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Os Gianellis tinham cinco filhos, indo de dois a dez anos de idade; apesar de ter sido apresentado a todos eles, Peter teve problemas para memorizar a ordem correta e os nomes, exceto por Mary, a de oito anos, que foi a garota que lhe trouxe comida na noite anterior.

      Conheceu Bill e Patty Lavochek de San Luis Obispo. Os Lavocheks, ambos com seus vinte e poucos anos, estavam casados fazia apenas quatro meses, e estavam encarando essa empreitada como se fosse uma grande aventura—e um bom modo de começar vida nova. Bill, um maquinista, tinha certeza que seus talentos teriam alta demanda no Monastério e no novo mundo.

      Peter também conheceu Harvei e Willa Parks. Harv, um encanador de San Francisco, era um homem pequeno experiente em seus quase quarenta anos. Tinha modos bruscos, mas uma disposição amistosa. Willa era cerca de dez anos mais nova que ele. Muito tímida e quieta, mas que sempre fazia tudo que lhe era pedido sem reclamar. Possuíam dois filhos, uma garota de sete e um garoto de quatro.

      Antes de se tornar o primeiro da fila a médica, Sarah Finkelstein, veio perguntar como seu braço estava. Peter disse a ela que o braço estava rígido, mas usável, e ela pediu que avisasse se a situação mudasse.

      Em frente a fila, servindo os membros, estava o casal japonês, Charlie e Helen Itsobu, ambos na casa dos quarenta anos. Charlie foi colocado nos afazeres culinários porque era um chef profissional—chefe de cozinha, na verdade, no que era o restaurante japonês favorito de Peter em San Francisco. Peter deu-se conta de quão habilidoso Charlie deveria ser—não é comum um jovem chegar tão alto nos círculos da culinária—e cumprimentou ele. Charlie sorriu e pediu desculpas por servir algo não tão elegante como gostaria. Com uma piscadela, deu a Peter um bolo de trigo a mais.

      Enquanto Peter se afastava do trailer, os Gianellis acenaram, convidando-o para sentar e comer com eles. Peter fez isso com alegria; já fazia tanto tempo que ele teve companhia e agora estava ficando bêbado de camaradagem. Kudjo lhe deu um tapa nas costas quando se sentou, saudou o resto de pessoal, e então pegou uma segunda motocicleta do caminhão líder e saiu com ela. “Onde ele está indo?” perguntou Peter.

      “Oh, ele é nosso batedor,” disse Dom Gianelli. “Vai na frente, dá uma olhada na situação, garante que nossa rota está segura. Era isso que ele estava fazendo ontem quando encontrou você.”

      Peter acenou. “Faz sentido.”

      “Bom homem, esse Kudjo. Aposto que teria sido um excelente jogador de futebol americano. Um wide receiver5 natural, pelo jeito dele.”

      “Posso me juntar a vocês?” veio uma voz feminina por trás. “Não posso deixar passar a notável chance de conhecer um bacharel.”

      “Sim, sente-se,” sorriu Gina Gianelli.

      A garota que se sentou ao lado de Peter era baixa e meio corcunda, com um cabelo castanho desgrenhado e olhos grandes. Sua característica mais aparente era seu nariz, que dominava sua face a ameaçava tomar o controle completamente. “Sou Marcia Konigsburg, vinte e quatro e solteira. Não que eu esteja medindo você para um bolo de casamento, mas acho que é bom deixar as coisas claras o quanto antes. Desenho roupas para boutiques, e também faço fantasias para o teatro. Acho que é por isso que Honon pediu para que eu viesse—seja lá onde vamos parar, acho que precisaremos de alguém que faça as roupas certas para a ocasião.”

      Peter gostou dela instantaneamente. Ela era amigável, quase grudenta, mas cujo charme superava a impressão inicial de falta de elegância. “Li seu livro, sabe,” ela prosseguiu.

      “Então você é a única.”

      “Ei, você é engraçado também. Sim, ele realmente me impressionou. Estava no segundo grau do colégio na época, e acho que tudo me impressionava. David Hume, Aleister Crowley e você eram meus três favoritos.”

      “Certamente fazemos um trio estranho.”

      “Se serve de consolo, meus amigos diziam que eu não tinha gosto. Esse era o tipo de pessoas que eu costumava andar—loucas, todas elas.”

      Subitamente Peter sentiu uma sensação estranha na nuca, como se estivesse sendo observado. Ao virar ele viu uma garota o observando ao lado de um dos carros. Ela era jovem, magra e loira, com a aparência que transmitia uma inocência quase angelical. Quando se virou para olhar melhor ela olhou em outra direção, fingindo não ter percebido. Peter deu de ombros e voltou a conversa.

      Marcia nem notou que ele não prestava atenção e estava falando algo sobre a quebra no jeito formal da educação, a qual ela mesma tinha testemunhado.

      “Foi bem como você mencionou—as aulas tinham cada vez menos a ver com a realidade, não só porque não queriam ser relevantes, mas porque a realidade escapava delas.” As palavras dela fora tiradas quase como estavam no livro; deve ter memorizado essa parte.

      Dom Gianelli acenou para um homem alto com uma camisa de malha branca e calças pretas. “Padre Tagon,” chamou ele, “por que não se junta a nós?”

      O homem seguiu a sugestão. “Espere até conhecer este cara,” Dom falou para Peter. “ele é capaz de realmente entrar em um debate com você.”

      O recém chegado era um homem alto e magro, na casa dos trinta, com um nariz de falcão, olhos castanhos e uma grande testa que gradualmente se fundia com seu cabelo castanho. “Oi” disse ele, curvando-se para Peter e estendendo a mão. “Sou Jason Tagon.”

      “Ouvi Dom chamar você de ‘Padre’?”

      “Poderia me chamar de ‘Doutor’ se quisesse—tenho um Ph.D. em astronomia.” Mas sim, sou um padre. Títulos não parecem ter muito significado nos dias de hoje, e prefiro ser chamado de Jason.”

      Peter acenou e armazenou aquele fato em sua memória, que já estava ficando rapidamente sobrecarregada dessa sequência de novos rostos e nomes. “Dom também mencionou algo sobre você debater comigo.”

      “Ele fraseou isto de forma exagerada. Não posso argumentar contra suas predições—elas obviamente se tornaram realidade. São suas atitudes que me incomodam.”

      “Sobre a Igreja Católica?”

      Jason sorriu. “Em parte sim. Você falou—vejamos se consigo citar—‘a Igreja Católica fez mais do que qualquer organização na história para retardar o curso do progresso do homem.’ “

      “Espero que você não tenha levado isso para o lado pessoal; o fato é que a igreja Católica esteve presente por mais tempo que qualquer outra organização na história. Todas as organizações eventualmente se tornam repressivas em alguma extensão—elas passam por certo ponto em sua existência onde sua função original troca para preservação própria. Eu era contra a estrutura burocrática, não contra os Católicos em si.”

      “Eu percebi isso. Mas nós, Católicos individuais, somos levados a acreditar que a Igreja não pode fazer coisas erradas, e sofrer esse tapa ainda dói. Essa não é minha única objeção. Como um ordenado de Deus, não pude deixar de perceber que você deixou Ele fora de seus cálculos.”

      “Como um ordenado agnóstico,” rebateu Peter, “não pude deixar de sentir que o sobrenatural era uma variável supérflua em meus cálculos. Estava lidando primariamente com ecologia social. As regras foram postas por Deus—se ele realmente existe—há muito tempo atrás, e não pude notar mudanças significativas em tais regras uma vez o jogo tendo começado. Trabalho exclusivamente com seres humanos.”

      “E você ignorou a possibilidade de intervenção divina.”

      “Digamos que teria recebido de braços abertos, mas não contava com ela.”

      “O que me diz sobre essa tentativa de colonização interestelar?”

      “Se está tentando dizer que foi intervenção divina, não serei capaz de refutar. Na mesma medida, desafio você a provar que não foi um mero trabalho de homens ingênuos e dedicados.”

      “Touché”

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