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      â€” Faça o que eu disse, ou terei que contar ao seu pai quando chegarmos em casa — A mulher estalou enquanto limpava as calças com um guardanapo. — O comissário de bordo irá cuidar dele.

      Lash observou a garota piscar rapidamente e sentiu um puxão em seu peito enquanto ela enxugava as lágrimas. Ela colocou um olhar determinado em seu rosto antes de voltar sua atenção para o menino.

      â€” Está tudo bem. Shh, não chore. Nós estaremos pousando em breve — disse ela. — Qual o seu nome?

      O garotinho olhou para cima. Olhos castanhos emoldurados por longos cílios travados com os dela. Lágrimas cobriam suas bochechas rechonchudas. — Ja-Javier. — Ele fungou e limpou o nariz com as costas da manga da camisa.

      â€” Oi, Javier. Eu sou Jane.

      O avião desceu, levantando Javier de seu assento por uma fração de segundo antes que voltasse para baixo. Ele soluçou e Lash se ajoelhou ao seu lado enviando uma onda de calma, esperando que o menino pudesse sentir sua presença.

      Javier ofegou para dentro e para fora como se tentasse recuperar o fôlego. Uma mão pálida se estendeu em direção a ele. — Você vai ficar bem, Javier. Não se preocupe. Eu vou segurar sua mão até pousarmos. Ok?

      Javier olhou para Jane. Seus cachos negros balançaram quando ele assentiu.

      Doeu em Lash quando Javier estendeu a mão e colocou na de Jane. Fazia muito tempo desde que vira alguém agir de maneira tão abnegadamente. Ele olhou ao redor do avião, esperando ver Jeremy. Como ele não estava lá, talvez houvesse esperança para a menina e os outros.

      O avião tremeu violentamente e os comissários de bordo correram pelo corredor, ordenando que os passageiros apertassem os cintos de segurança. Eles então correram para seus próprios lugares e se afivelaram.

      Houve um estalo alto seguido por um grito de metal se rasgando. Gritos encheram a cabine e máscaras amarelas de oxigênio caíram do teto.

      Jane soltou a mão de Javier por um momento para colocar a máscara e ele chorou. Lash se inclinou e sussurrou: — Não tenha medo. Estou aqui com você.

      Javier continuou a chorar enquanto Lash pairava sobre ele, olhando para Jane, cujas mãos trêmulas estavam colocando a máscara amarela sobre o rosto. Quando terminou, recostou-se, esticando a mão para Javier. — Coloque a sua máscara — ela gritou.

      Javier pegou a mão e olhou para ela com uma expressão vazia. Jane olhou diretamente nos olhos dele e apontou para o plástico amarelo que pairava. — Coloque-o.

      Javier assentiu e colocou freneticamente a máscara sobre a cabeça. Houve um estrondo alto, gritos foram engolidos assim que começaram. Os olhos de Javier se arregalaram, Jane se virou para ver o que ele estava olhando e deu um grito estridente. Luz laranja e vermelha refletiam na máscara de Javier, e Lash endureceu. Uma onda de calor bateu em suas costas e ele se preparou para lutar contra o que estava prestes a prejudicar o garoto. Seu estômago se apertou quando uma onda de chamas rolou pelo corredor em direção a eles.

      Os passos de Lash ecoaram na Sala das Oferendas, uma ampla sala onde os arcanjos exibiam os presentes que os humanos ofereciam ao Céu ao longo dos séculos. Pinturas e esculturas se alinhavam nas paredes. Ele parou em frente a uma grande caixa de mogno e olhou para uma pequena estatueta, uma figura de Gabrielle, através da vidraça. Seus olhos claros escureceram quando pegou e passou as mãos sobre a pedra lisa. Ele arrancou a cabeça e esmagou-a entre os dedos, transformando-a em pó, então colocou a estatueta na frente e no centro da prateleira e sorriu, sabendo que Gabrielle ficaria furiosa quando visse.

      Ele se virou quando a grande porta de carvalho se abriu, e o Arcanjo Raphael entrou na sala, seus solenes olhos azuis pousando em Lash quando se aproximou. — Lahash — Sua voz estava cheia de decepção.

      Não era a primeira vez que Raphael escoltava Lash ao Salão do Julgamento, um lugar onde os anjos eram disciplinados por seus erros e julgados se eram dignos de permanecer no céu. Lash nunca se preocupou se alguma vez seria considerado indigno ‒ Raphael sempre cuidava disso.

      Olhando para a estatueta sem cabeça, Raphael franziu os lábios, mas não comentou sobre isso. — Michael vai ver você assim que terminar de questionar Gabrielle.

      â€” É Lash — Lash murmurou sob sua respiração. Ele odiava ser chamado por seu nome celestial, mas Raphael, antiquado em seus modos e inflexível em manter tradições, insistia.

      Raphael passou a mão pelas ondas loiras de cabelo com frustração. Ele não reconheceu que o havia escutado, mas Lash sabia que ele ouviu. Algumas das vantagens especiais de ser um anjo incluíam visão, audição e força amplificadas - o voo era um bônus adicional.

      â€” Por que você fez isso, Lahash? Gabrielle lhe deu instruções específicas. Tudo o que você tinha que fazer era segui-las.

      Que resposta ele poderia dar ao seu mentor, a única pessoa que sempre o defendeu quando decidia seguir o seu próprio caminho? Ele desejou poder dizer a Raphael a verdade. Quando Gabrielle lhe deu instruções para salvar o menino, ele ficou feliz em fazê-lo. Depois de anos ajudando humanos que jogavam suas vidas fora com atividades frívolas, ele achava que pelo menos com as crianças havia esperança. Havia algo sobre crianças, com suas mentes abertas e corações imaculados, que eram tão diferentes dos corações cansados ​​da idade adulta. Salvar o menino foi fácil; deixar a menina de cabelos loiros para o seu destino não foi.

      â€” Gabrielle cometeu um erro. Ela deve ter esquecido que outro jovem estava no avião, então imaginei qual seria o mal de salvar os dois?

      â€” Não houve erro — disse Raphael.

      â€” A menina merecia viver.

      â€” Não cabe a você decidir. Você sabe disso.

      â€” Sim, sim, o Chefe toma as decisões. — Lash acenou para ele e sentou-se em um dos sofás de couro no centro da sala. Ele tentava seguir suas atribuições, mas ultimamente tornava-se mais difícil aceitá-las, mesmo sabendo que Michael e Gabrielle recebiam suas instruções de Deus.

      Raphael se sentou em frente a ele e se inclinou. — Lash, você se importa profundamente com os humanos, e é isso que faz de você um grande serafim. Mas você deve aprender a ter controle. Você não pode tomar decisões sem pensar sobre elas.

      â€” Eu sei o que estou fazendo. — Lash afundou no sofá branco e se inclinou para trás, entrelaçando as mãos atrás da cabeça. — Eu não concordo com algumas das decisões tomadas por aqui.

      â€” Você é jovem. Você vai crescer e aprender que as decisões que tomamos são baseadas em muito mais do que aquilo que é colocado diante de nós. — A voz de Raphael ficou severa. — Toda ação tem consequências que devem ser levadas em conta.

      â€” Deixa disso. Ela é uma garotinha. — Lash jogou as mãos para cima. — Eu dei a ela uma chance de crescer e viver sua vida. Qual poderia ser o mal disso?

      â€” Mais do que você sabe.

      Lash revirou os olhos e seu rosto ficou sério. — Você deveria tê-la visto, Raphael. Havia algo bom nela que eu não vi em alguém há muito tempo.

      â€” Tenho certeza de que havia, mas você não tem conhecimento do que ela irá se tornar. — Raphael sentou-se e um olhar distante cruzou seus olhos.

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