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um remédio que a deixava tonta. Vocês duas estavam. Mas ela acordou e eu suponho que tenha ficado confusa nos procurando, ou estava apenas se sentindo mal e sob efeito da medicação. Acabou indo para o prédio anexo, onde estava a piscina. Suponho que você já saiba do resto”.

      Emily sabia. Mas não tinha percebido como seu papel havia sido pequeno naquilo tudo. Ela não tinha culpa por não ter acordado quando Charlotte despertou, e não tinha culpa por não ter impedido a irmã de vagar sem rumo. Também não era culpada por falar sobre a nova piscina com tanto entusiasmo e por plantar na mente de sua irmã a curiosidade de vê-la. Ela estava doente, confusa, possivelmente até aterrorizada com a briga de seus pais. Nada disso tinha sido sua culpa. Nem um pouco.

      Emily sentiu uma repentina sensação de alívio. Peso que ela nem tinha percebido que carregava sobre os ombros. Havia se apegado à culpa pela morte de Charlotte, mesmo depois de sua mãe ter esclarecido que ela não era culpada. Agora sentia como se seu pai tivesse lhe dado permissão para abandonar esse pesar.

      Ela se aconchegou nele, sentindo uma nova sensação de paz.

      Nesse momento, a quietude foi interrompida pelo som de leves batidas na porta. Daniel apareceu, tímido.

       “Daniel, entre” disse Emily, chamando-o. Ela o queria perto, agora que ela e seu pai tinham colocado tudo para fora. Precisava do seu apoio.

      Ele veio e se sentou na beira do sofá em frente a eles. Emily enxugou as lágrimas, mas continuou agarrada ao pai, encolhida como uma criança ao lado dele no sofá.

      “Alguém precisa de alguma coisa?” Daniel perguntou suavemente. “Um lenço? Uma bebida forte?” Era exatamente o que o momento precisava para cortar a atmosfera pesada. Emily soltou uma risada. Ela sentiu a barriga de Roy reverberar com uma risada também.

      “Eu aceito uma bebida”, disse ela. “Eu também aceito”, respondeu Roy. “O bar está abastecido?”

      Daniel assumiu a liderança. "Está. Vamos. Lá é fantástico. Eu vou fazer alguns drinques pra gente.

      Emily hesitou. “Pai, acha que é uma boa ideia?”

      “Por que não seria?” Roy replicou, confuso.

      Emily baixou a voz. “Por causa de seu problema com a bebida”.

      Roy pareceu surpreso. “Que problema?” Então, seu rosto ficou pálido. “Patricia te falou que eu era um alcoólatra?”

      “Você era um alcoólatra”, Emily respondeu. “Eu me lembro de você bebendo. O tempo todo.”

      “Eu bebia muito”, admitiu Roy. “Nós dois bebíamos, sua mãe e eu. Essa era uma das razões pelas quais nosso relacionamento era tão volátil. Mas eu não era alcoólatra.”

      “E quanto às gemadas que você tomava no café da manhã, no Natal?”, ela perguntou, lembrando-se de como seu pai tinha ficado irritado quando ela derrubou sua bebida.

      “Isso era só no Natal!” exclamou Roy.

      Outra parte do passado de Emily se refez. Ela foi enganada pela versão amarga e distorcida dos eventos dada por Patrícia, que obscureceu suas próprias lembranças do pai. Sentiu uma onda de fúria por sua mãe ter transformado Roy no vilão da experiência mais traumática de sua vida.

      Entraram no bar secreto e se sentaram. Daniel começou a trabalhar nos coquetéis.

      “Temos nosso próprio barman, que trabalha à noite”, explicou ele a Roy. “Alec. Ele é fantástico. Pelo menos, melhor que eu”.

      Ele serviu uma margarita para cada. Roy tomou um gole.

      “Está incrível”, disse ele. Então, um pouco tímido, acrescentou: “Você se tornou um jovem bom e educado”.

      Emily sentiu o coração disparar. Ela sorriu, exultante finalmente, sentindo que tudo estava perfeito.

      “Agradeço a você por isso”, respondeu Daniel, timidamente, sem olhar nos olhos de Roy. “Por me ensinar coisas que eu gostava. Pescaria. Vela”.

      “Você ainda navega?”, perguntou Roy.

      “Eu tenho um barco no porto. Restaurado graças a Emily. Gostamos de passear juntos de barco. Chantelle adora. Ela pesca muito bem”.

      “Eu ainda navego muito também”, disse Roy. “Quando não estou trabalhando em um relógio, passo meu tempo no barco. Ou no jardim”.

      “Você se lembra daquele dia em que me ensinou a cultivar uma horta?”, Perguntou Daniel.

      “É claro”, respondeu Roy. Ele sorriu, relembrando. “Eu nunca vi um jovem tão rebelde e desleixado trabalhar tanto com uma pá”.

      Daniel riu. “Eu estava ansioso por aprender”, disse ele. “Aproveitar a oportunidade. Mesmo que por fora parecesse que eu odiava o mundo”.

      Emily achou estranho vê-los brincando e rindo. Havia muito menos mágoa entre os dois. Pareciam amigos. Daniel era eternamente grato pelo homem que lhe deu uma chance quando ele mais precisava, ainda que o mesmo homem tivesse desaparecido para ele também. Talvez tenha sido uma surpresa para Emily perceber o quão próximos eles já foram, sabendo, também, que o verão que passaram juntos fora um verão em que ela e o pai tinham passado separados.

      O telefone dela tocou e ela viu uma mensagem de Amy, sobre a hora em que chegariam naquela tarde. Ela e Jayne tinham alguns negócios urgentes para resolver antes de ir, então chegariam mais tarde do que o planejado. Emily se sentiu culpada por ter esquecido completamente que as amigas estavam a caminho. Ficou tão envolvida com o pai que tudo o mais sumiu de sua mente.

      Ela mandou uma mensagem de volta e depois voltou sua atenção para seu pai e Daniel. Eles estavam rindo mais uma vez, despreocupados.

      “Estou tão feliz que o barco conseguiu suportar”, Daniel estava falando. “Quem diria que o tempo ficaria assim? Uma tempestade no meio do verão.”

      “Foi falta de sorte” respondeu Roy. “Considerando que era o seu primeiro passeio de barco.”

      “Bem, eu tive o melhor professor, então não estava com tanto medo.” Ele sorriu, seus olhos mergulhados na lembrança. “Obrigado por me ensinar sobre os barcos, a água e a vela. Eu não posso imaginar minha vida sem eles agora.”

      Emily assistia enquanto Roy sorria junto com Daniel. Agora que havia liberado sua raiva, sentia uma enorme sensação de paz, de clareza. Deveria ter sido sempre assim. Seu pai conversando com seu noivo, desfrutando da companhia um do outro, ansioso para logo se tornar parte da mesma família.

      Pode ter demorado um pouco, mas ela faria todo o possível para aproveitar essa nova fase.

      *

      Enquanto a noite avançava, Daniel fez outra rodada de coquetéis. Ele colocou um copo na frente de Emily, no momento em que seu telefone tocou.

      “É Amy. Melhor eu atender”, disse ela.

      “Amy? Do colégio?” perguntou Roy, levantando uma sobrancelha.

      Emily assentiu. “Ainda somos amigas”, informou a ele. “Ela é minha dama de honra. Está ajudando muito com preparativos para o casamento”.

       Emily saiu do bar para atender a ligação.

      “Amiga, desculpe”, Amy começou. “A ligação demorou séculos e agora estamos exaustas demais para dirigir. Vamos ter que passar a noite aqui. Não nos odeie”.

      “Tudo bem”, Emily disse, secretamente aliviada por suas amigas não interromperem o reencontro com seu pai.

      “Vamos sair logo de manhã”, Amy acrescentou.

      “Sinceramente, Amy, tudo bem”, “De todo modo, surgiram algumas novidades por aqui”.

      “Que novidades? Sobre o casamento? Daniel? Sheila?” ela parecia preocupada.

      “Não

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