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são abaladas e uma espécie de túnel do tempo é produzido. Imediatamente sou empurrado de encontro ao túnel, e ao tocá-lo sou submetido a uma sequência de visões. Nelas, viajo para o mundo dos espíritos, mais exatamente para uma reunião entre os espíritos mais evoluídos. Na respectiva reunião, eles sentam, conversam democraticamente, especificamente sobre a divisão entre as forças opostas. No final, fica acordada a atuação de cada uma delas e os aspectos da escolha com relação à noite escura da alma. É bom destacar que nada disso é bastante claro, pois estes mistérios não são dados ao ser humano. Depois de terminada a reunião, um choro de bebê é ouvido e a vida acontece.

      A infância é um período de descobertas e de encontro consigo mesmo. Neste período, a família tem um papel primordial na formação de cada indivíduo. Os pais têm o dever de ser o alicerce moral necessário para se construir pessoas justas e do bem. Falando ainda da infância, é também nessa época que os fenômenos extra-sensoriais estão mais aguçados. Em particular, minhas visões revelam alguns desses momentos: O vampiro da casa mal-assombrada, a mulher que sobe da terra para assustar, o morto que pede ajuda para encontrar a tão desejada luz, entre outros momentos. Em cada uma dessas situações surge o desespero do inexplicável e as perguntas que parecem não se calar. Estamos sós no universo? A porta entre os dois mundos está mesmo fechada? Quem tivesse as respostas sobre estas questões poderia escrever livros maravilhosos.

      Já a adolescência e a fase adulta são os momentos mais adequados para solidificar os conceitos adquiridos na infância. É também a época das dúvidas e da esperança, em geral e em particular, no meu caso. Surge então um sonho: O objetivo de ser escritor. Começa com uma simples coletânea de trechos bíblicos dos livros do Eclesiastes, sabedoria e provérbios. Um tempo depois, advém a crise e surge então a visão de um médium. Logo depois, veio o desemprego e o início da noite escura da alma. Nesse momento, o círculo se quebra e entro em contato com tudo aquilo que me maltratou e me fez acreditar que eu não era um ser humano digno. As sombras da noite escura se fortalecem e vozes me condenam por algo que eu não tinha controle e que absolutamente não tive culpa. Eu me rebelo e grito bem alto: Eu também sou filho de Deus! Com esta atitude, a visão da noite escura passa e me sinto melhor.

      Então começo a ver minha trajetória que me impulsionou até hoje. Saio de casa, animado com o último fio de esperança de ver o meu sonho realizado. Em busca do sonho, chego a Mimoso, subo a montanha do Ororubá e alcanço o seu topo, conheço a guardiã, o fantasma, a jovem e o menino; realizo desafios e finalmente entro na perigosa gruta do desespero, a gruta capaz de realizar os sonhos mais profundos. Dentro da mesma, driblando armadilhas e avançando os cenários, chego finalmente, com muito esforço a uma câmara secreta, onde me torno o vidente, um ser especial e superdotado, capaz de entender os corações mais confusos. Já praticamente pronto, saio da gruta e aí começa uma aventura inimaginável na linha do tempo. O meu objetivo na viagem era corrigir injustiças, ajudar alguém a se encontrar e reunir as forças opostas. O resultado de tudo isso é o livro de mesmo nome.

      Depois de ver tudo isso, a sequência de visões é interrompida e novamente a noite escura se aproxima, e, com isso, o círculo de luz reaparece em mim e me leva a transpassar o futuro sem que eu o veja claramente. Rapidamente, chego ao final da linha, morro, vou ao julgamento, e a noite escura permanece ao meu redor. Na audiência, a noite reclama a minha posse por conta de todos os meus atos passados. O julgador ouve os argumentos e então fico na expectativa. Um instante depois, um abismo se abre aos meus pés e me suga ferozmente. Começo a cair velozmente num intervalo de tempo que parece ser uma eternidade. Quando estou quase no fundo, sou amparado por braços e mãos fortes. Olho rapidamente para o ser que me socorre, e é um anjo de belas asas. Em seu semblante está escrito: Arrependimento. Nós fazemos o caminho de volta e a noite escura já não tem nenhum poder sobre mim. Momentos depois chego ao Céu e vou viver em companhia dos seres mais evoluídos do universo, trabalhando com eles para manter o milagre da vida. E assim uma nova fase se inicia.

      Um novo dia aparece: os pássaros gritam, o sol surge e a brisa da manhã envolve todo o meu corpo e acaba por me despertar nesse ambiente místico que é a montanha sagrada. Neste exato momento, penso na noite anterior, concluindo que era uma noite para esquecer, pois não me trazia boas lembranças pelo fato do chão ser duro e o sonho inusitado que tive. O que a montanha esperava de mim? Acho que uma incessante vontade de vencer num tema que eu propunha a aprender mais e com isso evoluir. Tentando reunir as forças necessárias para isso, levanto-me, espreguiço-me, tomo meu café matinal, e vejo nada mais nada menos do que a guardiã da montanha. Os nossos olhos se encontram e numa análise rápida constato que ela parece mais jovem do que da última vez em que nos encontramos. Resolvo então iniciar um diálogo.

      – Guardiã?! É a senhora mesmo? Estava lhe procurando desesperadamente.

      – Eu sabia, mas desconheço o motivo. A que honras devo a visita do sonhador, filho de Deus, a quem não vejo há tanto tempo?

      Antes mesmo de tentar responder, nós nos abraçamos imediatamente e isto me deixa mais tranquilo e confiante. Naquele momento, eu tinha a plena certeza de que poderia contar com sua ajuda para desvendar mistérios e responder meus anseios mais profundos. Depois do momento de euforia, nós nos separamos, sentamos em frente ao outro e reiniciamos a conversa.

      – Eu vim procurar respostas sobre a noite escura da alma, um momento que já vivi há aproximadamente dois anos, mas que ainda me deixa muitas dúvidas e inquietações. Então pensei um pouco e conclui que a montanha que me trouxe tanta alegria no passado podia ser o recomeço duma nova jornada, instigante e perigosa.

      – Entendi. Mas poderia me dar um conceito para o que você chama de noite escura da alma?

      – Bem, apesar de não ter evoluído o suficiente, posso lhe dar uma noção básica. Noite escura é exatamente aquele momento em que nos desligamos do sagrado, de Deus, e só conseguimos pensar em nossas próprias vaidades. É um momento onde as trevas agem bastante e isto pode condenar ou até mesmo salvar um indivíduo.

      – Uma definição apropriada, mas incompleta. Saiba jovem, que a noite escura é muito mais profunda do que imaginamos e somente os espíritos mais evoluídos são capazes de controlá-la e entendê-la realmente. Está disposto a se arriscar mais uma vez? Se estiver, acho que poderei ajudá-lo em seu caminho. No entanto, devo alertá-lo que não vai encontrar todas as respostas de que necessitas exatamente aqui. Vai ser necessário muita coragem de sua parte e disposição para enfrentar novos e imprevisíveis desafios.

      – Eu farei tudo que a mestra mandar. Pode crer que estou disposto a ir fundo nesse tema, nem que para isso eu tenha que fazer sacrifícios complicados e difíceis. Bem, qual será o primeiro passo desta vez?

      – Primeiramente terás que conhecer com profundidade os sete pecados capitais, pois são eles que geralmente abrem as cortinas das trevas. Comigo você terá três desafios, e se for aprovado passarás a uma segunda fase. No total são três fases para que alguém consiga finalmente compreender o sentido da noite escura. Esteja preparado, pois não será nada fácil. Além disso, tenho que informá-lo que quem percorre este caminho corre tantos riscos que muitos já perderam suas vidas nele. Ainda assim quer continuar? Se disser sim, saiba que seu primeiro desafio está marcado para hoje à noite.

      – Sim. Eu pagarei o preço necessário pelo tão ardoroso conhecimento. Estou pronto.

      – Passe bem o dia. Estarei de volta à noite.

      Com essas palavras, a guardiã se despede amigavelmente. Começo então a me preparar para a noite. O que será que me esperava? Continuemos juntos, leitor.

      Continuo me preparando, sem perceber o tempo passa e chega o meio-dia. A partir daí, concentro-me no almoço, pois já estava com fome. Pego os alimentos que trouxera da mata e começo a prepará-los. Ao iniciar, uma leve preocupação perturba, por um momento, os meus sentidos, e me pergunto: O que a guardiã quis dizer com a expressão “muitos

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