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QUATRO

      Canvas chegou pontualmente. Ele veio na frente, seus dois garotos ao seu lado, além de mais dois homens. Caras novos, Hector nunca os tinha visto antes. Eles ficaram do lado de fora formando uma roda descontraída e Hector se aproximou da porta para cumprimentá-lo.

      “Canvas, meu homem, parece bem hoje!”

      “Você parece uma merda, por outro lado,” disse Canvas. “Eu tenho uma loção para essas bolsas sob esses seus olhos, faz maravilhas.”

      “E adoraria experimentar, por favor, me envie uma amostra. Mas venha entrando.”

      Canvas ajustou a enorme metralhadora pendurada em seu ombro e suspirou. “Quando as pessoas são tão educadas comigo, eu sei que elas não têm o combinado.”

      “Os tempos têm sido difíceis,” disse Hector, balançando a cabeça para cima e para baixo. “Mas eu tenho algo, quatro-k.”

      Canvas olhou para Angelo e sacudiu a cabeça. “Quatro-k é algo que eu posso mostrar aos meus superiores, por hoje.”

      “Não, não há necessidade-”

      Angelo chutou um dos monitores e esmagou-o no chão. Aquela putinha loira. Hector se encolheu, mas ignorou o dano. “E eu tenho algo que eu sei que você vai gostar. Vamos dizer que seja um presente.”

      Canvas levantou uma sobrancelha. “Oh?”

      “Siga-me até os fundos, está na minha oficina.”

      Hector disparou para trás da loja e o titã o seguiu.

      “Agora, isso é uma obra de arte. Absolutamente única no mundo, ninguém tem uma igual.”

      Canvas franziu a testa. “É estranha. O que é isso, uma meia armadura?”

      “É uma armadura sexy, meu homem sexy. Veja só. Por favor, tomei a liberdade de ajustá-la ao seu tamanho, experimente-a.”

      Canvas olhou de volta para Angelo e o garoto ergueu o rifle alguns graus, cobrindo casualmente o chefe. Ele se despiu ali mesmo, sua armadura atual caindo em partes e batendo no chão.

      “Há um vestiário bem- Oh, certo, com esse físico, você não tem nada de que se envergonhar.” Hector desviou o olhar.

      Canvas olhou para baixo, examinando-a. “Como é que eu-”

      Hector ajustou as presilhas.

      “Agora, imagine andar por aí com isso, com seu peitoral e tanquinho pintados, do jeito que você gosta. Você pode exibí-los, você pode ser o Canvas!”

      Canvas olhou para seu reflexo no espelho.

      Angelo se aproximou, sua expressão era luxuriosa.

      Sim! Hector conteve sua excitação. Mas ele deu um soquinho no ar.

      “Como estou?” Canvas perguntou.

      “Durão e sexy,” Angelo assobiou. “Eu adorei. Na verdade, quero trepar com você aqui mesmo.”

      “Ótimo. E isso pára balas?”

      Hector entrou em modo-vendedor. “Metamaterial de alta qualidade, se transforma sob impacto em melhor do que Kevlar, impermeável a facas. Exibe o seu corpo e o protege ao mesmo tempo. Uma fortuna por centímetro, apenas celebridades e grandes empresários podem pagar por isso.” Então ele se virou e disse casualmente, “Viko usa uma.”

      À menção do nome da celebridade, Canvas se animou. “Viko? Sério?”

      “Não sai de casa sem ela. Trabalho personalizado, por essas mãos bem aqui.” Hector mexeu os dedos. “Você sabe que eu não cagueto meus clientes, mas sei que posso confiar em você.”

      Canvas se olhou no espelho mais um pouco. Ele tinha ficado muito bem, Hector tinha que admitir. Um titã musculoso, inteligente, treinado, blindado até os dentes, mas com partes transparentes entrelaçadas em lugares estratégicos. Durão e sexy de fato.

      Hector sentiu-se meio orgulhoso.

      Se ele pelo menos pudesse viver para aproveitar o sentimento.

      Canvas se aproximou e Hector estremeceu. Ele deu um tapa em seu ombro e mostrou seus dentes perfeitos. “Adorei.”

      Hector respirou aliviado pela primeira vez em horas.

      GOTA CINCO

      Timbo ouviu a voz de deus.

      Seus pés descalços batendo no mármore frio, ele deu uma volta na estação de metrô.

      “Saia daqui,” disse a voz de deus.

      Timbo olhou para cima, checou todos os cantos. O teto era tão alto e ele virou tanto a cabeça que caiu de bunda.

      “Eu já disse, saia daqui!” a voz de deus veio de todos os lados.

      Timbo fugiu e correu alguns passos, se escondendo atrás de uma esquina. Certamente deus não poderia vê-lo agora.

      “Eu ainda estou te vendo,” disse deus, sua voz clara, vindo de todo os cantos. A voz chiava como um rádio ruim, como o que a avó sempre ouvia.

      Timbo precisava conseguir algumas moedas para o dia. Ele não sabia realmente o quanto ele tinha, mas ele podia segurá-las na palma da mão e sentir seu peso. Eram definitivamente leves e Phuro iria dar uma coça nele se ele voltasse assim. Timbo descobrira que o melhor lugar para mendigar era ao lado das cabines de recarga. As pessoas colocavam seus passes de metrô na máquina, tocavam em alguns pontos na tela, e depois, ou passavam outro cartão ou colocavam moedas. Aqueles que contavam as moedas enquanto se aproximavam da máquina eram os que Timbo poderia persuadir. Ele ia até eles, cutucava o nariz, mostrava suas pernas imundas e olhava para eles com seus grandes olhos.

      Era o que a Família dizia, pelo menos. Que ele tinha olhos grandes. Timbo não podia ver seus olhos para saber o quão grandes eles eram, mas se todos insistiam, devia ser verdade. E Timbo era bom nisso, ele ia até as pessoas e implorava e elas lhe davam algumas das moedas que a máquina cuspia. Elas saíam da abertura com o plástico transparente no fundo, e Timbo tentou uma vez alcançar e pegar mais algumas moedas, mas nenhuma caiu. E a máquina arranhou o braço dele e doeu e Timbo disse “Owie,”.

      É por isso que deus estava gritando com ele, por chutar a máquina que soltava moedas.

      Timbo olhou ao redor. Por acaso a estação de metrô estava vazia naquele momento. Bem iluminada, tudo funcionava, mas não havia mais ninguém por alí, exceto o pobre e pequeno Timbo. Ele se escondeu atrás da esquina e segurou as moedas na mão. Elas eram muito leves. Ele sabia que Phuro ficaria louco.

      Timbo precisava trazer algo de volta. Todos os seus irmãos e irmãs e primos traziam algo de volta todas as noites. Se não, eles levavam uma surra e não comiam e dormiam do lado de fora. Às vezes, as pessoas olhavam para as mãos e pés sujos de Timbo e lhe davam coisas para comer, falando-lhe sobre mendigar e como ele estava sendo usado.

      Timbo concordava, sorria e mantinha a palma da mão levantada, mas sabia que não estava sendo usado. A Família era a Família. Você provia para a Família e a Companhia como um todo. Esses gadjes não sabiam disso?

      E quando você fica velho o suficiente para ter suas próprias crianças, você fica com parte do espólio do dia delas. Timbo tinha um primo que já tinha idade suficiente para ter duas crianças, que sua esposa levava por todo o sul de Atenas. Timbo os via de vez em quando porque ele andava de metrô o dia inteiro, e ia e vinha e ia e vinha. Eles eram legais com ele e checavam o quão leves eram suas moedas e às vezes davam a ele algumas moedas para trazer de volta ao Phuro.

      Seu primo sabia melhor do que ele como alguns dias eram difíceis.

      “Cai fora, seu merdinha, ciganinho nojento!” deus disse de todos os lugares.

      Timbo começou a correr como um condenado.

      Ele correu

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