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      CONTEÚDO

       CAPÍTULO UM

       CAPÍTULO DOIS

       CAPÍTULO TRÊS

       CAPÍTULO QUATRO

       CAPÍTULO CINCO

       CAPÍTULO SEIS

       CAPÍTULO SETE

       CAPÍTULO OITO

       CAPÍTULO NOVE

       CAPÍTULO DEZ

       CAPÍTULO ONZE

       CAPÍTULO DOZE

       CAPÍTULO TREZE

       CAPÍTULO CATORZE

       CAPÍTULO QUINZE

       CAPÍTULO DEZASSEIS

       CAPÍTULO DEZASSETE

       CAPÍTULO DEZOITO

       CAPÍTULO DEZANOVE

       CAPÍTULO VINTE

       CAPÍTULO VINTE E UM

       CAPÍTULO VINTE E DOIS

       CAPÍTULO VINTE E TRÊS

       CAPÍTULO VINTE E QUATRO

       CAPÍTULO VINTE E CINCO

       CAPÍTULO VINTE E SEIS

       CAPÍTULO VINTE E SETE

      CAPÍTULO UM

      De todas as coisas que havia para odiar na Casa dos Não Reclamados, a roda de moagem era a que Sophia mais temia. Ela gemia enquanto empurrava com força um braço ligado ao poste gigante que desaparecia no chão, enquanto ao seu redor, as outras órfãs empurravam com impulso os deles. Empurrá-lo magoava-a e fazia transpirar, o seu cabelo ruivo a ficar embaraçado com o trabalho, o seu vestido cinzento e gasto ainda mais manchando com o suor. O seu vestido estava mais curto do que ela queria agora, subindo involuntariamente a cada passo e mostrando a tatuagem na sua barriga da perna com a forma de uma máscara, marcando-a como ela era: uma órfã, uma coisa possuída.

      As outras miúdas ali tinham coisas ainda piores. Aos dezassete anos, Sophia era pelo menos uma das mais velhas e das maiores. A única pessoa mais velha no quarto era a Irmã O'Venn. A freira da Deusa Mascarada usava o hábito negro como o azeviche da sua ordem, juntamente com uma máscara de renda através da qual, todas as órfãs rapidamente perceberam, ela conseguia ver, até ao menor detalhe da falha. A irmã segurou a correia de couro com a qual costumava punir, flexionando-a entre as suas mãos enquanto ela zumbia num barulho de fundo, proferindo as palavras do Livro das Máscaras, homilias sobre a necessidade de aperfeiçoar almas abandonadas como elas

      “Neste lugar, vocês aprendem a ser úteis” entoou ela. “Neste lugar, vocês aprendem a ser valiosas, como não vos ensinaram essas mulheres caídas em desgraça que vos deram à luz. A Deusa Mascarada diz-nos que devemos moldar o nosso lugar no mundo através dos nossos esforços, e hoje os vossos esforços rodam os pequenos moinhos manuais que moem o milho e... presta atenção, Sophia!”

      Sophia encolheu-se ao sentir o impacto do cinto dela a estalar. Ela cerrou os dentes. Quantas vezes é que as irmãs já lhe tinham batido ao longo da sua vida? Por fazer a coisa errada, ou por não fazer o que é certo suficientemente rápido? Por ser suficientemente bonita ao ponto de isso constituir um pecado em si mesmo? Por ter a chama de uma ruiva que causa problemas?

      E se elas soubessem sobre o seu talento. Ela estremeceu ao pensar nisso. Se assim fosse, elas tê-la-iam espancado até a morte.

      “Estás a ignorar-me, sua idiota?” a freira exigiu. Ela batia-lhe sem parar. “Ajoelhem-se de frente para a parede, todas vocês!”

      Essa era a pior parte: não importava se fazias tudo bem. As irmãs iriam bater em todas pelas falhas de uma miúda.

      “Vocês precisam que vos recordem” disse a Irmã O'Venn, quando Sophia ouviu uma miúda gritar, “do que vocês são. De onde vocês estão.” Outra miúda gemeu quando a correia de couro atingiu a sua carne. “Vocês são as crianças que ninguém quis. Vocês são propriedade da Deusa Mascarada, a quem foi dado um lar através da sua graça.”

      Ela percorreu o quarto em redor, e Sophia sabia que ela seria a última. A ideia era fazê-la sentir-se culpada pela dor das outras, e dar-lhes tempo para a odiarem por ela as ter colocado naquela situação, antes de lhe dar uma tareia.

      A tareia pela qual ela estava ali ajoelhada à espera.

      Quando ela poderia simplesmente se ir embora.

      Esse pensamento veio a Sophia tão sem aviso que ela teve de verificar que não era um tipo de envio da sua irmã mais nova, ou que ela não o apanhara de uma das outras. Esse era o problema com um talento como o dela: vinha quando queria, e não quando chamado. No entanto, parecia que o pensamento era realmente dela e, mais do que isso, era verdade.

      Era melhor arriscar a morte do que ficar ali mais um dia.

      Claro, se ela ousasse a ir-se embora, a punição seria pior. Elas encontravam sempre uma maneira de a tornar pior. Sophia tinha visto miúdas que haviam roubado ou ripostado a morrer de fome durante dias, forçadas a ficar ajoelhadas, espancadas quando tentavam dormir.

      Mas ela já não se importava. Algo dentro dela tinha passado uma linha.

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