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seria esmagado pelo peso do dragão morto.

      Alec, ainda em choque por ter conseguido matar aquela grande besta, sabia que o dragão, com todo o seu peso e velocidade, iria afundar-se no fundo da Baía da Morte, levando-o com ele. A Espada Inacabada poderia matar um dragão – mas nenhuma espada poderia parar a sua descida. Pior, as mandíbulas do dragão, agora relaxadas, aproximavam-se dele à medida que os seus músculos relaxavam, apertando-se para formar uma jaula de onde Alec nunca conseguiria escapar. Ele sabia que tinha de agir rápido para ter alguma hipótese de sobrevivência.

      Enquanto o sangue esguichava na sua cabeça desde o céu-da-boca do dragão, Alec extraiu a espada e, com as mandíbulas quase fechadas, preparou-se e saltou. Ele gritou ao cair pelo ar gelado, com os dentes afiados do dragão a rasparem-lhe as costas, cortando a sua carne. A sua camisa ficou presa num dente do dragão e, por um momento, ele achou que não iria conseguir. Atrás de si ouviu as grandes mandíbulas a fecharem-se, sentiu a sua camisa a rasgar-se e um pedaço a arrancar-se – e finalmente, ele entrou em queda livre.

      Alec agitava-se ao cair pelo ar, preparando-se para as negras e turbulentas águas abaixo.

      De repente, ouviu-se um chapão. Alec entrou em choque ao mergulhar nas águas geladas, com a temperatura impedi-lo de respirar. A última coisa que ele viu ao olhar para cima foi o corpo morto do dragão a cair perto dele, prestes a afetar a baía.

      O corpo do dragão atingiu a superfície com um estrondo horrível, provocando ondas enormes de água em todas as direções. Felizmente, por pouco não acertou em Alec. A onda fez-se em crista para longe do cadáver do dragão, transportando Alec para uns bons vinte pés de distância antes de parar – e, então, para pavor de Alec, começou a sugar para baixo tudo à sua volta num remoinho gigante.

      Alec nadava com todas as suas forças para escapar, mas não conseguia. Mesmo tentando, quando deu por ele, estava a ser sugado para as profundezas do imenso remoinho.

      Alec nadava o melhor que conseguia, ainda a segurar a espada, já a uns bons vinte pés abaixo da superfície, batendo os pés e mergulhando nas águas geladas. Ele batia os pés para a superfície, desesperado, com a luz do sol a brilhar lá de cima. Ao fazê-lo, ele viu tubarões enormes a nadar na sua direção. Ele tinha acabado de avistar o casco do navio a flutuar nas águas lá em cima e sabia que tinha pouco tempo para conseguir fazê-lo se quisesse sobreviver.

      Com um último bater de pés, Alec finalmente chegou à superfície, arfando com falta de ar; pouco depois, sentiu umas mãos fortes a agarrarem-no. Ele olhou para cima e viu Sovos a puxá-lo para bordo do navio e, um segundo depois, ele estava no ar, ainda a segurar a espada.

      No entanto, de soslaio, ele apercebeu-se de movimento. Virou-se e viu um enorme tubarão vermelho a saltar para fora da água, atirando-se para a sua perna. Não havia tempo.

      Alec sentiu o zumbido da espada na sua mão, dizendo-lhe o que fazer. Ele nunca havia sentido aquilo. Ele deu balanço e gritou ao baixá-la com toda a sua força, usando as duas mãos.

      Seguiu-se o som do aço a cortar carne e Alec observou em choque a Espada Inacabada a cortar ao meio o enorme tubarão. As águas vermelhas rapidamente se encheram de tubarões a comer os pedaços.

      Outro tubarão saltou para os seus pés, mas desta vez Alec sentiu-se a ser puxado para o alto, caindo no convés com um estrondo.

      Ele rebolou e gemeu, cheio de dores e contusões. Respirou fundo, aliviado, extenuado, todo molhado. Alguém, imediatamente, o cobriu com um cobertor.

      "Como se matar um dragão não fosse suficiente", disse Sovos com um sorriso, de pé ao pé dele, entregando-lhe um cantil de vinho. Alec deu um longo gole que lhe aqueceu o estômago.

      O navio estava repleto de soldados, todos num animado estado caótico. Alec não estava surpreendido: afinal, não era com frequência que um dragão era derrubado por uma espada. Ele olhou e viu no convés, no meio da multidão, Merk e Lorna, claramente resgatados da água antes. Merk olhou para ele como um patife, possivelmente, um assassino, enquanto Lorna estava encantadora, com uma qualidade etérea. Ambos estavam a pingar e pareciam atordoados e felizes por estarem vivos.

      Alec reparou que todos os soldados estavam a olhar para ele, boquiabertos. Em choque, levantou-se lentamente ao aperceber-se ele mesmo do que acabara de alcançar. Eles olhavam para a espada que lhe pingava da mão e para ele como se ele fosse um deus. Ele próprio não conseguia deixar de olhar para a espada, sentindo o seu peso na mão, como se fosse uma coisa com vida. Ele olhou para o misterioso metal brilhante, como se fosse um objeto estranho e reviveu na sua mente o momento em que tinha esfaqueado o dragão e o seu choque quando a espada perfurou a sua carne. Ele estava maravilhado com o poder daquela arma.

      Talvez ainda mais do que isso, Alec não podia deixar de se perguntar quem é que ele era. Como é que ele, um simples rapaz de uma simples aldeia, era capaz de matar um dragão? O que é que o destino lhe reservava? Ele começara a sentir que não seria um destino comum.

      Alec ouviu o estalar de um milhar de mandíbulas. Olhou sobre a amurada e viu um grupo de tubarões vermelhos agora a deleitarem-se com a enorme carcaça do dragão, que flutua à superfície. As águas negras da Baía da Morte estavam agora vermelho-sangue. Alec observava a carcaça a flutuar, tomando consciência de que tinha mesmo feito aquilo. De alguma forma, ele havia matado um dragão. Ele, sozinho, em todo o Escalon.

      Gritos altos enchiam o céu. Alec olhou para cima e viu mais dezenas de dragões a circular ao longe, expirando grandes colunas de chamas, ávidos por vingança. Embora todos eles olhassem para ele, alguns pareciam ter medo de se aproximarem. Vários afastaram-se do grupo a voar quando viram o seu companheiro dragão a flutuar morto na água.

      Outros, no entanto, guincharam em fúria e desceram a pique na direção dele.

      Ao vê-los descer a pique, Alec não ficou à espera. Correu para a popa, saltou para cima da amurada, e enfrentou-os. Ele sentia o poder da espada a correr-lhe o corpo, incitando-o. Ali ele sentia uma nova determinação de aço. Ele sentia como se a espada o estivesse a dirigir. Ele e a arma eram agora um.

      O grupo de dragões desceu diretamente na sua direção. Um dragão enorme com olhos verdes brilhantes liderava-os, guinchando enquanto expelia chamas para baixo. Alec ergueu bem alto a espada, sentindo a vibração na sua mão, dando-lhe coragem. Ele sabia que o próprio destino de Escalon estava em jogo.

      Alec sentiu uma onda de coragem que nunca tinha conhecido e soltou, ele próprio, um grito de guerra; ao fazê-lo, a espada tornou-se incandescente. Uma intensa explosão de luz disparou para a frente, erguendo-se, parando a parede de chamas a meio caminho no céu. A luz continuou até fazer a chama reverter o trajeto e, quando Alec golpeou novamente com a espada, o dragão guinchou ao ficar retido na própria coluna de chamas. Numa grande bola de fogo, o dragão guinchou e agitou-se ao cair e mergulhar nas águas.

      Outro dragão desceu a pique e, novamente, Alec levantou a espada, parando a parede de chamas, matando-o. Outro dragão desceu e, ao fazê-lo, baixou as suas garras, como se para colher Alec para cima. Alec virou-se, golpeou e ficou chocado ao ver que a espada tinha cortado as pernas do dragão. O dragão guinchou e, no mesmo movimento, Alec deu balanço novamente, golpeando-o de lado, abrindo um corte enorme. O dragão caiu no oceano e, agitando-se ali, incapaz de voar, ele foi atacado por um grupo enorme de tubarões.

      Outro dragão, pequeno e vermelho, desceu do outro lado, com as mandíbulas bem abertas – e desta vez Alec deixou que os seus instintos o guiassem e saltou para o ar. A espada deu-lhe poder. Ele saltou mais alto do que poderia imaginar, sobre a cabeça do dragão, pousando nas suas costas.

      O dragão guinchava e resistia, mas Alec mantinha-se firme. O dragão não conseguiria acabar com ele.

      Alec sentia-se mais forte do que o dragão, capaz de comandá-lo.

      "Dragão!", gritou ele. "Eu ordeno-te! Atacar!"

      O dragão não teve outra escolha senão virar-se e voar para cima, diretamente na direção do grupo de dragões que desciam, uma dúzia deles ainda a descer. Alec enfrentou-os sem medo, voando para cima na direção deles, segurando a espada diante dele. Ao encontrarem-se no céu, Alec golpeou com a espada uma e outra

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