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espada da sela da zerta com ambas as mãos, erguendo-a, e virou-se.

      "Cuidado!", gritou ela para Loc.

      Ele preparou-se e ela baixou a espada com toda a sua força, cortando as correntes. Tal provocou faíscas. Ela sentiu a satisfação da liberdade pelo facto das suas correntes terem sido cortadas.

      Ao virar-se para se ir embora ela ouviu um grito.

      "E nós!?", gritou uma voz.

      Loti virou-se e viu os outros escravos a correrem, estendendo as suas algemas. Ela virou-se e viu as zerta à espera. Ela sabia que o tempo era precioso. Ela queria ir para leste o mais depressa possível, para Volusia, o último lugar para onde ela sabia que Darius estava a ir. Talvez ela o encontrasse lá. Mas, ao mesmo tempo, ela não aguentava ver as suas irmãs e irmãos algemados.

      Loti correu para a frente, pelo meio da multidão de escravos, cortando correntes à esquerda e à direita, até ficarem todos livres. Ela não sabia onde é que eles iriam agora que eram livres - mas, pelo menos, eram livre para fazer o que quisessem.

      Loti virou-se, montou a zerta, e estendeu a mão para Loc. Ele deu-lhe a sua mão boa e ela puxou-o para cima – de seguida, ela deu um pontapé com força nas costelas da zerta.

      Quando partiram, Loti estava eufórica com a sua liberdade. Ela já conseguia ouvir ao longe os gritos dos vigias do Império, detetando-a. Mas ela não esperou. Virou e levou a zerta pelo cume abaixo, descendo a encosta oposta, com ela e o seu irmão a entrarem de rompante pelo deserto, para longe dos vigias – e para o outro lado da liberdade.

      CAPÍTULO NOVE

      Darius olhou para cima em choque, olhando fixamente para os olhos do misterioso homem que estava ajoelhado sobre ele.

      O pai dele.

      Quando Darius olhou nos olhos do homem, toda a noção de tempo e espaço desapareceu, toda a sua vida congelou naquele momento. De repente, tudo fez sentido: aquela sensação que Darius tinha tido desde o momento em que o tinha visto. Aquele olhar familiar, aquele algo que lhe repuxava a consciência, que o incomodava desde que eles se tinham encontrado.

      O pai dele.

      A palavra nem parecia real.

      Lá estava ele, ajoelhando-se sobre si, tendo acabado de salvar a vida de Darius, tendo bloqueado um golpe mortal de um soldado do Império, um que certamente teria matado Darius. Ele tinha arriscado a sua vida para se aventurar por ali, sozinho, na arena, no momento em que Darius estava prestes a morrer.

      Ele tinha arriscado tudo por ele. O seu filho. Mas porquê?

      "Pai", disse Darius de volta, a sussurrar, em reverência.

      Darius sentiu uma onda de orgulho ao perceber que era da família daquele homem, daquele bom guerreiro, o melhor guerreiro que ele já conhecera. Isso fê-lo sentir que talvez ele pudesse ser um grande guerreiro, também.

      O seu pai agarrou-lhe a mão com firmeza e força. Ele levantou Darius, e, ao fazê-lo, Darius sentiu-se renovado. Sentiu como se tivesse uma razão para lutar, uma razão para ir em frente.

      Darius imediatamente baixou-se, apanhou a sua espada do chão. Em seguida, virou-se, e, juntamente com o seu pai, enfrentaram a horda de soldados do Império que se aproxima. Com aquelas criaturas horrendas agora mortas, todas mortas pelo seu pai, as cornetas tinham soado e o Império tinha enviado uma nova vaga de soldados.

      A multidão rugia. Darius olhou para os rostos hediondos dos soldados do Império que avançavam contra eles, empunhando longas lanças. Darius focou-se e sentiu o mundo a desacelerar ao preparar-se para lutar pela sua vida.

      Um soldado avançou e atirou uma lança para a sua cara. Darius desviou-se precisamente antes de ela o atingir no olho; Ele então virou-se e, quando o soldado se aproximou para o enfrentar, Darius esmagou a sua têmpora com o punho da espada, derrubando-o no chão. Darius agachou-se quando outro soldado balançou uma espada na direção da sua cabeça, e, em seguida, saltou para a frente e esfaqueou-o no estômago.

      Outro soldado atacou vindo de lado, com a sua lança direcionada às costelas de Darius, movendo-se com demasiada rapidez para Darius conseguir reagir; no entanto, ele ouviu o som de madeira a bater em metal, e ele virou-se agradecido ao ver o seu pai aparecer e usar o seu bastão para bloquear a lança antes de aquela atingir Darius. Ele então aproximou-se e espetou o bastão entre os olhos do soldado, derrubando-o no chão.

      O seu pai girava com o seu bastão, enfrentando o grupo de atacantes. O som do seu bastão enchia o ar enquanto ele, aos golpes, afastava, uma lança após a outra. O seu pai dançava entre os soldados, como uma gazela a ondular-se através dos homens. Ele empunhava o seu bastão graciosamente, girando e golpeando habilmente os soldados, com golpes assertivos na garganta, entre os olhos, no diafragma, derrubando homens em todas as direções. Ele era como um relâmpago.

      Darius, inspirado, lutava como um homem possuído ao lado do seu pai, extraindo para fora de si energia; ele golpeava, agachava-se e espetava, com a sua espada a ressoar contra as espadas dos outros soldados, com faíscas a voar enquanto ele avançava sem medo na direção do grupo de soldados. Eles eram maiores do que ele, mas Darius tinha mais espírito, e ele, ao contrário deles, estava a lutar pela sua vida - e pela do seu pai. Ele desviou mais do que um golpe destinado ao seu pai, salvando-o de uma morte imprevista. Darius fez cair soldados por todos os lados.

      O último soldado do Império dirigiu-se apressadamente para Darius, erguendo uma espada por cima da cabeça com ambas as mãos – e, ao fazê-lo, Darius avançou e apunhalou-o no coração. Os olhos do homem arregalaram-se e ele congelou lentamente, caiu no chão, morto.

      Darius mantinha-se perto do seu pai, os dois de costas um para o outro, respirando com dificuldade, examinando a sua façanha. Ao redor deles, os soldados do Império jaziam mortos. Eles tinham sido vitoriosos.

      Darius sentiu que ali, ao lado do seu pai, ele poderia enfrentar qualquer coisa que o mundo atira-se para cima dele; ele sentiu que, juntos, eles eram uma força imparável. E parecia surreal estar realmente a lutar ao lado do seu pai, que ele sempre tinha sonhado que era um grande guerreiro. Afinal, o seu pai não era apenas uma pessoa comum.

      Ouviu-se um coro de cornetas e a multidão aclamou. De início, Darius esperava que eles estivessem a aclamar a sua vitória, mas, a seguir, enormes portas de ferro abriram-se no outro lado da arena e ele sabia que o pior estava apenas a começar.

      Ouviu-se o som de uma trombeta, mais alto do que qualquer uma que Darius já tivesse ouvido, e ele levou um momento para perceber que não era a trombeta de um homem - mas sim, a tromba de um elefante. Enquanto olhava para o portão, com o seu coração a bater em antecipação, apareceram, de repente, para sua surpresa, dois elefantes, todos pretos, com longas e reluzentes presas brancas, com os focinhos contorcidos de raiva e inclinando-se para trás, levantando a tromba.

      O ruído sacudiu o próprio ar. Eles levantaram as suas patas dianteiras e, em seguida, baixaram-nas com tanta força que tal fez abanar o chão, fazendo com que Darius e o seu pai se desequilibrassem. Acima deles cavalgavam soldados do Império, empunhando lanças e espadas, vestindo armaduras da cabeça aos pés.

      Darius observou-os, olhando para aquelas bestas, maiores do tudo o que ele tinha visto na sua vida: ele sabia que não havia nenhuma maneira que ele e seu pai poderem ganhar. Ele virou-se e viu o seu pai ali parado, sem medo, não recuando enquanto estoicamente encarava a morte de frente. Tal deu forces a Darius.

      "Nós não conseguimos ganhar, Pai", disse Darius, afirmando o óbvio, enquanto os elefantes começavam a avançar.

      "Nós já ganhámos, meu filho", disse o pai. "Ficando aqui de pé e encarando-os, não virando as costas e fugindo, já os derrotámos. Os nossos corpos podem morrer aqui hoje, mas a nossa memória continuará viva - e será uma memória de valentia!"

      Sem outra palavra, o pai dele soltou um grito e avançou para o ataque, e Darius, inspirado, gritou e avançou ao seu lado. Os dois correram ao encontro dos elefantes,

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