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pagar a um angariador de fundos profissional e que estava a fazer tudo sozinha. Garanto-te que não é uma tarefa fácil.

      – Não… – reconheceu Jeremy.

      No entanto, aborrecia-o enganar-se. Imaginava que podia haver filhas de famílias ricas com consciência social e o desejo de fazer alguma coisa pelos menos favorecidos, mas, segundo a sua experiência, era muito estranho.

      Ficou impressionado e decidiu que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para que o leilão daquela noite fosse um sucesso.

      – Será melhor continuar a trabalhar – acrescentou ele.

      No entanto, tinha a mente noutra coisa. Estava impaciente por saber tudo a respeito da enigmática Alice Waterhouse.

      Capítulo 2

      – Obrigada por me emprestares este vestido comprido tão bonito, Fiona.

      Alice estava a olhar-se ao espelho de corpo inteiro. O vestido era preto, liso e sem alças, mas tinha um casaco a condizer para a proteger do fresco da noite até chegar ao hotel.

      – É um prazer – replicou a companheira de apartamento.

      Essas palavras recordaram-lhe a conversa que tivera com o editor de Kenneth Jacobs. Era um homem encantador e tinha uma voz linda. Seria um leiloeiro muito melhor do que o senhor Jacobs.

      – Oxalá pudesse ter ido ao teu evento em vez de ter de jantar com os pais do Alistair – continuou Fiona –, mas é o aniversário da mãe dele… Não posso começar mal com a minha futura sogra.

      – Suponho que não.

      Alice alegrava-se por não ter de se preocupar com essas coisas, porque não tencionava casar-se.

      – Estás muito bonita – elogiou Fiona. – Adoraria ter a tua classe, a tua altura e o teu cabelo.

      Alice ficou perturbada com os elogios. Parecia-lhe que não era nada de especial, embora tivesse um cabelo bonito. Era loiro e fácil de pentear. Também não era tão alta, media um metro e setenta. Sim, era verdade que Fiona era mais baixa, mas era muito atraente. Tinha um cabelo escuro e denso, uns olhos grandes e castanhos e um corpo voluptuoso que os homens desejavam. Embora Alice não quisesse que a desejassem.

      – Esse vestido fica-te muito melhor do que a mim – continuou Fiona. – Quando o visto, fico quase com os seios de fora e os homens não me tiram os olhos de cima toda a noite. O Alistair diz que não devo voltar a usá-lo, portanto, se o quiseres, querida, é todo teu.

      Alice surpreendia-se por Fiona lhe chamar «querida» como se fosse uma criança quando, na verdade, tinham a mesma idade. Também não queria que a tratasse como se ainda fosse aquela rapariga que chegara a Londres e aparecera, sem um cêntimo, à sua porta.

      Fiona acolhera-a e dera-lhe um quarto, sem custos, até ganhar algum dinheiro. Então, quando dissera que ia mudar-se ao fim de umas semanas, Fiona rogara-lhe que ficasse, pois divertia-se muito com ela. Ao longo dos sete anos que tinham vivido juntas, tinham-se tornado bastante íntimas e contado confidências. Fiona entendia porque não gostava dos homens, mas, mesmo assim, não perdera a esperança de que, algum dia, conhecesse um homem em quem pudesse confiar… e que pudesse amar.

      – Tinha-te contado que o Kenneth Jacobs desistiu de ser o nosso leiloeiro no último momento? – perguntou Alice, enquanto Fiona lhe punha perfume. – Alegou uma constipação.

      – A sério? O que fizeste?

      – Fiquei em pânico.

      – Tu? – Fiona riu-se. – Em pânico? Impossível! Tu terás sabido o que fazer.

      Divertia-se com essa fé cega de Fiona na sua capacidade organizativa, embora, claro, qualquer pessoa parecesse fria e serena em comparação com Fiona, que era bastante despistada e muito desordenada. Às vezes, pensava que Fiona lhe pedira para ficar porque ela fazia quase todas as tarefas da casa.

      – Tive sorte. O Kenneth Jacobs pôs-me em contacto com uma mulher encantadora da Barker Books e, antes de dar por isso, o dono da editora ligou-me e ofereceu-se para substituir o senhor Jacobs.

      – Que sorte!

      – Não consegues imaginar. Tem uma voz incrível. Vai ser um leiloeiro fantástico. Não me ponhas mais perfume, Fiona. Tenho de ir buscar as minhas coisas. Combinei encontrar-me com o senhor Barker-Whittle às sete no vestíbulo do hotel.

      – O quê?

      – Disse…

      – Sei o que disseste – interrompeu Fiona. – Suponho que não te refiras ao Jeremy Barker-Whittle.

      – Sim – respondeu Alice. – Foi assim que se apresentou. Porquê? O que se passa?

      – Nada, mas é um dos playboys com pior reputação de Londres. É bonito e tem mais encanto do que um homem devia ter o direito de ter. A minha irmã saiu com ele durante cinco minutos e não parou de o elogiar. Diz que, depois de ter estado com o Jeremy, nenhum outro homem pode comparar-se. Nunca te teria emprestado um vestido tão sensual se soubesse ao lado de quem ias estar sentada esta noite!

      Embora ficasse atordoada com a notícia, Alice sentiu-se incomodada por Fiona pensar que podia ser vítima dos encantos discutíveis de um playboy. Tinha de a conhecer melhor do que isso. Uma vez avisada, o senhor Barker-Whittle não tinha a mínima possibilidade de a enganar, por muito bonito e atraente que fosse…

      – Mais vale prevenir do que remediar, Fiona. Agora que sei, estarei preparada contra qualquer tentativa de me seduzir. Embora devesses saber melhor do que ninguém que sou imune aos homens assim.

      Alice soube que estava a mentir enquanto o dizia. Sempre achara que os libertinos eram muito atraentes. Saíra com um uma vez e pagara caro. Embora não estivesse totalmente imunizada, esperava ter aprendido a lição. No entanto, era uma pena que o seu leiloeiro substituto fosse sozinho. Se Jeremy Barker-Whittle achava que ia entretê-lo depois do leilão, estava muito enganado.

      – No entanto, não entendo – continuou Fiona. – O Jeremy é banqueiro, não editor.

      – Agora, é editor – replicou Alice.

      – Que estranho… Embora suponha que possa fazer o que quiser. A família Barker-Whittle é rica. Passaram a vida a trabalhar nos bancos comerciais.

      – Sabes muito sobre eles…

      – Sim, bom, como te disse, a Melody esteve obcecada com ele durante uma temporada e descobriu tudo o que pôde.

      – Há mais alguma coisa que deva saber antes de o ver esta noite? – perguntou Alice.

      – Na verdade, não. Simplesmente, não acredites em nada do que esse descarado diga e nem penses em sair com ele.

      Alice quase se riu. Como se ele quisesse…

      – Deve ser o meu táxi – comentou Alice, quando o telemóvel tocou. – Diverte-te esta noite, Fiona, e não te preocupes comigo, não vai acontecer-me nada. O Jeremy Barker-Whittle não tem nenhuma possibilidade.

      Jeremy Barker-Whittle já estava sentado num sofá e falava ao telemóvel. Soube que era ele, ainda que houvesse mais homens no vestíbulo. No entanto, nenhum deles usava um smoking preto ou encaixava com a imagem que tinha do playboy com pior reputação de Londres. Enquanto Fiona falava dele, ela imaginara um dos seus atores favoritos que se tornara famoso a fazer papéis de rapazes maus e ricos. Jeremy Barker-Whittle era quase idêntico. Era muito bonito e a elegância do seu rosto e da sua roupa não podia ser uma imitação. Era evidentemente rico e era um desses homens invejado por outros homens e desejado pelas mulheres.

      Não o desejava, mas o coração acelerara. Respirou fundo e alegrou-se por ele ainda não a ter visto. Isso dava-lhe tempo para ordenar as ideias e organizar as defesas… e para o observar calmamente. O cabelo, castanho-claro, era ligeiramente ondulado, quase lhe chegava até à gola do casaco e uma madeixa caía de uma forma muito sensual por cima

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