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um dia.

      - Então isso tudo exigiu planejamento e conhecimento do assassino – Avery disse. – Ele teria que saber muito sobre corpos queimados. E o fato dele não ter tentando esconder os restos e ter matado a vítima de uma maneira tão assustadora... nos leva a algumas ideias. E eu temo a primeira delas.

      - Como assim? – Connelly perguntou.

      Avery sentiu que todos os olhos na sala se viraram para ela.

      - Quero dizer que provavelmente isso é obra de um assassino em série.

      Um enorme silêncio tomou conta do local.

      - Do que você está falando? – Connelly perguntou. – Não há evidência para comprovar isso.

      - Não é óbvio – Avery admitiu. – Mas ele queria que os restos fossem encontrados. Ele não tentou esconde-los naquele terreno. Havia um riacho atrás da propriedade. Ele poderia ter jogado tudo lá. Mais do que isso, havia cinzas. Por que jogar as cinzas no local quando você poderia facilmente te-las levado embora? O planejamento e método do assassinato... Ele se orgulhou e teve prazer em fazer isso. Ele queria que os restos fossem encontrados e analisados. E tudo isso são marcas de um assassino em série.

      Avery sentiu todos na sala olhando para ela com um ar sério, e sabia que eles estavam pensando a mesma coisa que ela: aquilo estava evoluindo de um caso estranho envolvendo uma cremação imprópria para uma caça contra o tempo a um assassino em série.

      CAPÍTULO CINCO

      Depois da tensão da reunião, Avery ficou feliz em ver-se atrás do volante de seu carro com Ramirez no banco do passageiro. Havia um silêncio estranho entre eles que a fez sentir-se incomodada. Ela fora mesmo tão inocente a ponto de pensar que dormir com ele não mudaria em nada sua relação profissional?

      Teria sido um erro?

      Ela começava a sentir que sim. No entanto, era difícil aceitar, já que o sexo fora algo tão incrível.

      - Agora que temos um minuto – Ramirez disse – vamos falar sobre ontem à noite?

      - Podemos – Avery disse. – Sobre o que você quer falar?

      - Bem, correndo o risco de soar como o estereótipo masculino, estava pensando se isso foi algo de uma noite ou se nós vamos repetir.

      - Não sei – Avery disse.

      - Já está arrependida? – Ele perguntou.

      - Não – ela disse. – Não me arrependo. Só que naquele momento, eu não estava pensando em como isso afetaria nossa relação profissional.

      - Eu sei que isso pode atrapalhar – Ramirez disse. – Brincadeiras à parte, nós dois estivemos bailando por essa química física durante meses. Nós finalmente tomamos uma atitude, então a tensão deveria acabar agora, certo?

      - Se você diz – Avery disse com um sorriso manhoso.

      - Você acha que isso não é para você?

      Ela pensou por um tempo e depois encolheu os ombros.

      - Não sei. E para falar a verdade, não sei se estou pronta para falar sobre isso.

      - Tudo bem. Nós estamos no meio de algo que parece ser um caso fodido, dos grandes.

      - Sim, estamos – ela disse. – Você recebeu o e-mail? O que mais nós sabemos sobre nossa testemunha além do endereço dele?

      Ramirez olhou seu celular e abriu seu e-mail.

      - Recebi – ele disse. – Nossa testemunha é Donald Greer, oitenta anos. Aposentado. Mora em uma apartamento a meio quilômetro da cena do crime. É um viúvo que trabalhou cinquenta anos como supervisor de estaleiro depois de perder dois dedos na guerra do Vietnã.

      - E como ele viu o assassino? – Avery perguntou.

      - Ainda não sei. Mas acho que é nosso trabalho descobrir, certo?

      - Certo – ela respondeu.

      O silêncio tomou conta do carro novamente. Ela sentiu uma vontade de segurar na mão dele, mas pensou melhor. Seria melhor manter as coisas estritamente profissionais. Talvez eles iriam terminar indo para a cama de novo e talvez as coisas progredissem ainda mais—para algo mais emocional e concreto.

      Mas nada disso importava agora. Naquele momento, eles tinham trabalho a fazer e nada que envolvesse suas vidas pessoais deveria ser trazido à tona.

      ***

      Donald Greer demonstrava ter cada um de seus oitenta anos de sua vida. Seu cabelo era um desgastado emaranhado branco acima da cabeça e seus dentes eram um pouco descoloridos pela idade e pouco cuidado. Ainda assim, ele parecia claramente feliz por ter companhia quando convidou Avery e Ramirez para entrarem em sua casa. Quando sorriu para eles, o gesto foi tão genuíno que as condições desagradáveis de seus dentes pareceram desaparecer.

      - Posso servi-los café ou chá? – Ele perguntou quando entraram na casa.

      - Não, obrigado – Avery disse.

      Em algum lugar da casa, um cachorro latia. Era um cão pequeno, e seu latido mostrava que ele deveria ser tão velho quanto Donald.

      - Então, é sobre o homem que eu vi hoje de manhã? – Donald perguntou. Ele sentou-se em uma poltrona na sala.

      - Sim, senhor. É isso – Avery respondeu. – Fomos avisados de que você viu um homem alto que parecia estar escondendo algo em seu—

      O cachorro em algum lugar dos fundos do apartamento começou a latir ainda mais. Seus latidos eram altos e roucos.

      - Chega, Daisy! – Donald disse. O cachorro silenciou-se, dando um pequeno soluço. Donald balançou a cabeça e riu. – Daisy ama companhia – disse. – Mas ela está ficando velha e costuma urinar nas pessoas quando fica muito animada, então eu tive que tranca-la para sua visita. Eu estava caminhando com ela hoje de manhã quando vi aquele homem.

      - Até onde você caminha com ela? – Avery perguntou.

      - Ah, eu e Daisy caminhamos pelo menos um quilômetro e meio toda manhã. Meu coração já não é tão forte como costumava ser. O médico diz que eu preciso caminhar o máximo possível. Teoricamente isso faz bem para minhas articulações também.

      - Entendi – Avery disse. – Você faz o mesmo caminho todas as manhãs?

      - Não. Nós mudamos de vez em quando. Temos mais ou menos cinco caminhos diferentes.

      - E onde você estava quando viu aquele homem pela manhã?

      - Na Kirkley. Eu e Daisy tínhamos acabado de passar pela esquina da Spring Street. Aquela parte da cidade sempre está vazia de manhã. Alguns caminhões aqui e ali, mas é só. Eu acho que passei por duas ou três pessoas na Kirkley no último mês... e todos estavam caminhando com seus cachorros. Você não vê nem aqueles masoquistas que gostam de correr naquela área.

      Era óbvio, pela maneira que falava, que Donald Greer não recebia muitas visitas. Ele falava demais e muito alto. Avery imaginou se isso acontecia porque ele já não ouvia bem por conta da idade ou porque suas orelhas sofriam com os latidos de Daisy o dia inteiro.

      - Esse homem estava indo ou vindo? – Avery perguntou.

      - Vindo, eu acho. Não tenho certeza. Ele estava muito na minha frente e parecia ter parado por um segundo quando eu cheguei na Kirkley. Acho que ele sabia que eu estava lá, atrás dele. Ele começou a caminhar de novo, um pouco rápido, e depois meio que desapareceu na névoa. Talvez ele tenha virado em uma das ruas que fazem esquina com a Kirkley.

      - Ele estava caminhando com um cachorro? – Ramirez perguntou.

      - Não. Eu teria visto. Daisy fica louca quando vê outro cachorro ou sente o cheiro de algum ao redor. Mas ela ficou quieta como sempre.

      - Você tem

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