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uma, mas duas vezes – ainda estava vivo e agora em liberdade.

      Maria se levantou e, antes de sair, inclinou-se e apertou os lábios contra os dele.

      –Nós vamos fazer isso de novo em breve, eu prometo. Mas agora, o dever me chama.

      —Claro, disse ele. Vá e encontre-o. E Maria? Seja cuidadosa. Ele é perigoso.

      –Eu também. Ela piscou e saiu do restaurante apressadamente.

      Reid ficou lá sozinho por um longo momento. Quando a garçonete se aproximou, ele nem ouviu as palavras dela; apenas acenou vagamente para indicar que estava bem. Mas estava longe de estar bem. Nem sentiu o formigamento elétrico nostálgico quando Maria o beijou. Tudo o que podia sentir era um nó de pavor se formando em seu estômago.

      O homem que acreditava estar predestinado para matar Kent Steele havia escapado.

      CAPÍTULO CINCO

      Adrian Cheval ainda estava acordado apesar da hora tardia. Ele se sentou em um banquinho na cozinha, com o olhar embaçado e sem piscar olhou para a tela do laptop na frente dele, seus dedos digitavam freneticamente.

      Parou tempo suficiente para ouvir Claudette descendo suavemente as escadas acarpetadas do sótão em seus pés descalços. O apartamento deles em Marselha era pequeno, mas aconchegante, no fim de uma rua tranquila, a uma curta caminhada de cinco minutos do mar.

      Um momento depois, sua leve silhueta e seu cabelo de fogo apareceram. Ela colocou as mãos nos ombros dele, deslizando-as para cima e para baixo, descendo pelo peito dele, a cabeça pousando na parte superior de suas costas.

      –Mon chéri, ela ronronou. Meu amor. Eu não consigo dormir.

      –Nem eu, ele respondeu suavemente em francês. Há muito a ser feito.

      Ela o mordeu gentilmente no lóbulo da orelha.

      –Conte-me.

      Adrian apontou para a tela, que exibia a estrutura cíclica de RNA de fita dupla da varíola major – o vírus conhecido pela maioria como varíola.

      –Esta linhagem da Sibéria é… é incrível. Eu nunca vi nada como isso. Pelos meus cálculos, a virulência seria espantosa. Estou convencido de que a única coisa que poderia tê-la impedido de erradicar a humanidade há milhares de anos foi o período glacial.

      —Um novo dilúvio. Claudette gemeu um suspiro suave em seu ouvido. Quanto tempo até que esteja pronto?

      –Eu preciso fazer modificações na cepa, mantendo a estabilidade e a virilidade, explicou ele. Não é uma tarefa simples, mas é necessária. A OMS obteve amostras desse mesmo vírus cinco meses atrás; não há dúvida de que uma vacina está sendo desenvolvida, se já não houver uma. Nossa cepa deve ser única o suficiente para que suas vacinas sejam ineficazes.

      O processo era conhecido como mutagênese letal, manipulando o RNA das amostras que ele havia adquirido na Sibéria para aumentar a virulência e reduzir o período de incubação. Em seus cálculos, Adrian suspeitava que a taxa de mortalidade do vírus variola major mutante poderia chegar a setenta e oito por cento – quase três vezes a da varíola natural que havia sido erradicada pela Organização Mundial de Saúde em 1980.

      Ao retornar da Sibéria, Adrian visitou Estocolmo pela primeira vez e usou uma identificação da Renault de um estudante falecido, para acessar suas instalações, onde garantiu que as amostras ficassem inativas enquanto ele trabalhava. Mas não podia permanecer sob a identidade de outra pessoa, então roubou o equipamento necessário e voltou para Marselha.

      Ele montou seu laboratório no porão não utilizado de uma alfaiataria a três quarteirões do apartamento deles; o gentil alfaiate acreditava que Adrian era um geneticista, pesquisando DNA humano e nada mais, e Adrian mantinha a porta trancada com um cadeado quando não estava presente.

      —Imam Khalil ficará satisfeito, Claudette respirou em seu ouvido.

      –Sim, Adrian concordou em voz baixa. Ele ficará satisfeito.

      A maioria das mulheres provavelmente não estaria muito interessada em encontrar o parceiro trabalhando com uma substância tão volátil quanto uma variedade altamente virulenta de varíola – mas Claudette não fazia parte da maioria das mulheres. Ela era pequena, com apenas um metro e cinquenta e quatro em comparação com os cento e oitenta e dois centímetros de altura de Adrian. Seu cabelo era de um vermelho ardente e seus olhos eram verdes como a selva mais densa, sugerindo uma certa irascibilidade.

      Haviam se conhecido no ano anterior, quando Adrian estava no fundo do poço. Ele acabara de ser expulso da Universidade de Estocolmo por tentar obter amostras de um enterovírus raro; o mesmo vírus que tirou a vida de sua mãe apenas algumas semanas antes. Na época, Adrian estava determinado a desenvolver uma cura – obcecado – para que ninguém mais sofresse como ela. Mas foi descoberto pelo corpo docente da universidade e sumariamente expulso.

      Claudette encontrou-o em um beco, deitado em uma poça de sua própria desolação e vômito, meio inconsciente por causa da bebida. Ela levou-o para casa, limpou-o e deu-lhe água. Na manhã seguinte, Adrian acordou e encontrou uma mulher bonita sentada à sua cabeceira, sorrindo para ele enquanto dizia:

      –Eu sei exatamente o que você precisa.

      Ele girou no banquinho da cozinha para encará-la e passou as mãos pelas costas dela. Mesmo sentado, estava quase na altura dela.

      –É interessante você mencionar o Dilúvio, observou ele. Você sabe, há estudiosos que dizem que se um Grande Dilúvio realmente ocorreu, teria sido de aproximadamente sete a oito mil anos atrás… quase a mesma época desta cepa. Talvez o Dilúvio tenha sido uma metáfora, e foi esse vírus que limpou o mundo de seus iníquos.

      Claudette riu dele.

      –Seus esforços constantes para misturar ciência e espiritualidade ganham força comigo. Ela tomou seu rosto suavemente em suas mãos e beijou sua testa.

      –Mas você ainda não entende que às vezes a fé é tudo que você precisa.

      Fé é tudo que você precisa. Era o que ela lhe havia receitado para ele no ano anterior, quando acordou de seu estupor bêbado. Ela o levou e permitiu que ficasse em seu apartamento, o mesmo que eles ainda ocupam. Adrian não era um crente no amor à primeira vista antes de Claudette, mas ela passou a ter muitas influências em seu modo de pensar.

      Ao longo de alguns meses, ela o apresentou aos princípios do Imam Khalil, um santo islâmico da Síria. Khalil se considerava nem sunita nem xiita, mas simplesmente um devoto de Deus – até mesmo ao ponto de permitir que sua pequena seita de seguidores o chamasse pelo nome que escolhessem, pois Khalil acreditava que o relacionamento de cada indivíduo com seu criador era estritamente pessoal. Para Khalil, o nome desse deus era Allah.

      —Eu quero que você venha para a cama, disse Claudette, acariciando sua bochecha com as costas da mão. Você precisa de descanso. Mas primeiro… você tem a amostra preparada?

      –A amostra. Adrian assentiu. Sim. Eu a tenho.

      Havia apenas um único e pequeno frasco, um pouco maior do que uma unha, do vírus ativo, hermeticamente fechado em vidro e aninhado entre dois cubos de espuma, dentro de um recipiente de risco biológico de aço inoxidável. A caixa em si estava bastante visível sobre a bancada de sua cozinha.

      –Bom, Claudette ronronou. Porque estamos esperando visitas.

      –Hoje à noite? As mãos de Adrian se soltaram das suas costas. Não esperava que isso acontecesse tão cedo. A esta hora? Era quase duas horas da manhã.

      –A qualquer momento, ela disse. Fizemos uma promessa, meu amor, e devemos mantê-la.

      –Sim, Adrian murmurou. Estava certa, como sempre. Promessas não devem ser quebradas.

      –Claro.

      Uma batida brusca e pesada na porta do apartamento

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