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pai tem razão, Ceres", disse ele. "Eles seguem-te por causa de tudo o que tu fizeste. Por causa de quem tu és."

      Ela pensou sobre isso.

      "Tu consegues uni-los", acrescentou o seu pai. "Tens de fazê-lo agora."

      Ceres sabia que eles estavam certos, mas ainda era difícil estar no meio de tanta gente e saber que eles estavam à espera que ela tomasse uma decisão. O que aconteceria se ela, ainda assim, não tomasse uma decisão? O que aconteceria se ela obrigasse um dos outros a liderar?

      Ceres conseguia adivinhar a resposta. Ela conseguia sentir a energia da multidão, mantida sob controlo por enquanto, mas ali, ainda assim, como brasas fumegantes prontas para explodir num incêndio descontrolado. Sem direção, significaria saquear a cidade, mais mortes, mais destruição e talvez até derrota, já que as fações que ali estavam encontravam-se em desacordo.

      Não, ela não podia permitir isso, mesmo ainda não estando certa do que conseguia fazer.

      "Irmãos e irmãs!", gritou ela, e para sua surpresa, a multidão à sua volta ficou em silêncio.

      Agora a atenção sobre ela era total, mesmo em comparação com o que tinha acontecido antes.

      "Nós ganhámos uma grande vitória, todos nós! Todos vocês! Vocês enfrentaram o Império e arrebataram a vitória das mandíbulas da morte!"

      A multidão aplaudiu. Ceres olhou em volta, dando um momento a si própria para interiorizar o que se estava a passar.

      "Mas não é suficiente", continuou ela. "Sim, todos nós poderíamos ir para casa agora, e já teríamos conseguido muito. Podíamos até estar seguros por um tempo. Eventualmente, entretanto, o Império e os seus governantes iriam atacar-nos, ou aos nossos filhos. A situação voltaria ao que era, ou ficaria ainda pior. Precisamos de acabar com isto, de uma vez por todas!"

      "E como o fazemos?", gritou uma voz da multidão.

      "Tomamos o castelo", respondeu Ceres. "Tomamos Delos. E tornamo-la nossa. Capturamos a realeza e paramos com a sua crueldade. Akila, vieram para aqui por mar?"

      "Viemos", disse o líder rebelde.

      "Então vai para o porto com os teus homens e certifica-te de que o controlamos. Não quero que o Império se escape para ir buscar um exército contra nós, ou uma frota que nos persiga.

      Ela viu Akila assentir.

      "Nós vamos fazer isso", assegurou ele.

      A segunda parte era mais difícil.

      "Todos os outros, venham comigo para o castelo."

      Ela apontou para a fortificação sobre a cidade.

      "Há muito que permanece como um símbolo do poder que eles têm sobre vocês. Hoje, nós vamos conquistá-la."

      Ela olhou ao redor para a multidão, tentando avaliar a reação deles.

      "Se não têm armas, arranjem-nas. Se estão muito feridos, ou se não quiserem fazer isto, não precisam de ter vergonha em ficar, mas se vierem, vão poder dizer que estiveram lá no dia em que Delos ficou livre!"

      Ela fez uma pausa.

      "Povo de Delos!", gritou ela com o tom da sua voz a aumentar. "Estão comigo!?"

      O rugido da multidão foi suficiente para ensurdecê-la.

      CAPÍTULO TRÊS

      Stephania agarrou-se à amurada do barco, com os nódulos das mãos tão brancos quanto os borrifos que vinham do oceano. Ela não estava a desfrutar da viagem pelo oceano. Apenas o pensamento da vingança a que aquela viagem poderia levar a tornava de todo aceitável.

      Ela era da alta nobreza do Império. As longas viagens que ela já tinha feito tinham sido nas cabinas de grandes galeras, ou em carruagens almofadadas em comboios bem guardados, não num barco onde compartilhava espaço e que parecia demasiado pequeno na vasta extensão do oceano.

      Não era apenas o seu conforto que tornava a viagem difícil. Stephania orgulhava-se de ser mais valente do que as pessoas pensavam. Ela não iria reclamar apenas porque aquela banheira que vazava rolava com as ondas, ou por causa de uma dieta aparentemente interminável de peixe e carne salgada. Ela não ia sequer reclamar do fedor. Sob circunstâncias normais, Stephania teria colocado no seu rosto o seu melhor sorriso falso e continuado com ele.

      A sua gravidez tornava isso mais difícil. Stephania imaginava que conseguia sentir a criança a crescer dentro de si agora. O filho de Thanos. A sua arma perfeita contra ele. Dela. Era algo que quase não tinha parecido real ao ouvi-lo pela primeira vez. Agora, com a gravidez a exacerbar cada pontada de enjoo e a fazer com que a comida ainda soubesse pior do que habitualmente, tudo parecia muito real.

      Stephania observava Felene a trabalhar na parte da frente do barco, junto com a aia de Stephania, Elethe. As duas faziam um grande contraste uma com a outra. A marinheira, ladra e tudo o mais que ela era, com as suas bermudas e túnicas ásperas e com o cabelo trançado pelas costas abaixo. A aia com as suas sedas cobertas por um manto, cabelo mais curto enquadrando traços suavemente escuros com uma elegância que a outra mulher não poderia ansiar

      Felene parecia estar a divertir-se, cantando uma canção de marinheiros de uma tal vulgaridade inventiva que Stephania tinha certeza de ela o estava a fazer deliberadamente para a provocar. Ou isso, ou era a ideia de galanteio de Felene. Ela tinha visto alguns dos olhares que a ladra tinha atirado à sua aia.

      E a ela, mas pelo menos aqueles olhares eram melhores do que os olhares de suspeita. Aqueles tinham sido bastante raros no início, mas estavam a tornar-se cada vez mais frequentes, e Stephania podia adivinhar porquê. A mensagem que ela tinha enviado para atrair Thanos dizia que ela tinha tomado a poção de Lucious. À época, tinha-lhe parecido a melhor maneira de o magoar, mas agora, isso significava que ela tinha de esconder os sinais de uma gravidez que parecia determinada agora em se dar a conhecer. Mesmo que não houvesse a considerar os enjoos constantes, Stephania tinha a certeza de que se sentia a inchar como uma baleia, com os seus vestidos a ficarem cada vez mais apertados de dia para dia.

      Ela não podia esconder isso para sempre, o que significava que ela provavelmente ia ter de matar a marinheira de estimação de Thanos em algum momento. Talvez ela pudesse fazê-lo agora, bastava caminhar até ela e empurrá-la sobre a amurada da proa do barco. Ou ela poderia oferecer um cantil de água. Mesmo com a pressa com que ela havia saído, Stephania ainda tinha venenos suficientes à mão para lidar com uma legião de potenciais inimigos.

      Ela poderia até mandar a sua aia fazê-lo. Afinal, Elethe era boa com facas, embora talvez não suficientemente boa, dado que ela tinha sido a prisioneira do marinheiro quando Stephania as tinha encontrado nas docas.

      Aquela incerteza era suficiente para fazer Stephania parar. Aquela não era o tipo de coisa que ela se pudesse dar ao luxo de errar. Haveria apenas uma oportunidade de o conseguir fazer bem. Tão longe de outros recursos, o fracasso não significaria uma retirada tranquila. Podia significar a sua morte.

      Em qualquer caso, eles ainda estavam muito longe de terra. Stephania não conseguia dirigir o barco, e enquanto a sua aia seria provavelmente uma guia útil em terras de Felldust, ela provavelmente não conseguiria levá-los pelos oceanos até lá. Eles precisavam das habilidades da marinheira, tanto para encontrar terra em segurança novamente como para os levar até ao local certo. Havia lá coisas que Stephania precisava de encontrar e não conseguiria fazê-lo se nem sequer conseguisse chegar à terra que havia sido aliada do Império durante gerações.

      Stephania aproximou-se dos outros, e, por um momento, considerou empurrar Felene de qualquer maneira, simplesmente porque ela parecia surpreendentemente leal a Thanos. Não era um traço que Stephania esperasse numa ladra confessa, e isso provavelmente significava que o suborno não era uma opção. Pelo que só restavam meios mais violentos.

      Ainda assim, quando Felene se virou para ela, Stephania forçou um sorriso.

      "Falta

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