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      Riley observava April enquanto esta abria a caixa com o presente de Natal de Ryan. Perguntou-se quão a par dos gostos da filha ele estaria por aqueles dias.

      April sorriu quando pegou numa pulseira de prata.

      “É linda, papá!” Disse April, dando-lhe um beijo na bochecha.

      “Ouvi dizer que é o que está na moda,” Disse Ryan.

      “E é!” Disse April. “Obrigada!”

      Depois piscou ligeiramente o olho a Riley. Riley conseguiu conter uma risada. Há apenas alguns dias, April tinha-lhe dito o quanto detestava aquelas pulseiras disparatadas que todas as raparigas agora usavam. Apesar disso, April estava perfeita em parecer entusiasmada.

      É evidente que Riley sabia que não era só fingimento. Era-lhe possível perceber que April estava contente com o facto de o pai ter feito um esforço para lhe comprar um presente de Natal de que gostasse.

      O sentimento de Riley em relação à mala cara que Ryan lhe tinha oferecido era semelhante. Não era o estilo dela e ela nunca a usaria – Exceto quando soubesse que Ryan estaria por perto. E tinha a certeza de que Ryan sentia o mesmo em relação à carteira que ela e April lhe tinham comprado.

      Estamos a tentar ser uma família novamente, Pensou Riley.

      E naquele dia pareciam estar a conseguir.

      Entretanto era manhã de Natal e Ryan acabara de chegar para passar o dia com elas. Riley, April, Ryan e Gabriela estavam sentados junto à aconchegante lareira a beber chocolate quente. O delicioso odor do jantar de Natal de Gabriela pairava no ar vindo da cozinha.

      Riley, April e Ryan usavam cachecóis que Gabriela lhes fizera, e Gabriela usava umas pantufas fofas que April e Riley lhe tinham oferecido.

      A campainha tocou e Riley foi ver quem era, deparando-se com o vizinho, Blaine e a filha adolescente Crystal.

      Riley estava simultaneamente encantada e desconfortável por vê-los. Ryan já demonstrara ciúmes de Blaine – e não sem razão, Riley tinha que admitir. A verdade era que Riley considerava Blaine um homem muito atraente.

      Não conseguia deixar de o comparar mentalmente a Bill e Ryan. Blaine era um pouco mais novo do que ela, estava magro e em forma, e Riley gostava que ele assumisse que estava a ficar sem cabelo.

      “Entrem!” Disse Riley.

      “Peço desculpa mas não posso,” Disse Blaine. “Tenho que ir para o restaurante, mas trouxe a Crystal para ficar.”

      Blaine era dono de um popular restaurante no centro da cidade. Riley percebeu que não devia ficar espantada por estar aberto no dia de Natal. O jantar de Natal no Blaine’s Grill devia ser delicioso.

      Crystal reuniu-se ao grupo junto da lareira. Aos risinhos, ela e April abriram os presentes que ofereceram uma à outra.

      Riley e Blaine trocaram de forma discreta postais de Natal e depois Blaine foi-se embora. Quando Riley se juntou novamente ao grupo, Ryan parecia algo azedo. Riley guardou o cartão sem o abrir. Esperaria até que Ryan se fosse embora.

      A minha vida é mesmo complicada, Pensou. Mas começava a parecer uma vida quase normal, uma versão da vida que ela apreciaria.

      *

      Os passos de Riley ecoavam no compartimento grande e escuro. De repente, o ruído de um interruptor a invadir o silêncio. As luzes agora ligadas cegaram-na durante alguns segundos.

      Riley estava agora no corredor do que parecia ser um museu de cera repleto de peças aterradoras. À sua direita estava o corpo nu de uma mulher colocado junto a uma árvore. À esquerda, estava uma mulher morta envolta em correntes e pendurada num poste de eletricidade. Uma outra peça expunha vários corpos de mulheres com os braços amarrados atrás das costas. Para lá dessa peça, viam-se cadáveres esfomeados com os membros grotescamente dispostos.

      Riley reconheceu cada uma daquelas cenas. Eram casos em que ela tinha trabalhado. Estava a entrar na sua câmara de horrores pessoal.

      Mas o que é que estava ali a fazer?

      De repente, ouviu uma voz jovem e aterrorizada a gritar.

      “Riley, ajuda-me!”

      Riley olhou em frente e viu a silhueta de uma jovem a erguer os braços num apelo desesperado.

      Parecia Jilly. Estava novamente metida em sarilhos.

      Riley desatou a correr na sua direção, mas então surgiu outra luz que mostrou que não se tratava de Jilly.

      Era um homem velho envergando o seu uniforme de Coronel da Marinha.

      Era o próprio pai de Riley. E ria-se do erro de Riley.

      “Não estavas à espera de encontrar ninguém vivo, pois não?” Dizia. “Só és útil a quem já está morto. Quantas vezes é que tenho que te dizer isto?”

      Riley estava intrigada. O pai tinha morrido há meses. Não sentia a sua falta. Fazia os possíveis para nunca pensar nele. Sempre fora um homem duro que só lhe tinha provocado dor.

      “O que é que estás aqui a fazer?” Perguntou Riley.

      “Só estou de passagem.” Riu. “Para ver como estás a estragar a tua vida. O mesmo de sempre, segundo me parece.”

      Riley queria atirar-se a ele. Queria bater-lhe com toda a força que conseguisse. Mas ficou congelada sem se conseguir mexer.

      Depois surgiu um som ensurdecedor.

      “Gostava que pudéssemos conversar,” Disse ele. “Mas tens assuntos para tratar.”

      O som tornou-se cada vez mais ruidoso e o pai virou-se e desapareceu.

      “Nunca fizeste nada de bom a ninguém,” Disse ainda. “Nem a ti própria.”

      Os olhos de Riley abriram-se. Percebeu que o telefone estava a tocar. O mostrador do relógio indicava que eram 06:00.

      Riley viu que a chamada era de Quantico. Uma chamada àquela hora só podia significar algo grave.

      Atendeu o telefone e ouviu a voz firme do seu chefe de equipa, o Agente Especial Responsável Brent Meredith.

      “Agente Paige, preciso que venha ao meu gabinete agora mesmo,” Disse ele. “Isto é uma ordem.”

      Riley esfregou os olhos.

      “De que é que se trata?” Perguntou.

      Seguiu-se uma curta pausa.

      “Temos que falar sobre isso pessoalmente,” Disse ele.

      E terminou a chamada. Durante um breve momento, Riley pensou se o que a esperava era uma reprimenda pelo seu comportamento. Mas não, já estava de licença há vários meses. Uma chamada de Meredith só podia significar uma coisa.

      É um caso, Pensou Riley.

      Ele não lhe ligaria no Natal por outra razão que não essa.

      E pelo tom de voz de Meredith, parecia algo grave – talvez algo que transformasse a sua vida.

      CAPÍTULO CINCO

      A apreensão de Riley aumentou quando entrou no edifício da UAC. Quando penetrou no gabinete de Brent Meredith, o chefe encontrava-se sentado à secretária à sua espera. Meredith, um homem Afro-Americano de feições angulares, era sempre uma presença intimidante. Naquele momento também parecia estar preocupado.

      Bill também lá estava. Riley percebeu pela sua expressão que ainda não tinha conhecimento do assunto da reunião.

      “Sente-se, Agente Paige,” Disse Meredith.

      Riley sentou-se numa cadeira disponível.

      “Peço desculpa por interromper as suas férias,” Disse

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