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enquanto pulavam em suas cadeiras.

      Pelo barulho, Emily distinguiu os gritos de Jayne, “Ai meu Deus!” e Amy gritando, “Parabéns!”

      Ela deu um suspiro de alívio. Suas amigas estavam do seu lado. Outro obstáculo havia sido superado.

      A gritaria incompreensível finalmente diminuiu.

      “Ele ainda não te engravidou, não foi?” Jayne perguntou, inconveniente como sempre.

      “Não!” Emily exclamou, rindo.

      “Jayne, cala a boca”, Amy a repreendeu. “Conte tudo. Como ele fez o pedido? Como é o anel?”

      Emily contou novamente a história da praia, das declarações de amor na neve, do maravilhoso anel de pérolas. Suas amigas se emocionaram em todos os momentos certos. Emily notou que estavam em êxtase por ela.

      “Você vai assumir o nome dele?” Jayne perguntou. “Ou manter os dois? Mitchell Morey é um pouco demais. Ou vai ficar Morey Mitchell? Emily Jane Morey Mitchell. Humm. Não sei se gosto. Talvez você devesse manter seu nome, sabe? É a coisa mais forte, empoderada, feminista a fazer, afinal”.

      A mente de Emily girava enquanto Jayne falava de sua maneira característica, super cafeinada, quase sem pausar para dar a ela tempo de responder a alguma das perguntas.

      “Vamos ser as suas damas de honra, certo?” Jayne terminou, com sua maneira tipicamente aberta, franca.

      “Ainda não pensei nisso”, Emily admitiu. Jayne e Amy poderiam ser suas amigas mais antigas, mas ela tinha feito tantas outras desde que se mudou para Sunset Harbor: Serena, Yvonne, Suzanna, Karen, Cynthia. E quanto a Chantelle? Para Emily, era importante que ela tivesse um papel central na coisa toda.

      “Bem, onde será o local?” Jayne perguntou, parecendo um pouco chateada por Emily estar considerando outras amigas como suas damas de honra.

      “Também não sei ainda”, Emily disse.

      Subitamente, percebeu a enormidade da tarefa que tinha à frente. Havia tanto a organizar. Tanto a pagar. Subitamente, se sentiu assoberbada pela coisa toda.

      “Acha que terá um casamento grande ou pequeno?” Amy perguntou. Suas perguntas eram mais simples que as de Jayne, mas ela ainda tinha um certo ar de julgamento. Emily se perguntou se Amy ainda estava chateada por seu noivado frustrado com Fraser. Talvez estivesse magoada por Emily ter um anel e um noivo quando ela tinha perdido ambos.

      “Ainda não pensamos em nenhum dos detalhes”, Emily disse. “É tudo muito novo”.

      “Mas você sonha com isso há anos”, Amy acrescentou.

      Emily franziu o cenho. Com o casamento, sim. Era algo que ela queria há muito tempo. Mas nunca teria imaginado o rumo que sua vida seguiu. O amor que sentia por Daniel era único e inesperado. O casamento deles deveria ser assim também. Precisava repensar tudo para torná-lo perfeito para eles, para esse relacionamento específico, para esta vida.

      “Pode pelo menos nos dizer uma data?” Jayne perguntou. “Nossa agenda está lotada”.

      Emily gaguejou. “Não sei”.

      “Só o mês já está bom, pelo menos”, Jayne pressionou.

      “Também não sei”.

      Jayne suspirou, exasperada. “E quanto ao ano?”

      Emily foi ficando frustrada. “Eu não sei!” ela gritou. “Ainda não pensei em nada disso!”

      Silêncio. Emily só podia imaginar a cena: suas amigas trocando um olhar, sentadas em cadeiras de escritório de couro numa mesa imensa de vidro, com seu grito emanando do celular entre elas e ecoando pela vasta sala de conferência. Ela se encolheu de vergonha.

      Jayne quebrou o gelo. “Bem, só nos garanta que não vai virar um daqueles noivados que duram para sempre”, falou, de uma maneira realista. “Você sabe como são alguns homens; é como se não percebessem que depois do pedido você espera um casamento de verdade. Eles fazem toda aquela cena no noivado e então, assim que lhe convencem a usar um anel chique, pensam que podem descansar sobre os louros da vitória e nunca realmente assinar a linha pontilhada”.

      “Não tem nada a ver com isso”, Emily disse, um pouco ríspida.

      “Claro”, Jayne falou lentamente. “Mas, para ter certeza, você devia amarrá-lo a uma data de verdade. Se parecer que ele está arrastando o noivado, fuja”.

      Emily apertou a mão, formando um punho. Sabia que não devia deixar Jayne – que tinha fobia de compromisso e que nunca tinha tido um relacionamento longo de verdade – ditar a maneira como devia se sentir sobre a situação, mas a amiga tinha o talento de colocar uma pulga atrás da sua orelha. Apesar de ser ridículo, Emily já podia notar que iria ruminar sobre as palavras de Jayne por dias.

      “Tenho uma ideia”, Amy interrompeu, dando uma de diplomata. “Por que não vamos aí comemorar com você? Fazer uma visita? Ajudá-la a planejar algumas coisas?”

      Apesar de estar irritada com Jayne, Emily gostou da ideia de suas amigas virem por um tempo e se envolverem nos preparativos do casamento. Quando chegassem, no seu domínio, elas poderiam ver o amor que ela e Daniel sentiam com os próprios olhos. Veriam o quanto ela estava feliz e começariam a demonstrar mais apoio.

      “Isso seria ótimo”, Emily disse.

      Elas encontraram uma boa data para todas e Emily terminou a ligação. Mas, graças a Jayne, sua cabeça estava girando e a chama de animação dentro dela diminuiu um pouquinho. Além disso, ainda precisava fazer a temida ligação para sua mãe, que certamente seria pior. Havia tentado convidar a mãe para o Dia de Ação de Graças, mas a mulher agiu como se fosse um insulto. Nada que Emily fazia era bom o bastante para Patricia Mitchell. Se havia se sentido acuada por Amy e Jayne, sua mãe a deixaria completamente para baixo.

      E aquela era simplesmente a família dela! Quando acrescentou Daniel à mistura, seus medos se intensificaram. Por que o resto do mundo tinham que existir? Tudo em Sunset Harbor era tão perfeito para Emily. Mas lá fora estavam amigas que a desaprovavam e mães problemáticas. Havia pais ausentes.

      Pela primeira vez desde o pedido, Emily pensou no pai, desaparecido há vinte anos. Recentemente, havia descoberto uma pilha de cartas na casa que provava que ele ainda estava vivo. Então, Trevor Mann, seu vizinho, havia confirmado que vira Roy na casa, alguns anos antes. Seu pai estava vivo, ainda que, até mesmo com essa informação, nada houvesse mudado. Emily ainda não tinha como entrar em contato com ele. As chances dele estar lá para entrar com ela na igreja eram praticamente nulas.

      Emily sentiu as emoções se intensificando, ameaçando extinguir a alegria com que começara o dia. Olhou para a tela do celular, onde tinha selecionado o número da mãe, mas ainda sem a coragem de ligar.

      Antes que tivesse a chance de mergulhar de cabeça e ligar para a mãe, ouviu o som de passos atrás dela. Virou-se e viu Daniel e Chantelle descendo as escadas trotando até ela. Daniel havia vestido a menina com uma de suas lindas roupas vintage – uma jardineira de veludo caramelo com um cardigã de estampa floral preto-e-branco, com meias combinando. Ela estava adorável. Ele usava seu jeans e camiseta usuais, cabelo preto despenteado, com a barba por fazer emoldurando o queixo forte.

      “Queríamos tomar café da manhã fora de casa”, Daniel disse. “Fazer algo especial. Um café da manhã para celebrar”.

      Emily colocou o celular novamente no bolso. “Ótima ideia”.

      Salva pelo gongo. O telefonema para sua mãe teria que esperar. Mas Emily sabia que não poderia adiar isso para sempre. Cedo ou tarde, teria que enfrentar a língua afiada de Patricia Mitchell.

      *

      O aroma de xarope de bordo permeava o ar na lanchonete de Joe. A família sentou-se em uma das mesas de plástico vermelho, notando os olhares e sussurros ao redor.

      “Todo mundo já sabe”,

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