Скачать книгу

de ser tola.

      Quando a dança acabou, suas bochechas doíam de tanto sorrir. Gostava muito de dançar. Era uma das poucas vezes que podia colocar a sua energia em jogo sem levar uma bronca. Se dependesse da vontade da alta sociedade, todas as ladies estariam debruçadas em cantos, bordando pela eternidade. Ora! Wendelin desejava a liberdade do interior, o vento no cabelo, a grama sob as solas descalças. Um jardim rodeando-a. Era isso o que ela queria. Por mais que amasse dançar, preferiria estar longe da cidade, se pudesse. Mas que cavalheiro lhe permitiria tal coisa, ainda mais se acabasse casada com alguém como o Duque de Shelligton?

      Com certeza, ele teria que estar em Londres durante toda a Temporada com ela, sua esposa obediente.

      — Senhorita Harlow? — chamou-lhe Lorde Shelligton, aproximando-se mais do que o aceitável da orelha dela.

      Ela se assustou.

      — Sim?

      O homem piscou e inclinou a cabeça.

      — Perguntei se você gostaria de uma bebida.

      — Ah! — Ela riu, mas soou forçado. — Desculpa, Vossa Graça. Eu estava pensando em quanto me divirto dançando. — Não havia razão para o sobrecarregar com as demais ideias e pensamentos que ela tinha sobre o futuro. Deixe-o achar que ela era leviana.

      O olhar dele baixou dos olhos aos lábios dela, mais um tantinho para baixo e, logo, para cima de novo.

      — O rubor do esforço aumentou a sua beleza. Dance até não poder mais, e nunca deixe ninguém lhe roubar esta alegria. — Ele deslizou os dedos, devagarinho, sobre os antebraços enluvados dela, ocasionando arrepios na pele sob o material. — Gostaria de um copo de ponche?

      Agora que ele havia mencionado, ela estava mesmo com sede.

      — Seria maravilhoso. Obrigada, Vossa Graça.

      Lorde Shelligton assentiu e se dirigiu para a mesa de refrescos. Wendelin o observou desaparecer na multidão e suspirou. Teria a mãe a visto dançar com o duque? Virou-se para procurar os pais e arfou. Pegou-se encarando um peitilho asseado e devidamente amarrado sobre uma camiseta branca, preso sob um colete verde-escuro e de um casaco que combinava. Ombros amplos preenchiam esse casaco, e o rosto do homem a quem os ombros pertenciam era ainda mais lindo do que a senhorita se lembrava. Olhos azuis, sob um punhado de cabelo louro, trespassavam Wendelin, e o nervosismo que antes havia parecido com peixinhos, irrompeu em borboletas na sua barriga.

      O Conde de Winterthorne, por fim, havia chegado, e ele não parecia nem um pouco feliz em vê-la.

      Bryce chegou ao salão na hora exata para testemunhar aquele tritão dançando com a Senhorita Wendelin Harlow. Porque o duque não fez nenhuma aparição em Londres – pelo menos, não que Bryce tenha ficado sabendo –, o conde acreditou que, talvez, o rival tivesse se esquecido da conversa do casamento ou encontrado alguma outra lady para atormentar em algum outro lugar. Mas claro que isso não era verdade. Seu nêmesis, que de vez em quando exibia barbatanas, estivera aguardando Bryce tomar uma atitude.

      E isso o irritou demais.

      — Lorde Winterthorne — disse a Senhorita Harlow, sem fôlego. — Quase trombei em você.

      — Não tem problema. — Então, ele sorriu ao perceber que, talvez, estivesse carrancudo, caso o humor pudesse ser a indicação de algo. — Queria te agradecer por ter vindo hoje, e perguntar sobre o seu cartão de danças.

      Ela corou, um rosa lindo que complementava o azul desbotado de seus olhos e vestido. Mesmo não estando apaixonada por ela, Bryce faria tudo o que estivesse ao seu alcance para impedi-la de ser arruinada por Shellington. Aquela pobre garota não fazia ideia do perigo que corria.

      — Posso? — Ele apontou para o cartão pendurado no pulso dela. Wendelin assentiu, erguendo o braço para que ele pudesse ver o pequeno pedaço de papel e adicionar seu nome. — Hm. Sim, a próxima música já começou, então vamos dançar a depois desta… e a sua oitava dança da noite.

      O queixo da senhorita Harlow caiu um pouquinho, então, ela disse:

      — Claro, meu lorde.

      — São valsas.

      As bochechas dela ganharam um tom mais profundo de rosa.

      — Mal posso esperar.

      Provavelmente, não tanto quanto ele. Que Shellington dançasse quadrilhas com ela. As valsas seriam dele. Havia sido difícil evitar Wendelin agora que a conhecia, mas teria que respeitar os termos do tritão para mantê-la segura. Certificou-se de ficar longe durante o baile de apresentação dela na primavera, lutando contra seu desejo de vê-la. Muitas vezes, repreendia-se por se importar com a situação. Não queria se casar e nem sequer queria ter comparecido ao casamento da prima com o Capitão Harlow. Mas tinha comparecido, e a havia conhecido.

      — Ah, Lorde Winterthorne. — O duque estava de volta e entregou um copo de ponche para Wendelin. — Estava me perguntando se você daria as caras em seu baile. Estão dizendo que você não compareceu a nenhum evento social nesta Temporada antes de hoje.

      — Estão dizendo a mesma coisa sobre você.

      Wendelin prendeu um cacho solto de seu cabelo escuro sobre a orelha, em seguida, bebericou o ponche. Seu olhar foi do conde ao duque e de volta ao conde.

      — Estive ocupado abrindo o Clube Tritão com alguns dos meus irmãos. Você deveria nos visitar.

      Ah, Deus. Ele havia trazido outros de sua laia para Londres, para vitimar as mulheres londrinas. Com os dentes cerrados, Bryce disse:

      — Vou pensar no caso.

      Wendelin aproveitou a oportunidade para voltar a participar da conversa.

      — Eu não sabia que você tinha irmãos, Vossa Graça. — Ela enrugou o nariz. — O que é um tritão?

      Bryce tinha muitas boas palavras para descrevê-los, mas todas vulgares demais para serem ditas na frente da senhorita.

      Lorde Shellington deu um grande sorriso.

      — De acordo com as lendas, o deus Tritão foi pai de mil filhos e filhas para popular o reino subaquático. Temos o costume de chamar os seus filhos de tritão.

      — Sereias e tritões. Contos de fadas, todos eles — esbravejou Bryce. Quando a porcaria daquela valsa começaria? Queria afastar Wendelin de Shellington o quanto antes possível, mas ele não tinha nenhum direito sobre ela, exceto o de ser o seu parceiro de dança.

      O humor que brilhava nos olhos do tritão não era um bom sinal.

      — Por que, Lorde Winterthorne, você nunca me disse que não acredita na mitologia grega? Posso jurar que ouvi dizerem que você tem parentes gregos, assim como eu.

      Não pretendendo cair na armadilha, Bryce sacudiu um dos ombros. A música acabou, e os casais saíram da pista, dando espaço a outros.

      — Olhe. — Bryce tirou o copo, agora vazio, da mão de Wendelin e o empurrou contra o peito de Shellington. O homem pegou o objeto, rindo, mas seu riso morreu rapidamente quando Bryce complementou: — Chegou a hora da nossa valsa.

      A Senhorita Harlow permitiu que ele a levasse para a pista, mas franziu a testa quando a dança começou.

      — Você não gosta muito do Lorde Shellington, gosta, meu lorde?

      Ele balançou a cabeça.

      — Não, nem você deveria gostar. Sei que não cabe a mim dizer isso, mas tome cuidado para não ficar sozinha com ele. Não confio naquele homem.

      — Está preocupado com a minha reputação? — Os cantinhos da boca dela se ergueram.

      Ah, ela achou que ele a estava provocando motivado pelo ciúme.

      — Você estaria, caso conhecesse o verdadeiro ele.

      —

Скачать книгу