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navios mercantes e, no século XIV, matou uma estimativa de setenta e cinco a duzentos milhões de pessoas. Parou por um momento para enfatizar seu discurso.

      —Isso é uma enorme disparidade, não é? Como esses números podiam ser altos assim?

      A morena na terceira fileira levantou a mão ligeiramente.

      –Porque eles não tinham uma Agência de recenseamento há setecentos anos atrás?

      Reid e alguns outros estudantes riram.

      –Bem, claro, tem isso. Mas também é por causa da rapidez com que a peste se espalhou. Quer dizer, estamos falando de mais de um terço da população da Europa morta em dois anos.

      Para colocar isso em perspectiva, seria como se toda a costa leste e a Califórnia tivessem desaparecido. Ele se encostou na mesa e cruzou os braços. Agora eu sei o que você está pensando. ‘Professor Lawson, você não é o cara que entra e fala sobre guerra?’ Sim, e estou falando disso agora.

      —Alguém mencionou a conquista mongol. Genghis Khan teve o maior império contíguo da história por um breve período, e suas forças marcharam na Europa Oriental durante os anos da praga na Ásia. Khan é tido como um dos primeiros a usar o que hoje classificamos como guerra biológica; se uma cidade não cedesse a ele, seu exército catapultaria os corpos infectados pela peste sobre suas muralhas, e então… teriam que esperar um pouco.

      O Sr. Wright, o garoto loiro na fila da frente, franziu o nariz em desgosto.

      –Isso não pode ser real.

      –É real, asseguro-lhe. Cerco a Kafa, no que hoje é a Crimeia, 1346. Vejam, queremos pensar que algo como a guerra biológica é um conceito novo, mas não é. Antes de termos tanques, drones, mísseis ou até mesmo armas no sentido moderno, nós, ã… eles, ã…

      —Por que você tem isso, Reid? Ela pergunta acusadoramente. Seus olhos estão mais com medo do que com raiva.

      Ao mencionar a palavra —armas, uma lembrança repentinamente passou por sua mente – a mesma memória de antes, mas mais clara agora. Na cozinha de sua antiga casa na Virgínia. Kate encontrara alguma coisa enquanto limpava a poeira de um dos dutos do ar condicionado.

      Uma arma na mesa – uma pequena, uma LC9 de nove milímetros e prateada. Kate gesticula para ela como um objeto amaldiçoado.

      —Por que você tem isso, Reid?

      —É… só por proteção – você mente.

      —Proteção? Você ao menos sabe como usá-la? E se uma das meninas tivesse encontrado?

      —Elas não…

      —Você sabe o quão curiosa Maya é. Jesus, eu nem quero saber como você conseguiu isso. Eu não quero isso em nossa casa. Por favor, livre-se disso.

      —Claro. Me desculpe, Katie. Katie – o nome que você usa quando ela está com raiva.

      Você cuidadosamente pega a arma da mesa, como se não tivesse certeza de como lidar com ela. Depois que ela sair para o trabalho, você terá que pegar as outras onze escondidas em toda a casa. Encontre pontos melhores para escondê-las.

      —Professor? O garoto loiro, Wright, olhou para Reid com preocupação. Você está bem?

      –Oi… sim. Reid se endireitou e limpou a garganta. Seus dedos doíam; agarrou a borda da mesa com força quando a memória o atingiu. Sim, desculpe-me.

      Não havia dúvida agora. Tinha certeza de que perdera pelo menos uma lembrança de Kate.

      —Hum… desculpe, pessoal, mas de repente eu não estou me sentindo bem, disse à turma. Foi repentino. Estão dispensados por hoje. Vou passar algumas leituras, e trabalharemos com elas na segunda-feira.

      Suas mãos tremiam quando recitou os números das páginas. O suor se arrepiou em sua testa enquanto os alunos saíam. A menina morena da terceira fila parou em sua mesa.

      –Você não parece bem, professor Lawson. Você quer que a gente ligue para alguém?

      Uma enxaqueca estava se formando na frente de seu crânio, mas ele forçou um sorriso que esperava que fosse agradável.

      –Não, obrigado. Eu vou ficar bem. Só preciso de um pouco de descanso.

      –OK. Fique melhor, professor. Ela também saiu da sala de aula.

      Assim que ficou sozinho, abriu a gaveta da escrivaninha, encontrou uma aspirina e engoliu-a com água de uma garrafa da sua bolsa.

      Sentou-se na cadeira e esperou que seu batimento cardíaco diminuísse. A memória não tinha apenas um impacto mental ou emocional sobre ele – também tinha um efeito físico muito real. O pensamento de perder qualquer parte de Kate de sua memória, quando ela já havia sido tirada de sua vida, era nauseante.

      Depois de alguns minutos, a sensação doentia em seu intestino começou a diminuir, mas não os pensamentos rodando em sua mente. Não conseguiu mais desculpas; teve que tomar uma decisão. Ele teria que determinar o que faria.

      De volta a casa, em uma caixa em seu escritório, pegou a carta que lhe dizia onde poderia procurar ajuda – um médico suíço chamado Guyer, o neurocirurgião que instalara o supressor de memória em sua cabeça, em primeiro lugar. Se alguém pudesse ajudar a restaurar suas memórias, seria ele. Reid passou o último mês vacilando sobre se deveria ou não pelo menos tentar recuperar sua memória completamente.

      Mas partes de sua esposa haviam desaparecido e não tinha como saber o que mais poderia ter sido eliminado com o supressor.

      Agora estava pronto.

      CAPÍTULO SETE

      —Olhe para mim, disse o imã Khalil em árabe. Por favor.

      Ele pegou o menino pelos ombros, um gesto paternal, e se ajoelhou um pouco, de modo que ficou cara a cara com ele. Olhe para mim, disse novamente. Não era uma exigência, mas um pedido gentil.

      Omar teve dificuldade em olhar Khalil nos olhos. Em vez disso, olhou para o queixo, para a barba preta aparada, raspada delicadamente até o pescoço. Olhou para as lapelas de seu terno marrom escuro, de modo algum caro, porém mais fino do que qualquer roupa que Omar já tivesse usado.

      O homem mais velho tinha um cheiro agradável e falava com o rapaz como se fossem iguais, com um respeito diferente de qualquer outro que já tivessem mostrado a ele antes. Por todas essas razões, Omar não conseguiu olhar Khalil nos olhos.

      —Omar, você sabe o que é um mártir? Perguntou ele. Sua voz era clara, mas não alta. O garoto nunca ouvira o imã gritar.

      Omar sacudiu a cabeça.

      –Não, Imam Khalil.

      –Um mártir é um tipo de herói. Mas é mais que isso; é um herói que se entrega completamente a uma causa. Um mártir é lembrado. Um mártir é celebrado. Você, Omar, será celebrado. Você será lembrado. Você será amado para sempre. Você sabe por quê?

      Omar assentiu levemente, mas não falou. Ele acreditava nos ensinamentos do Imam, se apegara a eles como um salva-vidas, ainda mais depois do bombardeio que matou sua família. Mesmo depois de ser forçado a sair de sua terra natal na Síria por dissidentes. Teve alguns problemas, no entanto, continuava acreditando no que o Imam Khalil havia dito a ele há poucos dias.

      —Você é abençoado, disse Khalil. – Olhe para mim, Omar. Com muita dificuldade, Omar ergueu o olhar para encontrar os olhos castanhos de Khalil, suaves e amigáveis, mas de alguma forma intensos.

      –Você é o Mahdi, o último dos Imam. O Redentor que livrará o mundo de seus pecadores. Você é um salvador, Omar. Você entende?

      —Sim, Imam.

      –E você acredita, Omar?

      O

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