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contratara-a pouco depois de comprar a editora. Madge impressionara-o com a sua atitude direta e os seus conhecimentos do setor editorial. Apreciava-a imenso e era um sentimento recíproco.

      – Temos um problema – comunicou ela, sem rodeios. – O Kenneth Jacobs não pode ser o leiloeiro no leilão de beneficência desta noite. Tem uma constipação tremenda. Quase não entendia o que dizia ao telefone.

      – Entendo…

      Ainda que não entendesse nada. Sabia quem Kenneth Jacobs era, naturalmente. Como podia não o conhecer, se era o único autor que chegara com a editora e que vendia muitos livros? Kenneth escrevia uns romances policiais aterradores que tinham imensos seguidores, mas os seus livros para mais velhos não se tinham comercializado adequadamente. Kenneth, apesar de saber, não abandonara o editor que lhe dera a primeira oportunidade.

      – Que leilão? – perguntou Jeremy.

      – Sinceramente, ainda bem que me tens para organizar as coisas. Não é fácil trabalhar para um homem que se esquece de tudo.

      – Posso dizer-te que tenho uma memória fotográfica – replicou Jeremy.

      – Então, no futuro, vou fotografar tudo em vez de to dizer…

      Jeremy costumava gostar do sentido de humor cáustico de Madge, mas, daquela vez, não lhe restava muita paciência.

      – Parece-me muito bem, Madge, mas, neste caso, agradeceria se voltasses a explicar-me o assunto do leilão de beneficência e se me disseres o que posso fazer para resolver o problema de o Kenneth estar constipado.

      Madge deixou escapar uns dos seus suspiros de desespero.

      – Eu teria dito que as palavras «leilão de beneficência» não precisavam de explicação, mas isso é outro assunto. Depois do último jantar de beneficência a que foste, pediste-me para não aceitar mais nenhum convite para essas coisas. Disseste que não querias ir a outros desses jantares onde a comida é ínfima e os oradores são muito aborrecidos. Disseste que gostavas de fazer doações para o que fosse preciso, mas que tinhas deixado de ser masoquista quando deixaste de trabalhar para o teu pai. Disseste que…

      – Muito bem – interrompeu Jeremy. – Compreendo, mas foi um jantar seguido de discursos, não algo tão interessante como um leilão. Agora, se não te importares, conta-me os detalhes importantes e esquece a lição de história antiga.

      – Está bem. Vai celebrar-se na sala de baile do Hotel Chelsea e é para angariar fundos para os refúgios de mulheres nos bairros marginalizados. Há um jantar antes do leilão e garantiram-me que a comida será de primeira e que se angariará muito dinheiro porque os bilhetes são muito caros. Imagino que esteja cheio da flor e nata da sociedade. O Kenneth ia ser o leiloeiro e o prémio para o vencedor era que alguma das personagens do seu próximo romance tivesse o seu nome. Naturalmente, outros autores já o tinham feito, mas não o Kenneth. O pobre está desolado e preocupado por ter abandonado a Alice, a rapariga que organizou tudo. Por isso, disse-lhe que o substituirias.

      – Disseste isso? – perguntou Jeremy.

      – Estás a brincar, não estás?

      Jeremy sorriu e ela corou com alívio. Adorava Jeremy e invejava a sua mãe por ter um filho tão carinhoso e maravilhoso. Podia ser diabólico com as mulheres, mas era um bom homem e um patrão fantástico. Era inteligente, sensato e incrivelmente sensível. Tinha a certeza de que se apaixonaria algum dia e assentaria.

      – És um brincalhão. Queres que ligue à Alice para lhe dizer que serás o leiloeiro ou preferes fazê-lo?

      – O que achas, Madge?

      Essa era outra das coisas de que gostava no patrão. Perguntava-lhe muitas vezes a opinião e costumava tê-la em conta.

      – Acho que devias ligar-lhe. Parecia bastante nervosa e isso vai tranquilizá-la. Tenho a sensação de que é nova nesse trabalho.

      – Muito bem. Então, dá-me o número de telefone.

      Naturalmente, Madge já o tinha à mão.

      – És muito hábil – comentou ele, enquanto ela lho dava.

      – E tu és encantador – replicou ela, sorrindo e virando-se para se ir embora.

      Jeremy também sorriu enquanto marcava o número de Alice.

      – Alice Waterhouse. – Ela atendeu imediatamente.

      O seu tom era enérgico e eficiente e o sotaque denunciava que fora educada numa dessas escolas privadas para meninas que acabavam sempre por trabalhar como relações públicas ou a angariar fundos para causas de beneficência, antes de se casarem com alguém adequado para a sua classe.

      Ele não era muito entusiasta das raparigas com uma origem privilegiada, algo bastante hipócrita, dada a sua origem. Houvera uma época em que nada importava. Se a rapariga fosse bonita e estivesse disposta, ia para a cama com ela sem pensar duas vezes. No entanto, naquele momento, parecia-lhe que as raparigas que tinham nascido numa família rica eram muito aborrecidas, dentro e fora da cama. Talvez fosse a atração dos opostos, mas parecia-lhe que as raparigas que tinham de trabalhar para ganhar a vida, que não contavam com o dinheiro do papá, tinham algo muito atraente.

      Imaginava que Alice Waterhouse era uma dessas meninas do papá.

      – Jeremy Barker-Whittle – apresentou-se ele.

      Sabia muito bem que o seu tom não era snobe, mas que a sua voz era grave, profunda e imponente. Alex e Sergio diziam sempre que poderia ganhar uma fortuna na rádio. As pessoas que o conheciam por telefone costumavam ficar surpreendidas quando o viam em carne e osso. Evidentemente, esperavam alguém mais velho e como um cantor de ópera.

      Algumas vezes, as pessoas enganavam-se e questionou-se se se enganara com Alice Waterhouse, mas decidiu que não.

      – Sou o editor dos livros do Kenneth Jacobs – continuou ele. – Acho que vou ser o seu leiloeiro esta noite…

      – Ah… Fantástico. – Alice não foi muito efusiva, mas estava claramente aliviada. – A Madge disse-me que poderia sê-lo. Tenho de confessar que estava a começar a sentir pânico. Muito obrigada.

      Contra todo o prognóstico, Jeremy teve de reconhecer que sentiu uma certa simpatia por ela.

      – Será um prazer, sinceramente.

      – Pode trazer uma acompanhante, se desejar – ofereceu Alice. – Tinha atribuído dois lugares ao senhor Jacobs na mesa principal, mas disse-me que não tinha acompanhante e eu ia sentar-me com ele.

      – Eu também vou sozinho – reconheceu Jeremy. – Eu também sou um solteirão resmungão. Talvez possa dar-me a honra de se sentar ao meu lado durante o jantar desta noite…

      – Será um prazer.

      – Suponho que seja de etiqueta.

      – Sim. É um… inconveniente?

      – Não. Não é inconveniente.

      Se havia algo em que Jeremy nunca falhava, era em ir perfeitamente vestido a todos os eventos sociais. Adorava a moda e preocupava-se com a sua imagem. O seu guarda-roupa tinha uma variedade imensa de roupas.

      Quando ela começou a agradecer-lhe outra vez, interrompeu-a, perguntou-lhe onde e quando podiam encontrar-se naquela noite, despediu-se e chamou Madge.

      Ela espreitou imediatamente pela porta.

      – Tudo resolvido? – perguntou ela.

      – Resolvido, mas diz-me uma coisa. Viste a tal Alice?

      – Não, só falei com ela ao telefone.

      – E em que agência de relações públicas trabalha?

      – Ela… Eu… – Madge hesitou com perplexidade. – Não te disse? Ela trabalha como assistente social em alguns refúgios para mulheres.

      –

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