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Nós não temos nenhuma ideia de onde ele está.”

      “Eu poderia tentar. Eu poderia encontrá-lo.”

      “Como?”

      “Eu não sei…. Mas eu poderia tentar.”

      “Sam. Ele pode até estar morto a essa altura.”

      “Não diga isso!” ele gritou, e seu rosto ficou vermelho.

      “Desculpe,” ela disse.

      Ele se acalmou.

      “Mas você já pensou que, mesmo se nós o encontrarmos, ele pode não querer nos ver? Afinal, ele foi embora. E ele nunca tentou manter contato.”

      “Talvez por que a mamãe não deixe.”

      “Ou talvez por que ele simplesmente não gosta de nós.”

      As rugas na testa de Sam ficaram mais profundas ao se levantar novamente. “Eu procurei por ele no Facebook.”

      Os olhos de Caitlin se arregalaram, surpresos.

      “Você o achou?”

      “Eu não tenho certeza. Haviam quatro pessoas com o mesmo nome dele. Dois deles tinham perfis privados e nenhuma foto. Eu mandei uma mensagem para os dois.”

      “E?”

      Sam balançou a cabeça.

      “Ainda não tive resposta.”

      “O papai não estaria no Facebook.”

      “Você não sabe disso,” ele respondeu, mais uma vez na defensiva.

      Caitlin suspirou, caminhou até a sua cama e se deitou. Ela olhou para o teto amarelo, com a tinta descascando, e se perguntou como todos eles haviam chegado àquele ponto. Haviam cidades onde eles tinham sido felizes, até momentos em que a mãe deles parecia quase feliz. Como quando ela estava namorando aquele cara. Feliz o suficiente, pelo menos, para deixar Caitlin em paz.

      Haviam cidades, como a última, onde ela e Sam tinham feito alguns bons amigos, nas quais eles realmente pareciam poder ficar—pelo menos por tempo suficiente para se formar. E então, tudo pareceu mudar tão rápido. Mais uma mudança. Dizer adeus a todos. Era pedir demais ter uma infância normal?

      “Eu poderia voltar para Oakville,” Sam disse de repente, interrompendo seus pensamentos. Sua última cidade. Era incrível como ele sempre sabia exatamente o que ela estava pensando. “Eu poderia ficar com amigos.”

      O dia estava a afetando. Era simplesmente demais para ela. Ela não estava pensando claramente e, em sua frustração, o que ela estava ouvindo era que Sam estava se preparando para abandoná-la também, que ele não se importava mais com ela.

      “Então vá!” ela explodiu de repente, sem querer. Era como se outra pessoa tivesse dito aquilo. Ela ouviu a dureza em sua própria voz, e se arrependeu imediatamente.

      Por que ela tinha que dizer coisas como aquela? Por que ela não conseguia se controlar?

      Se ela estivesse com um humor melhor, se ela estivesse mais calma e não tivesse que lidar com tanta coisa de uma só vez, ela não teria dito aquilo. Ou ela teria sido mais gentil. Ela teria dito algo do tipo, eu sei que o que você está tentando dizer é que nunca iria embora daqui, não importa o quanto as coisas ficassem ruins, porque você não iria me deixar sozinha para lidar com tudo isso. E eu amo você por isso. E eu também nunca abandonaria você. Nesta nossa infância problemática, pelo menos nós temos um ao outro. Em vez disso, o seu humor havia falado mais alto. Em vez disso, ela tinha sido egoísta, e explodido.

      Ela sentou na cama e pôde ver a mágoa no rosto dele. Ela queria retirar o que disse, dizer que sentia muito, mas estava sobrecarregada demais. Por alguma razão, ela não conseguia abrir a boca.

      No silêncio, Sam levantou lentamente da cadeira dela e saiu do quarto, fechando gentilmente a porta.

      Idiota, ela pensou. Você é tão idiota. Por que você tem que tratá-lo do mesmo jeito que a mamãe trata você?

      Ela deitou novamente, olhando para o teto. Ela entendeu que havia outra razão pela qual ela havia explodido. Ele havia interrompido os pensamentos dela, e ele o havia feito justamente quando eles estavam ficando piores. Um pensamento ruim havia cruzado pela sua mente, e ele a havia interrompido antes que ela tivesse uma chance de resolvê-lo.

      O ex-namorado da sua mãe. Três meses atrás. Tinha sido a única vez que a mãe dela realmente parecia feliz. Frank, 50 anos. Baixinho, musculoso, perdendo cabelo. Robusto como um touro. Com cheiro de colônia barata. Ela tinha 16 anos.

      Ela estava de pé na pequena lavanderia, dobrando suas roupas, quando Frank apareceu na porta. Ele era nojento, estava sempre olhando para ela. Ele se abaixou e pegou uma das calcinhas dela, e ela podia sentir suas bochechas corarem por vergonha e raiva. Ele a levantou e riu.

      “Você deixou cair,” ele disse, rindo. Ela a puxou das mãos dele.

      “O que você quer?” ela respondeu, irritada.

      “Isso é jeito de falar com o seu novo padrasto?”

      Ele avançou meio passo.

      “Você não é meu padrasto.”

      “Mas eu vou ser—em breve.”

      Ela tentou voltar a dobrar suas roupas, mas ele avançou mais um passo. Perto demais. O coração dela pulava em seu peito.

      “Eu acho que está na hora de nos conhecermos um pouco melhor,” ele havia dito, tirando o cinto da cintura. “Você não acha?”

      Apavorada, ela tentou passar por ele e sair do pequeno cômodo, mas quando tentou, ele bloqueou sua passagem, a segurou com força e a jogou contra a parede.

      Foi então que aquilo aconteceu.

      Uma fúria a inundou. Uma fúria diferente de tudo o que ela havia experimentado. Ela sentiu seu corpo se aquecer, pegar fogo, dos dedos dos pés até o couro cabeludo. Quando ele se aproximou dela, ela pulou e o chutou, plantando os dois pés no meio do seu peito.

      Apesar de ter um terço do tamanho dele, ele voou pela porta, quebrando a madeira das juntas, e continuou voando, 3 metros até o outro cômodo. Era como se uma bola de canhão o tivesse jogado pela casa.

      Caitlin havia ficado parada lá, tremendo. Ela nunca tinha sido uma pessoa violenta, nunca tinha sequer dado um soco em alguém. Além disso, ela não era muito grande ou forte. Como ela tinha conseguido chutá-lo daquele jeito? Como ela tinha a força para fazer aquilo? Ela nunca tinha visto ninguém—muito menos um homem adulto—voar pelo ar, ou quebrar uma porta. De onde a força dela tinha vindo?

      Ela caminhou até ele e parou ali.

      Ele estava totalmente inconsciente, caído de costas. Ela se perguntou se havia o matado. Mas, naquele momento, com a raiva ainda dentro dela, ela não se importava. Ela estava mais preocupada consigo mesma, com quem—ou o quê—ela realmente era.

      Ela nunca viu Frank novamente. Ele terminou o namoro com a mãe dela no dia seguinte, e nunca mais voltou. Sua mãe havia suspeitado que algo tivesse acontecido entre os dois, mas nunca disse nada. No entanto, ela culpou Caitlin pelo fim do namoro, por estragar o único momento de felicidade em sua vida. E ela não havia deixado de culpá-la desde então.

      Caitlin voltou a olhar para o seu teto descascado, o coração batendo forte novamente. Ela pensou na raiva de hoje, e se perguntou se os dois episódios estavam ligados. Ela sempre havia acreditado que Frank tinha sido apenas um incidente estranho e isolado, alguma explosão estranha de força. Mas agora, ela se perguntava se aquilo era algo mais. Existia algum tipo de poder dentro dela? Ela era algum tipo de aberração?

      Quem era ela?

      Capítulo Três

      Caitlin correu. Seus agressores estavam de volta, e a perseguiam pelo beco. Uma rua sem saída estava em sua

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