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apenas homem – Thor podia sentir isso de onde estava. Ele era muito mais do que isso. Um Druida, talvez. Ele permanecia alto e erguido, sua cabeça coberta por um capuz, perfeitamente tranquilo, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo.

      Thor não sabia o que fazer. Ele já tinha ouvido falar dos Druidas, mas nunca tinha encontrado um. Pelas marcas do seu manto e suas elaboradas terminações de ouro, dava para perceber que aquele não era um simples Druida: essas eram as marcas reais. Da corte do rei. Thor não podia compreender. O que fazia um Druida real ali?

      Após o que parecia uma eternidade, o Druida, lentamente, virou-se e o encarou e quando ele o fez, Thor reconheceu sua face. Ela tirou-lhe o fôlego. Era um dos rostos mais famosos do Reino: o Druida pessoal do rei. Argon, o conselheiro dos reis do Reino Ocidental há séculos. O que ele estava fazendo ali, longe da corte real, no centro de Darkwood, era um mistério. Thor se perguntou se ele podia imaginar isso.

      “Seus olhos não o enganam.” Disse Argon, fitando Thor.

      Sua voz era profunda, remota, como se falada pelas próprias árvores. Seus olhos grandes, translúcidos pareciam penetrar Thor, perscrutando-o. Thor sentiu uma intensa energia que provinha do Druida – era como se ele estivesse de pé, de frente para o sol.

      Thor, imediatamente, dobrou um joelho e curvou sua cabeça.

      “Meu senhor.” Disse. “Perdoe-me se eu o incomodei.”

      O desrespeito para com o conselheiro do rei resultaria em prisão ou morte. Esse fato tinha sido inculcado em Thor desde o momento em que ele nasceu.

      “Levante-se, filho!” Disse Argon. “Se eu quisesse que você se ajoelhasse, Eu teria lhe dito.”

      Lentamente, Thor levantou-se e olhou para ele. Argon se aproximou de Thor. Ele parou e olhou fixamente para Thor, que começou a se sentir incômodo.

      Argon disse-lhe: – “Você tem os olhos de sua mãe.”

      Thor ficou totalmente surpreendido. Ele nunca conheceu sua mãe e nunca tinha conhecido ninguém, além de seu pai, que a tivesse conhecido. Disseram-lhe que sua mãe havia morrido durante o parto, algo pelo qual Thor sempre tinha um sentimento de culpa. Ele achava que era por isso que sua família o odiava.

      “Acho que está me confundindo com outra pessoa.” Disse Thor. “Eu não tenho mãe.”

      “Não mesmo?” Argon perguntou com um sorriso. “Então você nasceu de um homem?”

      “O que eu quero dizer, senhor, é que minha mãe morreu de parto. Eu acho que há um engano.”

      “Você é Thorgrin, do clã McLeod. O caçula de quatro irmãos. O que não foi escolhido.”

      Thor arregalou os olhos. Ele mal sabia o que pensar disso. Que alguém tão importante como Argon soubesse quem ele era – estava além de sua compreensão. Ele jamais imaginou que fosse conhecido por alguém de fora da sua aldeia.

      “Como… Sabe de tudo isso?”

      Argon sorriu novamente, porém não lhe respondeu.

      Thor ficou subitamente cheio de curiosidade.

      “Como…” Thor acrescentou, buscando as palavras certas “… Como sabe sobre minha mãe? O senhor a conheceu? Como ela era?”

      Argon virou-se e afastou-se.

      “Deixemos as perguntas para depois.” Disse ele.

      Thor via-o afastar-se, perplexo. Era um encontro tão estonteante e misterioso e tudo estava sucedendo tão rápido. Ele decidiu que não podia deixar que Argon fosse embora e apressou-se em ir atrás dele.

      “O que está fazendo aqui?” Thor perguntou, apressando o passo para alcançá-lo. Argon, usando seu cajado, uma coisa de marfim antiga, caminhava incrivelmente rápido. “O senhor não estava esperando por mim, estava?”

      “Por quem mais?” Perguntou Argon.

      Thor apressou-se em alcançá-lo, seguindo-o pelo bosque, deixando atrás a clareira.

      “Mas por que eu? Como sabia que eu estaria aqui? O que quer de mim?”

      “São perguntas demais.” Disse Argon. “Você satura o ar. Em lugar disso, você deveria ouvir.”

      Thor o seguia, quando eles continuaram através do denso bosque, fazendo o melhor que podia para permanecer em silêncio.

      “Você veio em busca de sua ovelha perdida.” Argon falou. “Um esforço nobre. Mas você perdeu seu tempo. Ela não sobreviverá.”

      Os olhos de Thor se arregalaram.

      “Como sabe isso?”

      “Eu conheço mundos que você jamais conhecerá garoto. Pelo menos não ainda.”

      Thor se perguntava muitas coisas enquanto caminhava para acompanhá-lo.

      “No entanto, você não escuta. Essa é sua natureza. Teimoso. Como sua mãe. Você continuará buscando sua ovelha, determinado a regatá-la.”

      Thor enrubesceu, já que Argon tinha lido os seus pensamentos.

      “Você é um garoto entusiasta.” Ele acrescentou. “Com uma vontade de ferro. Muito valente. Qualidades positivas. Mas um dia elas poderão ser a sua ruína.”

      Argon começou a caminhar até uma ladeira musgosa, seguido por Thor.

      “Você quer se juntar a Legião do rei.” Disse Argon.

      “Sim!” Thor respondeu, animadamente. “Eu tenho alguma chance? O senhor pode fazer com que isso aconteça?”

      Argon riu com um som profundo e ecoante que enviou um arrepio pela espinha de Thor.

      “Eu posso fazer com que tudo e nada aconteça. Seu destino já estava escrito. Porém depende de você escolhê-lo.”

      Thor não compreendia.

      Eles chegaram ao topo da ladeira, onde Argon parou e encarou-o. Thor ficou apenas a alguns passos de distância e a energia de Argon queimava através dele.

      “Seu destino é um destino importante.” Ele disse. “Não o abandone.”

      Thor arregalou os olhos. Seu destino? Importante? Ele sentiu encher-se de orgulho.

      “Eu não entendo, o senhor fala por enigmas. Por favor, conte-me mais.”

      Argon desapareceu.

      Thor ficou de queixo caído. Ele olhava para cada um dos caminhos, ouvindo, perguntando-se. Tinha ele imaginado tudo? Havia sido uma ilusão?

      Thor voltou-se e examinou o bosque; desde sua posição vantajosa, de cima da ladeira, ele podia enxergar mais longe que antes. Quando ele olhou, detectou movimento à distância. Ele ouviu um barulho e estava seguro de que era sua ovelha.

      Ele caminhava com dificuldade na ladeira musgosa e apressou-se em direção do som, de volta ao bosque. Enquanto ele seguia, não podia interpretar seu encontro com Argon. Mal podia conceber que isso havia acontecido. O que o Druida do rei estava fazendo ali, naquele lugar? Ele tinha esperado por ele. Mas por quê? E o que ele quis dizer sobre o seu destino?

      Quanto mais Thor tentava desvendar isso, menos ele entendia. Argon havia lhe avisado para não continuar, ao mesmo tempo em que o incitou a fazer isso. Agora, ao prosseguir Thor tinha um forte pressentimento, era como se algo importante estivesse para acontecer.

      Ele virou uma curva e parou em seco na trilha, ao deparar com a vista diante dele. Todos os seus piores pesadelos foram confirmados em um único momento. Estava de cabelo em pé, percebeu que ele tinha cometido um erro grave a entrar tão profundamente em Darkwood.

      Em frente dele, a escassos trinta passos de distância, estava um Sybold. Vigoroso, musculoso, de pé sobre as quatro patas, quase do tamanho de um cavalo, era o animal mais temido de Darkwood, talvez até de todo o reino. Thor nunca tinha visto um, Mas tinha ouvido as lendas. Se parecia a um leão, mas era maior, mais largo, sua pele era de uma cor escarlate profundo e seus olhos de um amarelo brilhante. Dizia a lenda que sua cor carmesim provinha do sangue de crianças inocentes.

      Thor

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