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parte. Ele pega o biscoito e, silenciosamente, o coloca em seu bolso, claro, vai guardá-lo para mais tarde. Não sei de onde ele tira tanta força. Eu enfraqueço só de sentir o cheiro de biscoitos de chocolate. Sei que eu deveria racionar comida também, mas não consigo. Mordo um pedaço pequeno, decidida a guardá-lo para mais tarde – mas é tão delicioso que não consigo me conter – eu o devoro inteiro, deixo apenas um pedacinho, o qual reservo para Penélope.

      A comida me faz sentir tão bem. O açúcar sobe a minha cabeça e atravessa meu corpo, gostaria de poder comer mais uma dúzia. Respiro fundo quando meu estômago reclama, tentando me controlar.

      O rio começa a se estreitar, as margens se aproximam uma da outra à medida que rio serpenteia. Estamos perto de terra firme e fico bem atenta, analisando a margem, à procura de qualquer sinal de perigo. Quando fazemos uma curva, olho para minha esquerda e vejo, no alto de um penhasco, as ruínas de uma antiga fortificação, agora bombardeada. Fico chocada quanto percebo o que era antes.

      “A Academia Militar,” Logan fala. Ele deve ter notado ao mesmo tempo que eu.

      É impactante ver que este bastião da força americana é agora apenas uma pilha de destroços, seu mastro da bandeira está retorcido, pendurado sobre o Hudson. Quase nada é igual ao que já foi antes.

      “O que é isso?” Bree pergunta com os dentes batendo. Ela e Rose vieram para a frente do barco, ao meu lado, Bree observa a fortificação, seguindo meu olhar. Não quero falar para ela.

      “Não é nada, querida,” eu respondo. “Só uma ruína.”

      Coloco meu braço em volta dela e a aproximo de mim, envolvo Rose com meu outro braço e também a deixo mais perto. Tento esquentá-las, esfregando seus ombros o melhor que posso.

      “Quando nós iremos para casa?” Rose pergunta.

      Logan e eu trocamos olhares. Eu não tenho ideia de como responder.

      “Não iremos para casa,” eu digo a Rose, o mais gentilmente que consigo, “mas estamos à procura de um novo lar.”

      “Nós vamos passar por nossa antiga casa?” Bree pergunta.

      Eu hesito. “Sim,” eu respondo.

      “Mas não vamos ficar por lá de novo, certo?” ela indaga.

      “Certo,” eu falo. “É muito perigoso morar lá agora.”

      “Não quero morar outra vez naquele lugar,” ela fala. “Odiava este lugar. Mas não podemos simplesmente deixar Sasha lá. Vamos passar por lá e enterrá-la? Você prometeu.”

      Penso na minha discussão com Logan.

      “Você está certa,” eu digo gentilmente. “Eu prometi mesmo e sim, iremos parar.”

      Logan se afasta, claramente irritado.

      “E depois?” Rose pergunta. “Para onde iremos depois?”

      “Continuaremos rio acima,” eu explico. “Até onde ele nos levar.”

      “E onde o rio termina?” ela questiona.

      É uma boa pergunta e eu a interpreto como uma questão mais profunda. Como terminará tudo isso? Com nossa morte? Com nossa sobrevivência? Será que terá fim? Existe algum fim à vista?

      Não tenho a resposta.

      Eu me viro, me ajoelho e olho nos seus olhos. Preciso dar esperança a ela. Algum incentivo para viver.

      “Termina em um lindo lugar,” eu falo. “No lugar para onde vamos, tudo está bem de novo. As ruas são tão limpas que chegam a brilhar e tudo é perfeito e seguro. Há mais gente lá, pessoas amáveis que irão nos acolher e nos proteger. Há comida também, comida de verdade, e você pode comer o tempo inteiro. É o lugar mais lindo que você pode imaginar.”

      Os olhos de Rose se arregalam.

      “É verdade?” ela pergunta.

      Eu aceno que sim com a cabeça. Aos poucos, ela abre um enorme sorriso.

      “Quanto tempo vamos demorar a chegar lá?”

      Eu sorrio. “Não sei, querida.”

      Mas Bree é mais cética que Rose.

      “É verdade mesmo?” ela pergunta, baixinho. “Existe mesmo um lugar assim?”

      “Existe,” eu falo, tentando parecer convincente. “Não é mesmo, Logan?”

      Logan olha para nós, diz que sim a cabeça e logo desvia o olhar. No final das contas, é ele quem acredita no Canadá, acredita que há uma terra prometida. Como ele poderia negar agora?

      O Hudson faz curvas e vai ficando estreito e depois largo de novo. Finalmente, entramos em um território familiar. Passamos por locais que eu conheço, estamos cada vez mais próximos da casa de papai.

      Viramos uma curva e avistamos uma pequena ilha desabitada, apenas um pedaço de rochas sobressalente. Nela, há um farol, sua lâmpada foi estilhaçada há muito tempo, sua estrutura agora não passa de uma fachada.

      Passamos por outra curva e, ao longe, avisto uma ponte que cruzei apenas alguns dias atrás, enquanto perseguia os comerciantes de escravos. Ali, no meio da ponte, posso ver o local da explosão, a enorme cratera, como se uma bola de demolição tivesse sido jogada bem no centro. Lembro-me de quando Ben e eu estávamos de moto, correndo, e quase caímos da ponte. Mal posso acreditar. Estamos quase chegando.

      Isto me faz pensar em Ben, me faz lembrar em como ele salvou minha vida naquele dia. Eu me viro para olhar para ele, que está encarando a água, melancólico.

      “Ben?” Eu chamo.

      Ele olha em minha direção.

      “Lembra-se dessa ponte?”

      Ele se vira para olhar e vejo medo em seus olhos. Ele se lembra.

      Bree me cutuca. “Tudo bem se eu der a Penélope um pouco do meu biscoito?” ela pergunta.

      “Eu também posso?” Rose ecoa.

      “Mas é claro que sim,” eu respondo em voz alta para que Logan ouvir. Ele não é o único que pode mandar aqui e iremos fazer o que quisermos com nossa comida.

      A cachorra, no colo de Rose, se anima, como se entendesse. É incrível. Nunca vi um animalzinho tão esperto.

      Bree se inclina para lhe dar um pedacinho de biscoito, mas eu encosto em sua mão, impedindo-a.

      “Espere,” eu falo. “Se você vai alimentá-la, ela devia ter um nome, não acha?”

      “Mas ela não tem coleira,” Rose diz. “O nome dela pode ser qualquer um.”

      “Ela é nossa cachorrinha agora,” eu falo. “Dê a ela um novo nome.”

      Rose e Bree trocam olhares, animadas.

      “Como deveríamos chamá-la?” Bree pergunta.

      “Que tal Penélope?” Rose sugere.

      “Penélope!” Bree grita. “Adorei.”

      “Eu também gostei,”eu concordo.

      “Penélope!” Rose chama a cachorrinha com um berro.

      Surpreendentemente, a cachorrinha se vira para Rose quando é chamada, como se seu nome fosse Penélope desde o sempre.

      Bree sorri ao dar-lhe um pedaço de seu biscoito. Penélope o pega e o engole de uma só vez. Bree e Rose riem histericamente quando Rose dá o resto de seu biscoito. Ela também o morde e então eu lhe entrego o último pedacinho do meu. Penélope olha para nós, entusiasmada, trêmula, e late três vezes.

      Todas nós rimos. Por um momento, eu quase me esqueço de nossos problemas.

      Mas, então, ao longe, por cima do ombro de Ben, eu avisto alguma coisa.

      “Ali,” eu falo para Logan, me elevando e apontando para nossa esquerda. “É para lá que precisamos ir. Vire aqui.”

      Eu vejo a península onde Ben e eu passamos de

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