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conseguiu outro sorriso. “Não ser capaz de soletrar o que te está a matar?”

      Kevin só pôde retribuir aquele sorriso. Confiando que Luna soubesse que ele precisava que ela fosse o seu eu habitual, brincando com ele.

      “Eu consigo, eu pratiquei. A pior parte é que tudo isto significa que ninguém acredita em mim quando eu digo que tenho andado a ver coisas. Eles acham que é tudo apenas da doença.”

      Luna inclinou a cabeça para um lado. “Que tipo de coisas?”

      Kevin explicou-lhe sobre as estranhas paisagens que ele tinha andado a ver, com o fogo a devastá-las, a sensação de uma contagem decrescente.

      “Isso...” Luna começou quando ele terminou. Ela não parecia saber como acabar embora.

      “Eu sei, é uma loucura, sou louco” disse Kevin. Mesmo Luna não acreditou nele.

      “Não me deixaste terminar” disse Luna, inspirando. “Isso... é tão fantástico.”

      “Fantástico?” Kevin repetiu. Não tinha sido a reação que ele esperava, mesmo vindo dela. “Todas as outras pessoas acham que eu estou a ficar louco ou que o meu cérebro está a derreter, ou algo assim.”

      “Todas as outras pessoas são estúpidas” declarou Luna, embora, para ser justo, esse parecesse ser o seu parâmetro padrão para a vida. Para ela, todas as pessoas eram estúpidas até prova em contrário.

      “Então acreditas em mim?” Kevin perguntou. Até mesmo ele já não tinha a certeza, depois de tudo o que as pessoas lhe haviam dito.

      Luna colocou as suas mãos nos ombros dele, olhando-o diretamente nos olhos. Com outra miúda, Kevin poderia ter pensado que ela estava prestes a beijá-lo. Não com Luna, no entanto.

      “Se me disseres que essas visões são reais, então elas são reais. Eu acredito em ti. E ser capaz de ver mundos alienígenas é definitivamente fantástico.”

      Os olhos de Kevin arregalaram-se um pouco. “O que é que te faz pensar que é um mundo alienígena?”

      Luna deu um passo para trás, encolhendo os ombros. “O que mais vai ser?”

      Quando ela perguntou isto, Kevin teve a sensação de que ela estava tão atordoada com tudo isto quanto ele. Ela só fazia um trabalho melhor a escondê-lo.

      “Talvez...” ela supôs “... talvez tudo isto tenha mudado o teu cérebro, pelo que ele tenha uma ligação direta para esse lugar alienígena?”

      Se Luna alguma vez adquirisse um superpoder, provavelmente seria a capacidade de saltar para grandes conclusões num único salto. Kevin gostava disso nela, especialmente quando isto significava que ela era a única pessoa que poderia acreditar nele, mas mesmo assim, parecia muito a decidir, tão rapidamente.

      “Tu sabes o quão louco isso soa, certo?” ele perguntou.

      “Não é mais louco do que a ideia de que o mundo vai simplesmente arrancar para longe de mim o meu amigo sem um bom motivo” Luna ripostou, com os punhos cerrados de uma forma que sugeria que ela lutaria alegremente sobre o assunto. Ou talvez simplesmente cerrados pelo esforço para não chorar novamente. Luna costumava ficar com raiva, fazer piadas ou fazer coisas loucas em vez de ficar chateada. Naquele momento, Kevin não a podia culpar.

      Ele viu-a a parar de chorar, pouco e pouco, forçando um sorriso.

      “Portanto, doença terrível, visões fantásticas de mundos alienígenas... há mais alguma coisa que não me estejas a contar?”

      “Apenas os números” disse Kevin.

      Luna olhou para ele com óbvio aborrecimento. “Entendes que não era suposto teres dito sim?”

      “Eu queria contar-te tudo” disse Kevin, embora achasse que era provavelmente um pouco tarde agora. “Desculpa.”

      “Ok” disse Luna. Mais uma vez, Kevin teve a sensação que ela estava a trabalhar para processar tudo aquilo. “Números?”

      “Eu também os vejo” disse Kevin. Ele repetiu-os de memória. “23h 06m 29,283s, −05° 02′ 28,59.”

      “Ok” disse Luna. Ela franziu os lábios. “Eu questiono-me o que eles significam.”

      Que eles não pudessem significar nada não lhe pareceu ocorrer. Kevin adorava isto nela.

      Ela tinha o telefone dela. “Não é uma matrícula de carro, e seria estranho para uma palavra-passe. “Que mais?”

      Kevin não tinha pensado nisso, pelo menos não com o tipo de objetividade que Luna parecia estar a aplicar ao problema.

      “Talvez como um número de um objeto, um número de série?” Kevin sugeriu.

      “Mas há horas e minutos lá” disse Luna. Ela parecia totalmente envolvida no problema do que isso poderia significar. “E que mais?”

      “Talvez como um tempo de entrega e um local?” Kevin sugeriu. “Essas segundas partes soam como se fossem coordenadas.”

      “Não está propriamente correto para uma referência de mapa” disse Luna. “Talvez se eu pesquisar no Google... oh, fantástico.”

      “O quê é?” Kevin perguntou. Um olhar no rosto de Luna disse que eles tinham acertado.

      “Quando digitas essa cadeia de números num motor de busca, só obténs resultados sobre uma coisa” disse Luna. Ela fê-lo soar tão certo como isso. Ela virou o telefone para lho mostrar, as páginas marcadas numa fileira organizada. “O sistema de estrelas Trappist 1.”

      Kevin sentiu o seu entusiamo a aumentar. Mais do que isto, ele sentiu a sua esperança a aumentar. Esperança que isto pudesse realmente significar alguma coisa, e que não era apenas a sua doença, independentemente do que todos diziam. Esperança que isto pudesse realmente ser real.

      “Porém, porque é que eu veria esses números?” ele perguntou.

      “Talvez porque é suposto que o sistema Trappist seja um dos que têm a possibilidade de abrigar vida?” Luna perguntou. “Pelo que diz aqui, existem vários planetas lá no que pensamos ser uma zona habitável.”

      Ela disse-o como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo. A ideia de planetas que poderiam ter vida parecia demais para ser uma coincidência quando Kevin tinha visto aquela vida. Ou visto uma vida estranha, pelo menos.

      “Precisas de falar com alguém sobre isto” declarou Luna. “Tu és… como, a primeira prova de contacto extraterrestre, ou algo assim. Quem eram aquelas pessoas que procuravam alienígenas, os cientistas? Eu vi uma coisa sobre eles na televisão.”

      “SETI?” Kevin perguntou.

      “São esses” disse Luna. “Eles não estão localizados em São Francisco, ou São Jose, ou algo assim?”

      Kevin não sabia, mas quanto mais ele pensava sobre isso, mais a ideia o puxava.

      “Tens que ir, Kevin” disse Luna. “Tens de, pelo menos, falar com eles.”

      ***

      “Não” disse a sua mãe, pousando o café com tanta força que entornou. “Não, Kevin, nem pensar!”

      “Mas Mãe...”

      “Eu não te vou levar de carro até São Francisco, para que tu possas incomodar um monte de loucos” disse a sua mãe.

      Kevin estendeu o telefone, mostrando-lhe as informações sobre o SETI. “Eles não são loucos” disse ele. “Eles são cientistas.”

      “Os cientistas podem ser loucos também” disse a sua mãe. “E toda essa ideia... Kevin, não consegues simplesmente aceitar que estás a ver coisas que não existem?”

      Esse era o problema; seria muito fácil aceitar isso. Seria fácil dizer a si mesmo que isso

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