tão nobre e ainda assim trabalhava como serva na corte do Duque? Por que ela fugiu dele tão apressadamente? Por que, em todos esses anos, de todas as mulheres nobres que ele conhecera, ela era a única que tinha capturado seu coração?

      O fato de ter estado próximo da realeza toda a sua vida, perto do próprio filho do rei, deu a Erec a capacidade de detectar alguém da realeza em um instante. Por isso, nem bem ele viu a jovem, ele percebeu que ela era de uma posição muito mais nobre do que aquela que estava ocupando. Ele estava ardendo de curiosidade para saber quem ela era; de onde era; o que ela estava fazendo ali. Ele precisava de mais uma oportunidade para pôr seus olhos sobre ela para ver se ele estava imaginando tudo aquilo ou se seus sentimentos ainda eram os mesmos.

      “Meus servos me disseram que ela vive na periferia da cidade. Explicou o Duque, conversando enquanto caminhavam. Enquanto eles prosseguiam, as pessoas de todos os lados das ruas abriam suas janelas e olhavam, estavam surpresas com a presença do Duque e de sua comitiva ali naquelas ruas tão humildes.

      “Aparentemente, ela é uma das criadas do dono de uma hospedaria. Ninguém sabe sua origem, de onde ela veio. Tudo o sabem é que um dia ela chegou a nossa cidade e foi contratada para trabalhar nessa hospedaria. Seu passado, pelo que parece, é um mistério.”

      Todos dobraram por outra rua, o calçamento debaixo dos seus pés era cada vez mais esburacado. À medida que eles avançavam, podiam notar que as casas eram menores, estavam muito mais próximas umas das outras e estavam mais dilapidadas. O Duque pigarreou.

      “Eu a empreguei como serva em minha corte durante ocasiões especiais. Ela é calma e reservada. Ninguém sabe muito

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